A mulher da casa abandonada: conheça a história por trás do podcast

Uma das histórias que mais fizeram sucesso em 2022 foi a da mulher da casa abandonada. Saga foi contada em podcast de jornalista e viralizou nas redes sociais. Saiba mais!

A história da paulistana Margarida Bonetti chocou os brasileiros em 2022, especialmente os ouvintes de podcast, conteúdo de áudio que originalmente é veiculado em plataformas de streaming e que lembra os programas de rádio.

A série de episódios criada pelo jornalista Chico Felitti começou viralizando no Tik Tok e ganhou status de lenda urbana, a ponto das pessoas irem até a mansão da mulher para tentar fotografá-la quando ela aparecia na janela, com o rosto besuntado de creme branco.

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Aliás, não se sabe o porquê de Margarida Bonetti passar a pomada ou creme na face. Ela mesma já falou para alguns funcionários dos prédios vizinhos que tem um problema de pele e, por isso, usa o creme. Porém, não há confirmação do fato, já que algumas pessoas já a viram sem o creme e dizem que ela não tem nenhuma lesão aparente na pele.

Para ter ideia da dimensão dessa história e conhecer os detalhes sobre essa mulher está foragida e que está tranquilamente vivendo em Higienópolis, bairro nobre da cidade de São Paulo, continue com a leitura deste texto. Vamos explicar tudo nos mínimos detalhes e você vai entender toda a história sem precisar ouvir todo o programa. Boa leitura!

O que é o caso da mulher da casa abandonada?

Esse caso ficou conhecido nacionalmente desde que o podcast A Mulher da Casa Abandonada, do jornalista Chico Felitti, foi lançado em junho de 2022. Margarida é a personagem principal de uma história que bem poderia estar nas telas de cinema: acusada de escravizar uma mulher nos Estados Unidos, ela fugiu para o Brasil e entrou na lista de criminosos procurados pelo FBI, a polícia federal estadunidense.

Desde então, a mulher vive isolada em uma mansão decadente localizada em um dos bairros mais nobres da capital paulista.

Margarida Bonetti e Renê Bonetti

Margarida e Renê se casaram no Brasil no final da década de 1970 e decidiram se mudar para os Estados Unidos levando com eles a empregada doméstica, uma pessoa humilde e analfabeta, que antes trabalhava na casa dos pais da mulher e havia sido “dada como presente" ao casal, costume que ainda pode ser visto em algumas famílias de classe média e alta no Brasil.

Conforme apuração de Chico Felitti, o engenheiro eletrônico Renê Bonetti é atualmente diretor na Northrop Grumman Corporation, empresa que presta serviços para a Nasa, a agência espacial estadunidense.

Ainda conforme o jornalista, a empresa onde Bonetti trabalha paga 220 mil dólares por ano na vaga ocupada por Renê, valor que equivale a mais de 1 milhão de reais.

Família tradicional de São Paulo

Margarida é neta de um fazendeiro, banqueiro e comerciante do interior de São Paulo que recebeu de D. Pedro II o título de Barão de Bocaina.

Ela também é filha do um cirurgião que atuou como chefe na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e que realizou a primeira videolaparoscopia do Brasil.

Os pais dela também eram conhecidos pela filantropia, tais como a arrecadação de roupas e alimentos para pessoas em situação de rua.

Margarida ficou órfã de pai em 1998, quando ela estava nos Estados Unidos. O casarão em Higienópolis ficou sob os cuidados da mãe. Quando Margarida retornou, passou a dividir o espaço com a mãe, que faleceu em 2011.

Mudança para os Estados Unidos

A mudança para os EUA ocorreu no fim da década de 70 porque Renê recebeu uma proposta de emprego. O casal e a empregada moraram em uma casa em Gaithersburg, nos Estados Unidos, de 1980 a 1990.

Foi lá que os vizinhos perceberam as condições subumanas nas quais a empregada (que prefere não ser identificada) vivia. Depois dela ser incentivada a denunciar o casal, Margarida fugiu para o Brasil.

Qual foi o crime no caso da mulher da casa abandonada?

