Cannes 2024: Demi Moore e seu monstro Barbie assustam a plateia

Dirigido por Coralie Fargeat, o drama de horror "The Substance" estreou com aclamação
Autor Arthur Gadelha
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Ainda na primeira metade de "The Substance" já era possível ver a plateia fechando os olhos ou assistindo o filme por entre frestas dos dedos com a mão tampando o rosto porque as imagens, sem dúvidas, não eram fáceis de ver.

Dirigido por Coralie Fargeat, "A Substância" - em tradução livre - conta a história de uma celebridade da televisão vivida por Demi Moore que se vê escanteada pelo mercado da mídia que desaprova seu corpo, julgada principalmente por sua idade.

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Em meio a frustração de se perceber distante do auge que era considerada a sua beleza na juventude, ela é convidada a participar de um experimento científico que divide as células do seu corpo para que uma versão jovial saia de dentro para fora. Literalmente. A nova Elisabeth Sparkle arranca sua pele e nasce para o mundo.

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Ainda no começo do filme, esse momento já nos revela a proximidade que Coralie tem com o chamado "Body Horror", subgênero do terror que explora o grafismo de violações do corpo humano. Na medida em que o corpo original e o novo precisam conviver, a tragédia vai se anunciando com muita antecedência - o colapso, afinal, virá. A jovem Demi Moore é vivida por Margaret Qualley com um cinismo crescente que a torna cada vez mais interessante no confronto.

A trama surreal, claro, pega emprestado dessa nossa realidade a crueldade do etarismo que se torna ainda mais violento sobre o corpo feminino, cuja imagem pública é mediada por homens poderosos que não sofrem qualquer ameaça diante da idade que têm. Despachada de seu próprio programa, Elisabeth passa a sentir vergonha de sua aparência ao ponto de não conseguir mais sair de casa para um encontro.

Por outro lado, a jovem Sue - nome que ela se dá para se distanciar da origem - não faz de seu novo "privilégio" um motor para reconhecer o problema, mas para reforçá-lo. Numa cena em que dá entrevista a um canal de televisão, ela debocha da sua gêmea mais velha, assumindo a missão de substituí-la. Mas isso é possível?

Fargeat conta essa história com sua grande ironia pulsando a cada segundo em tela, deixando claro que seu universo é suspendido da vida real para tornar absurdo cada um dos seus elementos para detectar onde está o grande erro de tudo. Seus homens são patéticos, sujos e bobos, interpretando as mulheres única e exclusivamente com objetivo sexual - como neste mundo, só que talvez com mais disfarces, vivem no seu próprio planeta.

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Embora a batalha moral e física entre essas duas peças do jogo seja muito repetida e por vezes acomodada em seus pontos de virada, a diretora sabe virar a moeda para subir o nível estético da sua crítica. Então voltamos para o começo do filme quando o sangue nos faz desviar os olhos, abordagem que ela faz com muita segurança e vontade de construir uma visão nova diante das mil referências possíveis dos monstros no cinema. Diferente da "Barbie" de Margot Robbie que, de repente, aceita não significar mais a perfeição, Elisabeth e Sue brigam para ver quem a encontra primeiro.

Por aqui, a empolgação foi enorme no meio da imprensa que está cobrindo o festival, chegando a se falar em prêmio de atriz para Moore e até em Palma de Ouro - com Greta Gerwig na presidência do júri, seria uma rima fascinante. O fato é que com prêmio ou sem prêmio, esse filme fará muito barulho quando chegar aos cinemas.

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