Gurufim de Arlindo Cruz: conheça a celebração afrobrasileira
Velório do sambista Arlindo Cruz seguiu a tradição de Gurufim, prática que une música, dança, comida e bebida à despedida
O velório do cantor e compositor Arlindo Cruz acontece na Escola de Samba Império Serrano, no Rio de Janeiro. A agremiação carnavalesca era considerada uma das paixões do sambista.
O corpo de Arlindo, que morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos nesta sexta-feira, 8, foi colocado no centro da quadra.
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A cerimônia iniciou neste sábado, 9, e deve seguir até às 10 horas de domingo, 10. Já o enterro está programado para às 11 horas, no cemitério Jardim da Saudade, na Sulacap, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
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Gurufim de Arlindo Cruz
A despedida do sambista é um gurufim, que consiste em um ritual de origem africana e que se manifesta em velórios festivos, marcados especialmente pela música, dança, comida e bebida.
Esse modelo de despedida visa celebrar a vida de quem partiu e amenizar a dor da perda, transformando o luto em homenagem e alegria.
Durante a ocasião, a bateria da escola de samba também se apresenta. Os familiares de Arlindo Cruz pediram para pessoas que estiveram no velório para usar roupas claras, principalmente de cor branca.
Ao longo da tarde deste sábado, o espaço da quadra recebeu coroas de flores da Beija-Flor de Nilópolis e da Presidência da República.
A última contava com a frase: “Homenagem ao talento, poesia e generosidade do sambista perfeito. Solidariedade à família, amigos e fãs. Presidente Lula e Janja”.
O que significa gurufim?
Com origem do idioma quimbundo, gurufim significa adeus ou despedida. Nas culturas de matrizes afro-brasileiras, como candomblé e umbanda, o termo está relacionado a um encaminhamento da alma.
No Brasil, os velórios antigos eram velados em casa, no centro da sala. O corpo só ia para o cemitério na hora do enterro. Assim, a cerimônia aproximava todos os moradores da rua e do entorno das comunidades.
As pessoas ficavam conversando, tomando café, comendo e bebendo. Durante toda a noite e madrugada, se revezando no acompanhamento do corpo.
O costume era popular em velórios, sobretudo nas comunidades mais vulneráveis e entre descendentes de africanos.
Além disso, o ritual também é apontado por historiadores como uma maneira de driblar a morte, já que as pessoas festejavam no momento, substituindo o clima de luto pela energia da vida.
Entre sambistas e personalidades ligadas ao gênero, o gurufim é uma prática comum. Entre alguns velórios que realizaram a tradição estão Bira Presidente, Sérgio Cabral, Monarco, Beth Carvalho e Almir Guineto.