Cena 15, do Porto Iracema das Artes, fecha as portas após corte de gastos

O anúncio da entrega do Cena 15, espaço de formação e experimentação das narrativas audiovisuais e da dança, foi abordado na quarta-feira, 5, em Conselho Estadual de Política Cultural do Ceará (CEPC-CE)

Após duas décadas de incentivo à cultura em Fortaleza, a casa localizada na rua José Avelino, 495, fecha suas portas pela segunda vez. O lugar, denominado de “Cena 15”, era um espaço de formação e experimentação das mais variadas narrativas visuais. Não só: também oferecia uma sala de dança para que artistas pudessem ensaiar e compartilhar experiências de linguagem.

O sobrado estava há alguns anos sob responsabilidade do Porto Iracema das Artes e havia se tornado a sede de seu Centro de Narrativas Audiovisuais. Entretanto, Bete Jaguaribe, diretora da escola, anunciou ontem, 5, que o local seria devolvido ao proprietário.

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A informação foi divulgada durante a 11ª reunião ordinária do Conselho Estadual de Política Cultural do Ceará (CEPC-CE), transmitida on-line e disponível no canal do Youtube da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE).

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“No ambiente de redução orçamentária por conta da crise nacional, a gente optou por entregar o Cena 15. Não vou dizer que foi uma decisão fácil, foi uma decisão muito difícil. Como sabemos, aquele espaço tem uma importância simbólica grande”, disse durante a conversa.

“Ali foi onde se formou um movimento importante de cultura do Estado, em torno do ‘Alpendre’. Depois assumimos a casa e, infelizmente, tivemos que fazer opções para, inclusive, potencializar os programas e as ações do Porto Iracema das Artes”, acrescentou.

Aquele sobrado na Praia de Iracema, que agora está com destino incerto, fez parte da história das artes da Capital. Em 1999, surgiu ali a organização não governamental “Alpendre - Casa da Arte” por meio da mobilização de seus fundadores Andréa Bardawil, coreógrafa e diretora da Companhia da Arte Andanças, Alexandre Veras, realizador audiovisual, e outros.

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Encontros, oficinas, debates e mais atividades eram promovidas no lugar. Foi um ambiente de formação dos novos artistas cearenses. Mas, no fim de 2012, precisou ser fechado por causa de várias dificuldades: a dependência de editais que garantissem a existência financeira do projeto, a violência nas proximidades e a falta de organização da área foram alguns dos problemas apontados na época.

Após dois anos, o Instituto Dragão do Mar devolveu a casa aos cidadãos, que passou a se chamar “Cena 15”. Não era mais uma ONG, porque começou a funcionar como um local de fomento governamental das atividades culturais.

“Eu acho que o fim do Cena 15 é uma perda irreparável para a Cidade, porque é um espaço que tem um histórico cultural, de atuação cultural, sobretudo em dança, desde o fim dos anos 1990”, comenta Victor Hugo Portela, da Associação de Bailarinos, Coreógrafos e Professores de Dança do Ceará (Prodança).

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O professor e bailarino viveu muitos momentos de sua vida ali. Recorda de espetáculos, festas da Bienal Internacional de Dança do Ceará, oficinas e ensaios que participou. “Já fui espectador, aluno, professor…”, diz.

Ele reivindica: “É problemático que isso tenha sido comentado apenas na reunião do conselho, que não tenha tido um aviso prévio. Isso não foi dialogado. Entendemos o corte de gastos, mas poderíamos ter pensado em outras alternativas juntos.”

Segundo o artista, a falta de diálogo com a sociedade civil é uma questão antiga. “Obviamente a gente consegue estabelecer o diálogo em determinados momentos. Dou o mérito à Lei Aldir Blanc, que foi trabalhada intensamente com o conselho. Mas tem outras questões que somos os últimos a saber que iremos perder.”

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Seu maior receio é que a casa seja destruída. “Estamos com medo que vire um estacionamento ou uma feira. Se puxarmos o histórico, vários centros da cidade viraram estacionamento”, comenta.

De acordo com ele, o Fórum de Dança está mobilizando uma carta para disparar em páginas nas redes sociais. “Não sabemos se é possível ter uma reversão, mas é o mais sonhado. Nós reconhecemos a contenção de gastos, que teve em todas as secretarias. Mas, se pelo menos conseguíssemos realizar um projeto para garantir seu espaço cultural…”, espera.

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Confira respostas da Secult Ceará sobre o caso:

Como foi tomada a decisão de entregar o Cena 15?

Diante do contexto atual, o orçamento do Estado tem se programado na priorização da Saúde e no enfrentamento à pandemia. Isso tem acarretado a necessidade de ajustes orçamentários e tivemos que adequar os contratos de gestão de acordo com os limites financeiros estabelecidos. Os recursos destinados à Escola Porto Iracema das Artes foram readequados para que os programas formativos pudessem ser garantidos em 2021.

A redução orçamentária está acontecendo em vários âmbitos, mas houve comunicação com a sociedade civil sobre a situação?

Sim, o orçamento programado para a Rede dos Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura foi apresentado em reunião do Conselho Estadual de Política Cultural - CEPC. Na ocasião dessa reunião, foi informado que, numa compreensão conjunta da Secretaria da Cultura/IDM, foi decidido entregar o CENA, em decorrência dos ajustes necessários, considerando, inclusive, que as atividades presenciais estão suspensas por conta da pandemia.

Por que o Cena 15 foi o escolhido para fechar?
A decisão foi tomada avaliando o peso do custeio de um espaço que, nesses tempos de pandemia, estava sem uso.

Após a reabertura, onde irão acontecer as atividades que aconteciam no Cena 15?
Nos ambientes do complexo do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, do Porto Dragão e da própria Escola Porto Iracema das Artes ou mesmo em outros espaços da Rede Integrada dos Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura, a exemplo do Theatro José de Alencar, Cineteatro São Luiz e Teatro Carlos Câmara.

Existe algum projeto/ proposta para a tentativa de manutenção do lugar?
Sim, já estamos nos programando para retomar as atividades no Cena 15 no tempo mais breve possível e com o orçamento restabelecido.

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