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Dois a cada três profissionais de saúde são contra medicamentos sem comprovação para Covid-19

Pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas acompanham a situação de médicos, enfermeiros e agentes comunitários em meio a pandemia desde abril. Na terceira fase dos estudos, divulgada nesta terça-feira, questionaram também as desigualdades enfrentadas pelos profissionais

Dois terços dos profissionais de saúde pública brasileiros são contra o uso de fármacos sem comprovação no tratamento da Covid-19. Também dois em cada três afirmam que um tratamento não consensual não deve ser empregado, mesmo que seja solicitado pelo paciente. Os dados são da pesquisa “A pandemia de Covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil”, organizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB FGV-EAESP) em parceria com a Fiocruz e com a Rede Covid-19 Humanidades e divulgada na manhã desta terça-feira, 10.

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No estudo, 1.520 profissionais da saúde pública no Brasil responderam a um questionário online entre os dias 15 de setembro e 15 de outubro de 2020. Dentre os respondentes, 66,2% defendem que drogas só devem ser usadas com comprovação de eficácia. Ao mesmo tempo, 33,8% consideram que devem ser utilizadas “mesmo que não haja comprovação da eficácia desses medicamentos já que devemos fazer tudo o que é possível pelo(a) usuário(a)”.

Os profissionais também foram questionados sobre a conduta diante de paciente diagnosticado com Covid-19 que solicita um tratamento que não é consensual na Ciência, mas muito falado na internet. Para 32%, o paciente deve ter acesso ao tratamento, afinal ele tem o direito de escolha. Já para 68%, a palavra final deve ser do profissionais de saúde e o tratamento não deve ser dado.

Desigualdades na linha de frente

 

Outro ponto investigado foi sobre mecanismos de desigualdades que são reproduzidos e configuram cenários diferentes de atuação para médicos, enfermeiros e agentes comunitários. Os profissionais foram questionados se suas identificações de gênero e de raça afetam a prática laboral. No caso da identificação de gênero, mulheres e homens trans, pessoas não binárias e travestis são os que mais reportaram, proporcionalmente, serem afetadas.

 

Para 38,2% desses profissionais seu trabalho é afetado de alguma forma por sua identidade. Já para 68,5% das mulheres cisgênero (cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento), sua identificação afeta em nada a prática laboral. Entre os homens cisgênero, essa taxa é de 77,1%.

No caso de raça, chama atenção que respondentes que se autodeclararam enquanto pretos, amarelos e indígenas são os que mais sentem que sua raça/etnia afeta o cotidiano no trabalho. Os indígenas são os que sofrem os impactos: para 29%, sua etnia afeta muito a prática laboral; para 14%, afeta razoavelmente; para 14%, afeta pouco e para 43% não afeta.

O estudo

 

A pesquisa Survey, método utilizado no estudo, é um tipo de investigação quantitativa a fim de coletar dados e informações a partir de características e opiniões de grupos de indivíduos, geralmente por meio de um questionário estruturado. Os resultados da pesquisa realizada pela FGV são frutos de uma amostra coletada não probabilística, a partir de respostas voluntárias a um questionário de 53 perguntas – o que não permite fazer generalizações para todo o universo de profissionais de saúde do País.

Os pesquisadores explicam que a escolha metodológica se deveu às dificuldades impostas pela pandemia e pela urgência em se obter informações sobre a situação dos profissionais da saúde. “Um esforço adotado, a despeito do caráter não probabilístico da amostra, foi a tentativa de aproximação proporcional das informações da amostra ao universo, a partir da desagregação tanto por região como por profissão e gênero/raça. Tal medida foi adotada como um controle de credibilidade dos dados”, explicam no artigo. “Como resultado desse procedimento, há aproximação, em termos percentuais, não probabilísticos, da amostra obtida com uma amostra coletada probabilisticamente.”

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