A Mulher da Casa Abandonada: Margarida Bonetti sem a máscara de creme branco no rosto
A Mulher da Casa Abandonada: Margarida Bonetti sem a máscara de creme branco no rosto (Foto: Reprodução)

Na verdade, o casal não cometeu apenas um crime e sim, uma série de infrações. Veja quais foram a seguir:

Trabalho análogo à escravidão

A caracterização de condição de trabalho análoga à escravidão, crime do qual Margarida é acusada, refere-se, na maioria das situações, ao pagamento de salários inferiores aos valores mínimos exigidos pela regras trabalhistas estadunidenses.

No Brasil, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência, considera-se o “trabalho realizado em condição análoga à de escravo a que resulte das seguintes situações, quer em conjunto, quer isoladamente:

  • A submissão de trabalhador a trabalhos forçados;
  • A submissão de trabalhador a jornada exaustiva;
  • A sujeição de trabalhador a condições degradantes de trabalho;
  • A restrição da locomoção do trabalhador, seja em razão de dívida contraída, seja por meio do cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, ou por qualquer outro meio com o fim de retê-lo no local de trabalho;
  • A vigilância ostensiva no local de trabalho por parte do empregador ou seu preposto, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
  • A posse de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, por parte do empregador ou seu preposto, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

A mulher nega as acusações e alega que a empregada era “uma amiga”. Segundo ela, as denúncias de trabalho análogo à escravidão, que partiram da vizinha Vic Schneider, aconteceram porque esta tinha uma vingança contra os Bonetti.

Agressão

Além do casal não pagar pelo serviço da funcionária e não dar direito a folgas e férias, eles ainda a agrediram e humilharam constantemente.

Em dois episódios de violência física, a empregada sofreu lesões graves, a ponto de quebrar ossos e fraturar outras partes do corpo. Mesmo assim, Margarida e Renê a impediram de buscar atendimento médico.

Crime de 20 anos

20 anos. Este foi o tempo no qual a empregada viveu em condição de escravidão. Ela morava no porão da casa e teve acesso negado à comida consumida pela família.

Apesar de cometer tantos crimes, Margarida não é alvo de mandado de prisão nem mesmo investigação policial, pois de acordo com o Código Penal brasileiro, depois de 20 anos, os crimes prescrevem, ou seja, não podem mais ser julgados.

Renê Bonetti, no entanto, foi condenado a 6 anos e 5 meses de reclusão e pagamento de multas indenizatórias ao Estado e à vítima.

Procurada pelo FBI

Margarida entrou na lista de criminosos procurados do FBI, a polícia federal estadunidense, sob a acusação de ter escravizado uma empregada durante duas décadas.

Ela não poderá ser presa pelo FBI porque apenas as autoridades brasileiras têm jurisdição para executar a lei penal no país. Qualquer ação estrangeira para a captura da mulher seria uma violação da soberania.

Pela Constituição, o país não extradita brasileiros natos. Dessa forma, mesmo pedidos formais de extradição para execução da pena no exterior costumam ser negados.

Fuga para o Brasil

Enquanto o marido foi condenado a seis anos e meio de prisão nos Estados Unidos e teve que pagar uma indenização de US$ 210 mil, Margarida fugiu definitivamente para o Brasil e acabou não sendo julgada.

O marido foi julgado e condenado porque renunciou à cidadania brasileira quando foi aos Estados Unidos, mas Margarida não renunciou à cidadania brasileira, o que permitiu com que ela ficasse sem ser extraditada.

A mulher da casa abandonada: o podcast

Como explicamos brevemente no início deste texto, os podcasts são conteúdos feitos em áudio e compartilhados por meio de plataformas de streaming.

A principal vantagem deles em relação aos programas convencionais transmitidos pelas rádios é que eles podem ser escutados quando o usuário desejar. Essa facilidade ajudou na popularização do formato na construção de uma audiência fiel.

O podcast “A mulher da casa abandonada” foi o 2º mais ouvido do Brasil pelo Spotify.

Podcast Folha de São Paulo Chico Felitti

Ao final do primeiro episódio, Chico fala ao ouvinte e levanta uma série de questionamentos:

“Uma mansão. Uma casa de tijolos aparentes que atravessa um quarteirão inteiro. De frente, dá para uma rua; os fundos da casa desembocam em outra rua. Além do imóvel, que tem mais de 20 cômodos, a casa abandonada ainda tem um quintal do tamanho de um campo de futebol, cheio de abacateiros carregados. É um dos últimos terrenos sem prédios em um bairro de São Paulo dominado por edifícios, onde um apartamento de 2 quartos custa R$ 2 milhões. E eu, contaminado pelo espírito incorporador de imóveis que paira sobre São Paulo, via a casa abandonada e só pensava em uma coisa: como é que ainda não levantaram um prédio aqui?”

