Bancos se comprometem a manter quarentena e 230 mil bancários continuam trabalho em casa
Bancários estavam apreensivos devido à intenção de Bolsonaro de editar decreto para o fim do isolamento; o retorno ao trabalho era visto como uma exposição ao risco de contágioO Comando Nacional dos Bancários cobrou prorrogação da quarentena para mais de 230 mil bancários que trabalham em regime de home office e fazem parte do grupo mais vulnerável ao coronavírus. A reivindicação surge diante da ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro de editar decreto obrigando o fim do isolamento. Em videoconferência realizada entre a entidade e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), nesta segunda-feira, 30, o compromisso dos bancos de manter a quarentena foi assumido.
De acordo com a coordenadora do Comando, Ivone Silva, muitos bancários estavam apreensivos para saber se seria mantido o período de isolamento. “Eles buscam saber se terão que voltar ao trabalho em suas agências e departamentos; estão com medo de ficarem expostos ao vírus e serem contagiados”, afirmou Ivone. Segundo ela, o mês de abril é um momento crítico, pois há maior demanda pelo atendimento presencial nas agências devido ao pagamento do benefício da Previdência.
Ivone explicou que a apreensão também se deve à ameaça feita pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, de que editaria um decreto obrigando o retorno ao trabalho. Para a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, Bolsonaro ter ido às ruas defender o fim do isolamento social é uma irresponsabilidade. “O Bolsonaro faz mal à saúde pública”, disse a presidente, que é também uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
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Enfrentamento ao coronavírus
A Febraban informou que cerca de 2,2 mil agências foram fechadas em todo o Brasil, como medida para evitar a propagação do vírus. Também foram fechados postos de atendimento bancários em aeroportos e hospitais e que voltará a negociar o fechamento daqueles que ainda não foram fechados por solicitação de outras categorias.
Também a pedido do Comando dos Bancários, o horário de atendimento ao público foi reduzido no Banco Central, com a proposta de reduzir o tempo de exposição ao vírus e evitar aglomerações em horários de maior movimento nos transportes
A coordenadora Ivone ressaltou que é importante que os bancos implantem um sistema eficiente de controle de acesso às agências e o atendimento presencial exclusivo para clientes agendados. “É preciso ter um comunicado geral informando que serão atendidos presencialmente apenas serviços essenciais e casos de extrema necessidade que tiverem sido previamente agendados”, destacou.
Segundo ela, a medida deve promover maior segurança para o bancário e também para o cliente, que não precisará ficar em filas na parte externa das agências. A representação da categoria também cobrou respostas sobre as reivindicações de enfrentamento à pandemia causada pelo novo coronavírus, que vem sendo apresentadas pelo movimento sindical aos bancos desde o dia 12 de março, por meio de ofícios.
Entre as medidas adotadas, os bancos se comprometeram a realizar campanha na mídia para orientar os clientes sobre o uso dos meios digitais; caixas eletrônicos, e informar sobre os riscos da contaminação pelo coronavírus. Além disso, as agências passaram a disponibilizar álcool gel para os bancários que continuam trabalhando, para que mantenham as atividades essenciais do serviço financeiro e atendam os casos de extrema necessidade.
Conforme a presidente da Contraf-CUT, há medidas que devem ser cumpridas com mais eficiência, para reduzir o risco de contaminação, como é o caso da higienização. “Também existem pessoas com suspeita de contágio, mas gestores não querem afastá-las; descumprindo aquilo que negociamos. Portanto é preciso que todas as unidades sigam as determinações,” cobrou Juvandia. O Comando também cobrou procedimentos para que os clientes mantenham a distância recomendada nas filas, prática que não está sendo realizada em muitos locais.
Suspensão das demissões, das metas e manutenção dos direitos
Na última semana, os bancos privados Itaú e Santander informaram que não irão demitir funcionários enquanto durar a pandemia de coronavírus. A decisão é vista positivamente pela categoria, que cobrou compromisso dos demais bancos privados.
Outra reivindicação da categoria foi a suspensão da cobrança pelo cumprimento de metas. O assunto, contudo, ainda não foi discutido, visto que os bancos priorizam o debate sobre questões que envolvem a saúde dos trabalhadores e clientes. Eles foram orientados pela representação da categoria a agir com razoabilidade.
A presidente da Contraf-CUT lembrou ainda que o governo tem tomado medidas para atender o setor bancário e dar mais liquidez aos bancos, liberando 1,2 trilhão para o setor financeiro. No entanto, ela considera insuficiente as medidas de crédito às pequenas e médias empresas.
“Deu um trabalho enorme para o governo liberar recursos para o povo. Não fosse a pressão e articulação das Centrais Sindicais não teria saído os R$ 600,00. Serão 40 bilhões ao todo, e exclui as micros empresas que tem arrecadação menor que os 360 mil, o que vai deixar muitos sem receber nada. Também defendemos que esses recursos não precisem ser devolvidos, seja a fundo perdido”, pontuou Juvandia.
A presidente da Contraf-CUT cobrou ainda que os bancos não cumpram as medidas previstas nas Medidas Provisórias 927 e 928/2020, do Governo Federal, que autorizam as empresas a negociarem diretamente com os trabalhadores, sem a intermediação dos sindicatos.
“Valorizamos muito nossa mesa de negociações, que é um exemplo de como é importante patrões e trabalhadores decidirem juntos sobre questões que envolvem a classe trabalhadora. É por isso que questionamos a medida provisória do governo e vamos usar todos os recursos para que ela não seja implementada”, concluiu.
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