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Especialistas alertam para perigo de aglomerações em Fortaleza

Fluxo de aglomerações tem aumentado na Capital

No domingo que passou, 26 de julho, completaram-se cinco meses do primeiro caso de Covid-19 oficialmente registrado no Brasil. Foi também dia em que o País marcou 87.004 vidas perdidas pela pandemia, segundo o Ministério da Saúde. Dessas, 7.496 foram no Ceará. Os números crescem dia após dia nas cinco regiões brasileiras. Ao mesmo tempo, ontem, também foi dia de ir à Praia do Crush para vários fortalezenses, boa parte com aglomerações e pessoas descumprindo o uso obrigatório de máscara.

“O fluxo tem aumentado especialmente nos últimos 15 dias, culminando neste fim de semana. A impressão era de uma ocupação maior do que era comum antes da pandemia”, relata Liduína Rocha, obstetra e moradora da Praia de Iracema. Médica atuando na linha de frente do combate ao vírus, Liduína fala sobre a tristeza e preocupação em ver informações falsas circulando pela internet de medicamentos que curam e motivando as pessoas a saírem de casa.

De acordo com ela, a maioria das pessoas na Praia do Crush era de jovens em grupos e sem máscaras. “Ver muitos jovens agrupados em pontos de ônibus foi a cena angustiante deste domingo. Talvez a sensação de não fazer parte de grupos de risco explique em parte esse comportamento, mas é preciso lembrar que tivemos óbitos pela Covid em todas as faixas etárias”, diz.

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"As pessoas precisam entender que a pandemia não terminou", alerta especialista

O psiquiatra Urico Gadelha afirma que a flexibilização, juntamente com um discurso considerado frágil por ele, de autoridades, sobre a seriedade da pandemia, abriu uma margem para as pessoas se aglomerarem. “Os jovens têm um pensamento chamado raciocínio onipotente. Mesmo dimensionando o perigo, eles pensam que nada vai acontecer a eles. Eles se excluem do risco”, explica.

Por meio desse “pensamento mágico”, tendência natural principalmente dos mais novos, as pessoas se convencem de que estão seguras. “Não é um raciocínio de ‘dane-se’, mas é uma condição ufana na presença de uma informação não ressaltada”, reforça o psiquiatra.

O profissional compreende que faltou uma “ênfase maior” dos perigos da Covid-19, principalmente por parte de autoridades, como o Ministério da Saúde.  Afinal, o fato de o Ceará ter diminuído a curva epidemiológica e dar dados animadores, principalmente na Capital, não significa que a pandemia acabou. “As autoridades esquecem de dizer que o risco continua o mesmo. [Mas] chegou às pessoas de que o risco passou, que ele quase não existe. E nós temos uma tendência a acreditar naquilo que desejamos. Quem produz fake news entende bem disso”, analisa.

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Ênfase

Na opinião do especialista, falta uma campanha mais incisiva e repetitiva sobre o cenário pandêmico atual. “Uma coisa que diga: avançamos, mas pelo seu comportamento, conduta e respeito nós poderemos avançar cada vez mais ou voltar pra estaca zero”, sugere. “Ficou tudo no espírito de comemoração, nós somos o estado que mais avançou. Quê isso?”

Sem um discurso do tipo, o psiquiatra pontua que a tendência será a de aglomerações. “É muito preocupante ver a ausência de políticas públicas coordenadas pelo Ministério da Saúde (MS) que incentivem os cuidados pessoais nesse contexto. As imagens e falas que minimizam ou banalizam essa dura realidade, quando vem dessa esfera, transmitem a ideia de que não há problema em se expor, em expor as outras pessoas”, opina a obstetra Liduína.

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Em nota, o Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS, destaca a importância de cobrar “apoio real e efetivo” do Governo Federal, para que mais pessoas tenham “o direito a ficar em casa”. Também reforça o uso de máscaras e a manutenção da distância mínima de um metro e meio de outras pessoas quando for necessário sair de casa. “Ou cada pessoa age com responsabilidade e prevenção, valorizando a própria saúde e a dos outros, ou teremos de lidar com uma segunda onda da Covid-19 na capital cearense, que poderá sobrecarregar o sistema de saúde e custar muitas vidas”, escreve o Coletivo.

Há uma semana, a enfermeira infectologista Lúcia Duarte afirmou que uma segunda onda em Fortaleza culminaria no colapso do sistema de saúde. Isso porque o novo coronavírus está avançando no interior do Ceará e, quando as unidades de saúde do interior e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) não suportam a quantidade de casos, os pacientes são enviados para a Capital.

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