Crítica: Traumas em profusão em 'Bebê Rena', da Netflix

Baseada na história real de seu criador, "Bebê Rena", nova minissérie da Netflix, vai além da abordagem "simplista" do crime real e explora toda complexidade por trás dele

Filmes e séries baseados em crimes reais têm se mostrado uma grande "febre" entre o público. Não importando o tipo de crime em que se baseiam. Maus tratos aos animais, mortes em circunstâncias misteriosas e casos de pessoas desaparecidas há décadas, não importa. A espetacularização do crime é algo que está assustadoramente na moda. À primeira vista, "Bebê Rena", disponível na Netflix, pode parecer só mais uma dentre tantas produções do gênero.

Criada, escrita e protagonizada pelo ator e comediante Richard Gadd, a minissérie é baseada na história real de seu criador, que interpreta Donny Dunn, um aspirante a comediante que decide tentar sua carreira em Londres ao mesmo tempo em que trabalha em um bar para se sustentar. Até que, no que seria mais um dia comum de trabalho, acaba conhecendo Martha (Jessica Gunning), uma mulher solitária e misteriosa, o que culmina em uma estranha e sufocante relação obsessiva, que acaba despertando traumas profundos da vida de Donny.

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Quando digo que pode parecer que "Bebê Rena" é só mais uma entre tantas produções inspiradas em crimes reais, estou destacando a temática. Porém, a minissérie de sete episódios, com cerca de 35 minutos cada, se mostra completamente diferente das demais produções do gênero logo de cara. E, com o passar de seus episódios, isso fica cada vez mais evidente. Apesar de trazer bastante foco em como a perseguidora Martha se entranha de uma forma totalmente obsessiva e bizarra na vida de Donny, o roteiro também deixa claro em que alguns momentos o protagonista de certa forma se sente atraído por aquela situação.

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Mas se você pensa que é algo com o sentido de que possa, de certa forma, culpabilizar a vítima em situações como esta, você está bastante enganado. O texto de Richard Gadd é profundo e sincero, e nos faz mergulhar em situações extremamente duras enquanto perdemos nosso fôlego nesse mar de desespero. Vale destacar aqui o quarto episódio dessa jornada, que é de longe o mais intenso e difícil de se assistir. Aqui o autor mostra toda a complexidade e dor que só alguém que já tenha passado por uma situação do tipo conseguirá descrever. E indo além do que podemos imaginar sobre as consequências de vivenciar tal trauma apresentado.

Apesar da temática pesada, roteiro e direção não fazem o crime em si ser protagonista aqui, fugindo da mera espetacularização da situação e nos mostrando os porquês e as consequências de tudo aquilo em seus envolvidos, de ambos os lados. Quebrando a narrativa principal em momentos pontuais, para nos mostrar que muitas vezes nos submetemos a certas situações graças a traumas e medos que já vivenciamos e que, diferente do que pensamos, têm mais influência sobre nós do que imaginamos.

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Além de abordar muitas outras temáticas enquanto faz tudo isso, como sexualidade, responsabilidade afetiva, negligência policial e até mesmo empatia. Essa última muito mais presente do que se pode imaginar em diversos momentos vivenciados entre o protagonista e Martha. Dupla essa que está incrível quando o tema é atuação. Apesar de Richard Gadd estar dando vida a um personagem que representa ele mesmo, é inegável que ele consegue passar toda a confusão de sentimentos que viveu em seu personagem sem parecer caricato ou forçado, algo que poderia soar comum para quem quer espelhar a própria personalidade nas telas.

Já Jessica Gunning não fica para trás, já que desde seu primeiro segundo em tela consegue passar toda a ambiguidade de sua personagem em todos os aspectos. Afinal, quem é Martha e o que a motiva a fazer isso? Ela é realmente perigosa? Mistérios que são solucionados aos poucos e que vão dando mais e mais camadas para a atuação de Jessica, que vai crescendo de forma muito natural ao passar dos episódios.

"Bebê Rena" é dura e surpreendentemente até seu último segundo, mostrando de maneira sincera temáticas difíceis de serem assistidas, mas, ao mesmo tempo, necessárias. Provando que o problema não é contar uma história de um crime real, contanto que não o faça do crime simples "protagonista vazio" buscando sucesso através do impacto causado por sua dor.

Bebê Rena

Onde assistir: www.netflix.com/

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