Biblioteca social realiza campanha para estabelecer nova sede
Plebeu Gabinete de Leitura, biblioteca social e editora independente de Fortaleza, realiza a campanha "Uma casa para o Plebeu", a fim de estabelecer nova sede
13:41 | Out. 07, 2025
Criado há 13 anos a partir do acervo pessoal de Adelaide Gonçalves, pesquisadora e professora de história da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Plebeu Gabinete de Leitura é uma biblioteca social com aproximadamente 15 mil títulos.
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O projeto passou dez anos ocupando duas salas na sede da Associação Cearense de Imprensa (ACI), no Centro. Em 2024, após o projeto ser realocado do terceiro para o quinto andar, a associação decidiu encontrar um local independente. Para isso, eles estão realizando a campanha "Uma casa para o Plebeu".
"Uma casa para o plebeu não é meramente a compra de um imóvel. É, portanto, a projeção de um sonho", diz Adelaide Gonçalves. O sonho ao qual refere-se a professora abarca bibliotecas, uma livraria e espaços para oficinas de zines, leitura e restauro de papéis.
Além das atividades e funções desempenhadas pela biblioteca, o Plebeu Gabinete de Livros funciona como uma editora. O selo publicou mais de 30 obras e deixa sua marca na cidade também com a participação em feiras de livros, fazendo um trabalho de difusão da leitura dentro e fora de limitações arquitetônicas.
A Feira da Reforma Agrária, promovida mensalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, conta com uma banquinha permanente do Plebeu. Há dez anos, o gabinete participa do evento com livros novos e de sebo, no segundo sábado de cada mês ao Centro Frei Humberto, no bairro São João do Tauape.
"Queremos ter vida longa na cidade de Fortaleza, honrando, inclusive, quantos vieram antes de nós e que tiveram pequenos livros, pequenas livrarias. Queremos, portanto, continuar essa sementeira", declara Adelaide Gonçalves. Ela projeta para o Plebeu uma casa localizada próximo a corredores culturais da Capital, perto de outras iniciativas como a criada por ela.
Plebeu Gabinete de Livros
"O Plebeu nasce com um desdobramento das nossas vidas militantes. Então, é um desdobramento do nosso apreço à leitura, do nosso amor aos livros", conta Adelaide Gonçalves sobre a origem do Plebeu, mantido pelo que ela define como "autossustentação coletiva".
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Inspirado nos moldes de um coletivo social, a pesquisadora rejeita o rótulo de gestão para a organização e menciona outras dez pessoas que, além dela, contribuem para a continuidade do Plebeu, seja com doações permanentes ou com trabalho voluntário.
O dinheiro da venda de livros em feiras literárias, como a do MST, são revertidos para a limpeza dos livros, higienização do acervo, conserto das estantes e aquisição de mobiliário necessário para o Plebeu. Da participação em feiras fora do Brasil, veio também uma parcela considerável do acervo e de apoiadores do projeto.
Carinhosamente chamada como a "Casa de papel da Adelaide" por alguns frequentadores, a jornalista Izabel Gurgel conheceu a biblioteca quando ainda era a residência da professora. Antes mesmo de tornar-se um gabinete, para ela, os livros acumulados sempre tiveram "uso para além do privado, pessoal".
"Na casa da professora, era partilhada por estudantes, aprendizes e mestres do pesquisar, gente amiga, criaturas leitoras que dela receberam (da biblioteca e Adelaide) sombra e água fresca para florescerem", depõe Izabel, que testemunhou o crescimento da biblioteca e coleciona memórias entre os livros de Adelaide.
O nascimento da ideia de uma coleção de livros bordados é uma dessas recordações. Uma das destacadas por Adelaide Gonçalves no acervo do Plebeu, Izabel lembra que a ideia para a coleção nasceu em uma tarde de dezembro de 2018, quando estavam no local duas bordadeiras, Aldina Dantas e Alba Alves, cujo trabalho também povoa a biblioteca hoje.
Compõem a coleção livros de Frida Kahlo e Cecília Meireles e uma das 405 edições do Manifesto Comunista. Pensadores brasileiros como Antônio Cândido e Florestan Fernandes e célebres nomes da literatura, como Gabriel García Marquéz e Pablo Neruda, estão também nas estantes do Plebeu.
O alinhamento político da iniciativa se revela nos títulos disponíveis no acervo, que contam com obras sobre socialismo, anarquismo, comunismo e feminismo, e na publicação de panfletos antifascistas. Para a pesquisadora Adelaide Gonçalves, o compromisso do Plebeu está em torno da "literatura que liberta".
Inspirada nas bibliotecas sociais oitocentistas do século XIX, que cumpriam a função de democratizar a literatura, Adelaide Gonçalves ressalta que, por trás do Plebeu, estão "professores, professoras, pesquisadores, todos, fundamentalmente, militantes sociais da causa do livro e da leitura".
Plebeu Gabinete de Leitura
- Instagram: @plebeulivros
- Pix para doação: 24.268.949/0001-35 (CNPJ)