Campanha busca recursos para formação teatral de pessoas trans e travestis

A campanha será finalizada em 3 de março e a equipe planeja arrecadar no mínimo R$ 20 mil para a ajuda de custos

“Redistribuição de afeto” e “reparação histórica” são expressões que não saem do horizonte de Noá Bonoba. Para a artista, é necessário fortalecer a presença de pessoas trans e travestis em espaços de “segurança e acolhimento”. Por isso, a dramaturga, atriz e cineasta promove uma residência “voltada exclusivamente para a população T”. A iniciativa de formação em teatro resultará, ao término do processo, na montagem de um espetáculo.

Para garantir ajuda de custo para 16 participantes, pagamentos de profissionais e a realização do trabalho de conclusão, está sendo promovida uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Apoia.se. É possível contribuir para o projeto com apoios financeiros a partir de R$5. Apoiando com valores acima de R$50 a recompensa é de uma cortesia para a estreia do espetáculo, previsto para ser realizado em abril. É possível também realizar doações para o Pix noabonoba@gmail.com.

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A campanha será finalizada em 3 de março e a equipe planeja arrecadar no mínimo R$ 20 mil para ajuda de custos. Até a publicação desta matéria, haviam sido destinados R$3.870 ao projeto a partir de 81 apoiadores, segundo Bonoba. Para que seja possível realizar a iniciativa de forma completa - com ajuda de custos, pagamento de profissionais e montagem do espetáculo -, a estimativa é que seja necessário arrecadar R$ 50 mil.

Os encontros da iniciativa já começaram a ser realizados no Porto Dragão e, segundo Noá, visam “a construção de uma formação de atores diferenciada”, que trabalhará “muito mais a escuta ativa da existência de singularidades” que uma linha “canônica”. “Não estamos trabalhando a partir da ideia de que existem erros a serem corrigidos e modelos pré-concebidos para se chegar a algum lugar. Partimos da potencialização da subjetividade e das singularidades”, destaca a atriz.

A ideia para esta residência vem de sua percepção a respeito de como “o mercado de trabalho atua na exclusão” dessas pessoas em espaços de destaque. Além disso, surge de uma necessidade de formação em uma linguagem “bastante precarizada” como a teatral e de contribuir para criar “espaços de segurança, acolhimento e fortalecimento entre pessoas trans e travestis”.

“Elas estão sempre lutando para estar no centro dos espaços. Cursos como esse também partem do princípio de que essas pessoas serão acolhidas e conseguirão estar ali, saindo da energia do combate e do enfrentamento, e partindo para formulação de uma segurança”, comenta Noá. Assim, para a atriz, movimentos como esse também vêm da necessidade de “redistribuir afeto” e de realizar uma “reparação histórica urgente”.

Um dos resultados previstos com a formação é a montagem do espetáculo “TextoTrúqui”, desenvolvido pela própria artista. A dramaturga comenta como o trabalho “parte de uma vontade de falar sobre o fracasso da comunicação e da linguagem", considerando um processo de revisitação de relações interpessoais:

“Nós questionamos essa ideia de que a linguagem é falha. Ela nunca nos completou, principalmente quando falamos de corpos dissidentes. O espetáculo abre o debate para pensarmos sobre a comunicação, sobre a incomunicabilidade, e sobre o ‘existir’ na desorientação, nas diferenças e nas discordâncias: como uma relação pode acontecer dentro de um não entendimento?”.

Noá complementa: "Que tipo de reelaborações nós, enquanto sociedade, precisamos realizar para que consigamos nos relacionar não dentro de um princípio onde todo o mundo precisa ser igual e falar a mesma língua? Nós podemos nos comunicar a partir da ideia de que não somos iguais, e que é preciso reelaborar essa comunicação e a linguagem”. Dessa forma, são abordadas também as possibilidades que existem entre a voz falada e a voz cantada, envolvendo o trabalho de ritmos, música e sonorização.

Inicialmente prevista para dez vagas, a formação teve sua quantidade aumentada pela idealizadora devido à grande demanda de pessoas inscritas. As vagas já foram preenchidas. Noá busca ajuda de custos para auxiliar participantes da residência e, com a campanha de financiamento coletivo, também procura desmistificar uma concepção de que “teatro se faz com pouca grana” - o que se relaciona com a precarização da linguagem entendida pela dramaturga.

Noá defende que esse não é um projeto seu, mas da cidade de Fortaleza. Assim, aborda a ideia de coletividade e trabalho de conscientização a partir do financiamento coletivo para mostrar que há outras formas de se captar recursos para iniciativas, envolvendo uma “rede de apoiadores”. Além disso, lembra da importância de ações como essa não serem “pontuais”, mas contínuas:

“Quando viabilizo um projeto como esse, estou, de certa forma, respondendo a uma ausência da cidade a partir de uma iniciativa primeiramente individual. Para que saia desse âmbito, é necessário engajamento coletivo e, quando ele acontece, ele se transforma em uma resposta da Cidade. Ideias como essa se espalham quando ganham a coletividade. Estamos modificando uma estrutura, mas para mudar de fato precisamos criar redes de fortalecimento e ajuda mútua, transformando em projetos coletivos”.

A atriz finaliza; “Precisamos permanecer, fazer residências como essa mais vezes e de forma continuada. Para que essas ideias consigam ganhar dimensões maiores, precisamos de engajamento e da cidade de Fortaleza tomando esses espaços”.

Residência Teatral Para Pessoas Trans e Travestis

Quando: campanha até 3 de março
Onde: no site Apoia.se ou a partir do pix noabonoba@gmail.com
Quanto: apoios a partir de R$ 5

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