Na Praia do Futuro, vendedores ambulantes lamentam dificuldades durante a pandemia

Sem a movimentação típica dos feriados e fins de semana, ambulantes enfrentam necessidades extremas

A dor que acomete muitas famílias nos hospitais, ao verem entes queridos perdendo a vida para o coronavírus, também repercute longe dos corredores dos centros de assistência médica. A gravidade da pandemia, que já ceifou mais de 16 mil vidas no Ceará, é reconhecida por aqueles que não veem outra escolha, a não ser sair de casa e enfrentar o inimigo invisível e letal, tudo para conseguir sobreviver.

"Hoje, eu não estou vendendo nada, porque a Polícia não deixa. É uma situação séria, a gente sabe que a doença existe. É muito difícil para a gente, nós temos família. Sou pai, saio para trabalhar e quando chego em casa, o filho pede uma coisa e não tenho como dar. Eu vivo do dia a dia, quando a gente não pode trabalhar, fica complicado. A gente é pai, é muito difícil passar por isso, o seu filho te pedir algo que você não tem como dar, é dolorido", lamenta um dos ambulantes na Praia do Futuro, que prefere não se identificar por medo de ter seu material de trabalho recolhido.

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Na faixa de areia, as barracas fechadas não impediram a ida de banhistas ao mar durante a manhã deste dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. Apesar da movimentação acima do que se espera para o período de isolamento social, as pessoas que se arriscaram a sair de casa durante o feriado ainda representam um público muito abaixo do que se via em outros feriados, na orla de Fortaleza, antes da pandemia.

O cenário preocupa o ambulante Fábio Conceição, que trabalha há dez anos na praia. Ele revela que tenta driblar as medidas impostas para tentar trabalhar.

"Trabalho vendendo água de coco, cerveja, água mineral, peixe, baião de dois, somos todos praieiros. Desde que começou o decreto nós estamos em casa, esse benefício do governo não dá nem para comprar uma cesta básica decente. Nós vivemos desse jeito que você está vendo, queremos vender alguma coisa, mas denunciam, a Polícia vem e coloca a gente para casa. Retornamos depois, mas não tem mais ninguém na praia", lamenta.

Fábio conta que já não sabe o que fazer caso as restrições de convivência em espaços públicos perdurem por mais algumas semanas. Ele lamenta a falta de união entre ambulantes e barraqueiros.

"Eu pago aluguel, sempre tenho que comprar comida e vou vivendo assim. Os barraqueiros estão na mesma situação, mas não são unidos com a gente, era para ter essa união, e irmos juntos protestar na Prefeitura. Precisamos denunciar isso, mostrar a situação que estamos passando. Minha vendas estão quase zeradas, acho que não chega nem a 1% do que era. Estou trabalhando só com 30 cocos para o dia todo, a cerveja que eu tenho aqui foram as que os clientes trouxeram e nos dão R$ 5 ou R$ 10 para gelar. Antes eu vendia mais de 120 cocos, até uns 150 em um feriado ou fim de semana" conta o ambulante.

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Fábio explica que, mesmo diante das dificuldades, conseguiu encontrar uma forma de ajudar um amigo, também ambulante, diante das incertezas impostas pela pandemia.

"Ele aqui trabalha vendendo ostra, mas está sem nada, e hoje está me ajudando. Sabe quanto ele ganha em cada coco que vende? R$ 1, pra ele ganhar R$ 10 tem que vender 10 cocos. Eu dou essa força a ele, porque ele precisa desses R$ 10 para comprar meio quilo de frango para comer. Isso não é mentira da gente, não é querendo fazer apelação não, é a verdade", desabafa.

Em outro ponto da praia, a vendedora de cocos Joana da Silva, 47, carregava um olhar perdido em direção ao mar enquanto explicava a sua situação.

"Eu vendo água de coco, estou há dois meses parada, sem trabalhar e sem ganhar nada. A gente está passando fome, necessidade mesmo, vivemos da beira da praia. Hoje, eu fui obrigada a trabalhar, não tinha nada para dar aos meus filhos. A gente precisa trabalhar, infelizmente é isso. Não querem matar a gente de coronavírus não, querem matar de fome. Eu não recebi o auxílio, tenho filhos e tenho neto, como vou fazer?", questiona.

Joana conta que não tem sido fácil se acostumar com a nova realidade, já que sempre precisou trabalhar para sobreviver.

"Eu trabalhava de quinta a domingo, sempre ganhei meu dinheirinho e fazia minhas compras no mercantil. Agora eu tenho que ficar em casa, isso me deixou doente, com depressão. Perdi um filho nesse período, e ficar perto da praia recarrega minha força. Eu só saí de casa por necessidade mesmo, não tinha mais nada para dar aos meus filhos", finaliza.

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Tentativa de liberação das barracas de praia

No último dia 15 de abril, o vereador Pedro França (Cidadania), empossado no início do mês na Câmara Municipal de Fortaleza, protocolou um ofício solicitando ao Comitê Estadual de Combate à Covid-19 a reabertura das barracas de praia de Fortaleza para funcionarem como restaurantes. Os estabelecimentos não foram incluídos nos últimos decretos de reabertura das atividades econômicas, assinados pelo governador Camilo Santana (PT).

O documento surgiu após reunião com o Secretário de Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, e tem como proposta enquadrar a reabertura das barracas de praia no mesmo formato que a dos restaurantes e bares da Capital, isto é, passando a funcionar de segunda a sexta das 10h às 16 horas. Para o vereador, a ação não ocasionaria mais aglomeração, já que a liberação seria somente para o funcionamento como restaurante, permanecendo proibida a utilização da faixa de areia.

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