Ceará: quase metade dos casos de Covid em maio foi em crianças menores de 5 anos

30,7% dos casos neste mês foram registrados em bebês menores de um ano, conforme o IntegraSUS. Familiares e demais pessoas que convivem com crianças devem reforçar os cuidados

No Ceará, o cenário geral da Covid-19 continua considerado sob controle. No entanto, as crianças têm sido as mais infectadas pelo vírus. Quase metade (49,2%) dos casos confirmados neste mês de maio (até o dia 24), foram em pacientes de até 5 anos, somando 425 diagnósticos. Essa faixa etária é a única ainda não imunizada contra a doença. Familiares e outras pessoas que convivem com crianças nessa idade devem redobrar cuidados e realizar exame em caso de sintomas gripais, dizem especialistas.

Quando consideramos bebês com menos 1 ano, a proporção é mais alarmante. Eles são 30,7% dos casos registrados neste mês: 265. Neste mês, uma criança menor de 2 anos morreu em decorrência da infecção. Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretária da Saúde do Estado (Sesa), atualizada até às 9h31min dessa quarta-feira, 26. 

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A incidência de casos em crianças de até 2 anos é de 94,5, conforme o acompanhamento. O segundo maior índice é na faixa etária de 3 e 4 anos, com 20,6. Em seguida, vem a outra extremidade da pirâmide etária, com idosos de mais de 80 anos, idade na qual a incidência de casos é de 13,8. Em todos os outros recortes de idade esse indicador é menor do que dez. 

O que tem causado aumento de casos de Covid em crianças?

Robério Leite, infectologista pediátrico e professor adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que as crianças "representam o grupo mais desprotegido e que, neste momento, passou a ter mais exposição com a volta ao ensino presencial e fim da obrigatoriedade do uso de máscaras e das medidas de distanciamento social".

"A população maior de 5 anos está vacinada, principalmente idosos e adultos. Maioria está com mais de uma dose. Estando protegida, vai adoecer menos e quando adoece é com sinais e sintomas mais leves", lembra Jocileide Sales Campos, professora de Medicina da Unichristus, coordenadora de políticas públicas de saúde da criança da Sociedade Cearense de Pediatria, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Regional Ceará.

Um dos fatores que influencia na maior incidência de infecção em bebês, conforme Ricristhi Gonçalves Secretária Executiva de Vigilância e Regulação em Saúde, é a maior suscetibilidade nos primeiros meses de vida. "Um ano representa muito em termos de desenvolvimento do sistema imunológico, e isso poderia ajudar a explicar", corrobora o infectologista sobre o maior número de casos em bebês de até 12 meses. 

Outro aspecto que pode interferir nesse cenário é o maior número de testagem por causa do aumento de outras síndromes respiratórias em crianças nas últimas semanas, que lotou hospitais. Além disso, após o fim da terceira onda, como o número de casos em adultos reduziu muito, o de crianças proporcionalmente se sobressai, associa Ricristhi.

Cuidados

Os especialistas alertam que pessoas que convivem com as crianças devem redobrar cuidados. A parcela da população já imunizada tende a ter casos mais leves e, na maioria das vezes, não tem procurado atendimento, tampouco exame para diagnóstico de Covid-19. "A qualquer sintoma, continue desconfiando de Covid", destaca a secretária executiva. 

A vacinação permanece como medida de enfrentamento essencial. Robério lista medidas de prevenção: "Identificar casos em adultos e outras crianças maiores, testando e tomando medidas de distanciamento e de uso de máscaras, tomando todas as doses das vacinas e vacinando os filhos para a Covid-19 e para as outras vacinas do calendário, pois muitas estão atrasadas e oferecem proteção para doenças que podem agravar um quadro de Covid-19, por exemplo".

A CoronaVac já solicitou aprovação para imunização de crianças de 3 a 5 anos. "A gente aguarda a análise para avaliar a eficácia e também os eventos adversos. Isso precisa ser muito bem acompanhado na população infantil para que possa liberar. Provavelmente vai ser liberada. Outras vacinas já solicitaram também. Em tese, a gente não espera evento adverso da CoronaVac porque ela é feita com vírus morto", detalha Jocileide.

Riscos 

A secretária Ricristhi afirma que não tem sido percebida tanta gravidade em crianças, mas pondera: "Há risco." "Houve óbitos. A gente não sabe as condições dessas crianças, se tiveram outras condições, como uma pneumonia bacteriana associada, mas sabemos que a Covid-19 pode debilitar e deixar suscetível a outras doenças", detalha.

Robério Leite frisa que, "mesmo que o risco de complicações da Covid-19 seja menor nas crianças, um percentual pequeno de uma quantidade muito grande de infecções resultará num número significativo de casos com evolução complicada e pressão sobre o sistema de saúde". Com um aumento, o sistema pode não dar conta da demanda, "sobretudo pelo número muito reduzido de leitos pediátricos, principalmente os de alta complexidade, como UTIs Pediátricas".

Com o recente aumento casos de infecção respiratória, a fila de regulação de leitos de UTI Neonatal foi pressionada. Segundo a Sesa, "foram criados 12 novos leitos no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), solicitadas mais vagas nas demais unidades com alas desse perfil, além de tentativa de contratualizações de leitos de unidades privadas". Com a suspensão de cirurgias eletivas, transferência de pacientes com outras patologias para outros  hospitais, o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) ofertou 90 novos leitos para as crianças e adolescentes. 

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