Pistoleiro Mainha tem história contada em série original do O POVO+

Nova série documental original do O POVO apresenta a história de Mainha, matador de aluguel que assombrou o Nordeste e responsável por mortes de prefeitos cearenses

16:37 | Jul. 12, 2022

A série relata a história do matador de aluguel Mainha, que ficou famoso no Ceará e no Brasil na década de 1980 e foi considerado o maior pistoleiro do Nordeste (foto: Reprodução)

Há mais de dez anos, Idelfonso Maia Cunha, natural do Vale do Jaguaribe, estava cavalgando desarmado em um burro no município de Maranguape quando foi assassinado a tiros, sendo também atingido na cabeça. Talvez mencionar seu nome completo não evoque de imediato o medo e a brutalidade associados à sua figura, mas seu apelido, sim. Afinal, ao Mainha foram atribuídos inúmeros assassinatos, incluindo mortes de prefeitos como Expedito Leite, de Iracema, e João Terceiro de Sousa, em Pereiro.

O matador de aluguel Mainha ficou famoso no Ceará e no Brasil na década de 1980 e foi considerado o maior pistoleiro do Nordeste. Para muitos - e para ele mesmo -, assumia uma postura de “justiceiro”, com seus crimes sendo realizados como forma de “defesa da honra”. Para falar sobre sua história e ampliar debates sobre diferentes tipos de violência, a plataforma O POVO+ estreia nesta quinta-feira, 14, a série “Mainha: Com a Morte Nos Olhos”.

Dividida em quatro capítulos e com episódios semanais, a série é dirigida por Arthur Gadelha, Demitri Túlio e Luana Sampaio. A produção é iniciada com um panorama dos crimes mais famosos atribuídos a Mainha, sua fama de pistoleiro e as questões pessoais envolvidas nos assassinatos por ele cometidos. No segundo episódio, é retratada sua prisão em 1988, sua infância e como a “pistolagem” se tornou um crime de maior destaque na década de 1980 no Ceará, principalmente na região do Vale do Jaguaribe.

No terceiro episódio, é apresentada a rebelião no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) em 1994, quando Dom Aloísio Lorscheider foi feito refém e Mainha teve participação no evento socorrendo pessoas que estavam em perigo. No capítulo, são mostradas pessoas que o conheceram pessoalmente e que trazem depoimentos sobre a convivência com o pistoleiro.

Finalizando a série, o último episódio conta sobre o enterro de Mainha e a mobilização gerada na região do Vale do Jaguaribe por sua morte. “Nós também abordamos o contexto político de sua prisão, a campanha do governo Tasso Jereissati para acabar com a pistolagem na década de 1980 e como a ocorrência do crime de aluguel pode ser mais complexa (e frequente) do que imaginamos)”, aponta Luana Sampaio, roteirista e diretora da série.

A série é guiada pelo cuidado na apuração, com pesquisas feitas a partir de matérias já publicadas no Jornal O POVO sobre o assassinato de aluguel, livros, artigos e trabalhos acadêmicos que abordavam o tema da pistolagem no Ceará. Como revela Luana, foi um trabalho complexo, pois “muitas informações eram confusas” e até contraditórias, com a “cadência de acontecimentos” não exatamente desvendada até hoje.

“Entendemos que cabia a nós trazer muito mais perguntas do que respostas, buscando mostrar um Mainha que provavelmente muitas pessoas não conhecem (ou nem esperam) e delineando que sua vida e sua fama estavam inseridas em um contexto criado tanto por ele como por outros elementos”, afirma.

As gravações aconteceram em cinco dias “inteiros e intensos” sob o sol forte em Jaguaribara, Alto Santo, Iracema, Pereiro e Jaguaribe, além de Fortaleza e Maranguape, ouvindo não só “narrativas de morte”, mas também negativas de pessoas que sentiam medo em falar sobre Mainha mesmo mais de dez anos após sua morte.

Para a série, foram ouvidas mais de 15 pessoas, entre familiares de Mainha, pesquisadores da UFC e da Uece, pessoas que conviveram com ele, delegados e “gente do povo”. Na produção, os passos de Mainha como “pistoleiro, homem, pai, preso, amigo e procurado” são apresentados. “É uma costura não policialesca sobre a vida de um matador de aluguel’, complementa Demitri.

Nesse sentido, o jornalista reforça que a obra não tem proposta sensacionalista ou policialesca. “O documentário tem como fundamento de apuração o jornalismo investigativo. É baseado em testemunhos, documentos e pesquisas científicas. E, o principal, investiga além do criminoso. Mergulha em busca da faceta do'homem' em família, da contradição de ser um matador e, ao mesmo tempo, um marido amoroso, sedutor, respeitoso dos seus”, introduz.

Ele acrescenta: “Não nos interessaram os estereótipos policialescos. Essa também é uma investigação sobre a maldade humana, suas faces, suas artimanhas, suas fugas de comportamento, seu lado obscuro na hora de atocaiar, executar, eliminar alguém e depois tomar um café como se nada estivesse acontecendo”.

Ao longo do processo de apuração, muitas fontes se recusaram a falar sobre o pistoleiro por ainda sentirem medo, pois a história de violência de Mainha ainda repercute no imaginário e no cotidiano dessas pessoas. Diante de tanta perversidade, a série foge da tentativa de “glorificar” os feitos do assassino de aluguel, visto por muitos como “justiceiro”.

“Não romantizamos a história do Mainha. Ele é um matador de gente e ponto. Não tem como dourar a pílula, não há glorificação no homem que mata outro por dinheiro ou vingança. Bem ou mal, há marcos civilizatórios que precisamos respeitar e disso não podemos arredar”, enfatiza Demitri.

Participando de sua terceira investigação como “jornalista (repórter)/diretor/roteirista” para o audiovisual do O POVO+, depois de trabalhos como “Guerra Sem Fim” e “Voo 168 - A Tragédia da Aratanha” -, Demitri aponta que a série sobre Mainha documenta “uma faceta sobre a história da violência no País”, que seria a pistolagem no semiárido nordestino.

“Complexificamos o debate sobre crimes de aluguel, uma prática que marcou a história do nosso Estado e se atualizou com o passar dos anos. Crimes por encomenda não deixaram de existir, e dada a dimensão do tema, entendemos que resgatar a história de Mainha é resgatar também um debate politico-social importante para a atualidade”, comenta Luana Sampaio.

Confira imagens da série “Mainha: Com a Morte Nos Olhos”:

Ficha técnica

Direção: Arthur Gadelha, Demitri Túlio e Luana Sampaio
Roteiro:
Luana Sampaio e Arthur Gadelha
Produção Executiva:
Cinthia Medeiros
Direção de Fotografia:
Aurélio Alves e Julio Caesar
Montagem e Finalização:
Raphael Góes

Mainha: com a morte nos olhos

Quando: estreia quinta-feira, 14; episódios semanais
Onde: aba "Filmes e Séries" do O POVO+

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