Cannes 2024: Miguel Gomes fala sobre trabalhar com brasileiros

Único candidato português na competição pela Palma de Ouro, "Grand Tour" tem Thales Junqueira e Marcos Pedroso como diretores de arte
Autor Arthur Gadelha
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Na coletiva de imprensa de “Grand Tour” um dia após sua primeira exibição, o mediador da conversa perguntou ao cineasta português Miguel Gomes como tinha sido a experiência de trabalhar com seu elenco nas locações da Tailândia, país em que o filme se passa na maior parte do tempo.

“Você está me perguntando isso, talvez porque meus diretores de arte tenham feito um bom trabalho. Tudo no filme é estúdio. As atrizes nunca viram a Tailândia”, comentou.

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Na trama, que se passa em 1917, Molly atravessa a Ásia em busca do noivo desaparecido para que possam finalmente se casar. “Você não acha que esse sumiço pode significar que ele não quer mais esse casamento?”, pergunta um homem que a recebe e ela se sente ofendida. “Jamais... Eu conheço Edward”. Ao longo de duas horas, a trama de Miguel Gomes gira em círculos para nos guiar por uma jornada bastante física, mas, principalmente, sensorial.

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A cenografia, de fato, é o elemento mais charmoso da obra, que constrói cenários com detalhes e profundidade, especialmente de florestas e centros urbanos, pensados sob medida para a fotografia em preto & branco. Quem está por trás de parte dessa realidade é Thales Junqueira e Marcos Pedroso, diretores de arte prolíficos no Cinema Brasileiro.

Thales, por exemplo, esteve com trabalho em cartaz recentemente no pernambucano “Sem Coração”, de Tião e Nara Normande, em que sua equipe teve que construir uma baleia em tamanho real para a cena emblemática da história. Marcos Pedroso trabalhou em filmes como “Que Horas Ela Volta?” e “Praia do Futuro”.

Nesta própria edição de Cannes, Thales assina ainda o design de produção do filme “Baby”, de Marcelo Caetano, exibido e premiado na 63ª Semana da Crítica, e Marcos está na equipe do cearense "Motel Destino", de Karim Aïnouz.

“Thales trabalhou com Kléber Mendonça Filho e Marcos trabalhou com Karim Aïnouz. Poderei estar sendo injusto, mas eu acho que tivemos os melhores diretores de arte no Brasil, pelo menos”, pontua de forma certeira o diretor português em resposta ao O POVO. Ele ainda comentou que, apesar de incomum, optou por convidar dois profissionais nesta mesma função por conta da alta carga de trabalho que o universo ora realista, ora sonhador de seu filme requeria.

O filme foi exibido na última quarta-feira, 22, horas antes da estreia mundial de “Motel Destino”, de Karim Aïnouz, fazendo com que a programação principal do dia na Grand Théâtre Lumiére fosse protagonizada pela língua portuguesa. É uma rima injusta, porém, porque enquanto o filme de Karim ferveu a plateia, “Grand Tour” a deixou ainda mais fria.

Mesmo que fosse muito difícil se sentir convidado aos delírios engessados de sua aventura, Gomes e sua equipe nos mantém sempre por perto porque o mergulho escalona numa força cada vez mais hipnotizante. O enquadramento deslizante sobre um trem descarrilhado em meio à névoa da floresta, por exemplo, ganha vida numa imagem quase fantasmagórica.

Diante de suas obras anteriores, incluindo o fascinante “Tabu” (2012), não é como se essa imobilidade fosse uma surpresa. De certa forma, ela até combinou com a seleção principal do festival deste ano que, em grande parte, operou em baixa voltagem – até o intenso Paul Schrader preferiu estacionar mais sua energia com “Oh, Canadá”.

Apesar disso, o filme português veio recebendo uma aclamação por parte da crítica que, mesmo tímida, pode indicar um bom destino para quando o filme chegar aos cinemas.

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