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Para infectologistas, opção de aulas remotas mesmo com retorno presencial do ensino infantil dá mais segurança

Retorno parcial de escolas em Fortaleza, somente da rede particular, foi anunciado pelo governador Camilo Santana (PT) nesta sexta-feira, 28
21:48 | Ago. 28, 2020
Autor Matheus Facundo
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Matheus Facundo Repórter do portal O POVO Online
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Tipo Notícia

Atualizada às 22h28min

A partir do dia 1º de setembro, as escolas de educação infantil da rede particular de Fortaleza poderão retomar as atividades presenciais com 30% de presença de crianças. Decisão anunciada pelo governador Camilo Santana (PT) nesta sexta-feira, 28, institui a obrigação de dar aos pais a opção de manter o ensino remoto, fato que, de acordo com infectologistas, é essencial para o retorno, tanto pelas particularidades de cada família quanto pelos protocolos sanitários contra a disseminação da Covid-19.

De acordo com Érico Arruda, infectologista do Hospital São José (HSJ), a possibilidade de escolha da modalidade de ensino neste momento pode garantir maior segurança quanto à situação da pandemia para os pais e responsáveis. "Foi uma decisão muito acertada, tem pais que estão muito preocupados e vão preferir que os filhos não voltem agora para a escola. Dar a opção é muito importante porque não temos segurança ainda de que isso não possa incorrer em um aumento do número de casos", pontua o médico.

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Outro fator positivo do teor opcional do retorno é, para o infectologista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Keny Colares, evitar salas de aula mais lotadas. Isto, porém, acarreta em desafios para as instituições. "Se tem quem prefere ficar remotamente, as salas de aula ficarão mais vazias, o que pode ser benéfico para a evitar a contaminação pela Covid-19. Claro que para a escola conseguir viabilizar os dois modos de ensino ao mesmo tempo será um desafio, mas só vamos saber quando começar", comenta.

A decisão sobre os estudantes das outras séries, do ensino fundamental e médio, ficou para as semanas seguintes. Para o epidemiologista Marcelo Gurgel, professor e membro do GT de Enfrentamento à Covid-19 da Universidade Estadual do Ceará (Uece) a justificativa epidemiológica da volta do ensino infantil primeiro não ficou clara. Ele atribui a questão à necessidade econômica do setor. "Muitas escolas de ensino infantil fecharam ou tiveram redução de alunos. Porque estão na faixa em que a matrícula não é compulsória", pontua.

Keny Colares pondera que em todo processo de flexibilização e retorno de atividades econômicas há o risco de uma nova onda de contaminação, porém, por ser uma experiência nova no Estado, as implicações do processo no âmbito da saúde serão avaliadas conforme acontece a retomada. A escolha de começar pelas crianças, na visão dele, tem "suas vantagens e desvantagens".

"Uma das dificuldades de começar pelos mais jovens é justamente fazer com que eles obedeçam às normas sanitárias mais rigorosas. Mas de todo jeito sempre há um risco. Há dúvidas na literatura ainda em relação à transmissão do vírus por crianças, alguns trabalhados sugerem que elas têm uma menor transmissibilidade, enquanto outros não concordam. A decisão do Governo deve ter levado em conta todos os fatores de risco", declara.

Estrutura

Com o anúncio da volta parcial da rede particular, o cenário para a rede pública de ensino ainda é incerto. Para o epidemiologista Érico Arruda, a decisão do Governo do Estado pode ter sido apoiada nos fatores de estrutura para receber alunos. E isto deve ser um fator de ponderação.

"Do ponto de vista epidemiológico, as escolas particulares acabam sendo um cenário onde há um pouco mais de estrutura para monitorar o retorno. Elas têm melhor condição de garantir a higienização, salas mais arejadas. E isso é um conflito. É preciso colocar na balança e olhar para os alunos da escola pública, que acabam ficando com a escolarização mais prejudicada nesse momento", comenta. Segundo o especialista, a questão das escolas trata-se de uma "situação delicada", onde não há experiência prévia: "É natural que se tenha situações inusitadas".

Entidades que representam profissionais da educação são contra o retorno presencial, justificando que abertura das escolas pode contribuir para uma segunda onda de contaminação do vírus no Ceará. O Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc) entregou, nesta sexta-feira, 28, ofício à Secretaria da Educação (Seduc) solicitando o não retorno das aulas presenciais no Estado.

As escolas particulares têm feito pressão pela reabertura. Na semana passada, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE) realizou carreata para pedir retorno das aulas presenciais. A entidade defende que a rede privada está preparada para o retorno desde julho.

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