A investigação jornalística que deu origem ao podcast começou quando, ao passear à noite com a sua cachorra pelas ruas do bairro, ele se assustou com uma mulher que o observava por entre as plantas que cercam a casa que ele pensava ser abandonada.

Importante ressaltar que Chico Felitti é um nome conhecido do jornalismo literário. Ele já contou as histórias de grandes personagens de São Paulo, como Ricardo Côrrea da Silva, conhecido como “Fofão da Augusta”, em seu livro ‘Ricardo e Vânia’. Além disso, é o responsável pela biografia de Elke Maravilha e outros títulos que lhe garantiram prêmios literários.

8 de Junho

O podcast “A mulher da casa abandonada” foi lançado no dia 8 de junho pela Folha de São Paulo. Logo se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, especialmente no Twitter, por ter um estilo de narração envolvente.

Sete episódios

O podcast possui sete episódios listados a seguir, totalizando 55 min e 32 s:

  • Ep.1: A Mulher
  • Ep.2: A Casa
  • Ep.3: Uma Rua em Silêncio
  • Ep.4: Uma Mulher e um Homem Livres
  • Ep.5: Outras Tantas Mulheres
  • Ep. 6: Um Fim que Não É Bem um Fim
  • Ep. 7: A Mulher da Casa Abandonada

Podcast de audiência histórica

Em quase um mês depois do lançamento, o podcast já registrava recordes inéditos e números expressivos de audiência no ramo do streaming brasileiro de áudio, tais como mais de 6 milhões de downloads nas principais plataformas de streaming.

No início de 2023, o número já passava dos sete milhões.

O que aconteceu com a mulher da casa abandonada?

Após semanas de superexposição na mídia e uma operação para resgatar alguns animais de estimação que estavam em situação de abandono na casa, Margarida Bonetti se mudou e atualmente mora em endereço desconhecido. O casarão passou por uma limpeza geral.

Outros podcasts parecidos com A mulher da casa abandonada

Praia dos Ossos, da Rádio Novelo

Resumo: No dia 30 de dezembro de 1976, ngela Diniz foi assassinada com quatro tiros numa casa na Praia dos Ossos, em Búzios, por seu então namorado Doca Street, réu confesso. Lançamento original: 21 de agosto de 2020 a 31 de outubro de 2020. Nº de episódios: 8.

Projeto Humanos - Caso Evandro

O Caso Evandro, popularmente conhecido no Paraná como As Bruxas de Guaratuba, é o tema da 4ª temporada do Projeto Humanos. O lançamento foi no dia 31 de Outubro de 2018. Nº de episódios: 6.

Projeto Humanos - Altamira

Entre 1989 e 1993, vários garotos foram mortos na cidade de Altamira, interior do Pará. As vítimas encontradas apresentavam uma marca em comum: tinham seus órgãos genitais cortados. Em outras palavras, foram emasculados. A série estreou no dia 7 de abril de 2022 e tem 25 episódios.

Conclusão

Apesar de curiosa, a narrativa está longe de ser divertida, já que a história levou aos ouvintes pautas que se sobressaíram à temática central desse podcast, como é o caso da escravidão de pessoas em pleno século 21.

A vítima está bem, vive legalmente nos Estados Unidos e recebe uma pensão do governo. Foi graças ao caso dela que o congresso estadunidense alterou as regras em relação aos crimes de escravidão cometidos contra pessoas estrangeiras.

Uma das principais mudanças da proposta de lei é que ela passaria a garantir que uma trabalhadora que denunciasse os patrões por exploração não fosse deportada dos Estados Unidos enquanto a ação corresse. O que acontecia até então é que as pessoas escravizadas fugiam de casa e, quando chegavam até a polícia, já estavam com visto vencido e em vez de ouvir as denúncias, muitas vezes o Estado americano as colocava em um avião e mandava de volta.

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