Débora Ingrid reaviva memória da compositora Violeta Parra em espetáculo online

"Carta para Violeta" será transmitido pelo Youtube da TV Russas e mistura memórias da atriz cearense com a história da compositora chilena

Violeta del Carmen Parra Sandoval (1917 - 1967) nasceu numa pequena província do interior chileno chamada San Carlos. Filha de uma família numerosa e de pais pobres, ela começou a militar muito cedo no meio artístico. E aqui, o verbo “militar” é empregado porque tanto a arte era seu meio de trabalho como ela a encarava como um instrumento de transformação social. Cedo, perdeu o pai, com quem aprendeu as primeiras noções de música, e passou a cantar, tocar e compor para sobreviver. Foi também ceramista, artista plástica e pesquisou, registrou e criou projetos envolvendo o folclore latino.

Em busca de mulheres que fizeram arte e história na América Latina, a atriz russana Débora Ingrid encontrou Violeta Parra. Ao se deparar com a ar, Débora descobriu mais sobre si mesma e decidiu escrever uma carta endereçada à compositora.

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Num diálogo imaginário, uma vez que a autora de “Gracias a la vida” cometeu suicídio em 5 de fevereiro de 1967, a cearense fala do seu encanto, da sua admiração e do quanto encontrou nela um espelho da própria história. Assim surgiu “Carta para Violeta”, que estreia nesse sábado, 27, às 20 horas, com exibição gratuita no Youtube da TV Russas. Nos sábados e domingos de abril, o espetáculo segue em temporada online.

Com roteiro criado a partir da carta, a produção foi filmada numa casa que pertenceu à avó de Débora e que, embora não esteja ocupada há um tempo, segue guardando memórias. “Foi uma pesquisa quase ancestral de ouvir a mãe, as tias, avós e bisavós. Descobri que nessa casa aconteceram várias terreiradas, com danças de cocos, manifestações populares”, conta a atriz, que encontrou um paralelo com o espaço criado por Violeta no fim dos anos 1960, onde floresceu muito do que ficou conhecido como a “nova música chilena”.

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Da música, Débora conhecia superficialmente. Mas na história de Violeta Parra, contada no filme “Violeta foi pro céu” (2011), se destacou a consciência política. “Todo esse momento político do País foi me chamando a atenção pra ela. Ela é um símbolo da música engajada na América Latina, e essa força de luta mexeu comigo. Acho muito político a Violeta ir pro folclore. Eu sinto tanta falta disso, como brasileira, de ter nossa cultura popular como referência. Eu achei isso tão forte, tão bonito e me chamou atenção por eu ter crescido nesse meio”, aponta Débora.

“A maneira como ela vive está na voz dela. Ela era política em cada momento da vida dela. Vendo o filme e lendo entrevistas, essa força política dela está em todos os momentos. Ela se vê como povo, se entende como povo, essa massa poderosa que pode mudar um país. E ela tem a força de quem está à margem, de quem passa fome, de quem tem que trabalhar pelo pão. Ela traz muito isso na arte dela”, continua.

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E, de novo, se coloca em paralelo. “Querer falar de mulheres da América Latina, isso me mobiliza bastante. Eu não tenho a pretensão de mudar o mundo ou de ser esse símbolo que a Violeta foi, mas isso me mobiliza. Minha família, minha história de vida é dessas pessoas que carregam o mundo nas costas. Minha mãe era da roça, mas veio para o ambiente urbano da cidade para estudar. Com esse trabalho, pude descobrir essa raiz artística da minha família”, conta Débora.

A artista tem nesse trabalho um retorno para sua terra – depois de temporadas em Fortaleza e São Paulo. Elas estão nas paredes, nos objetos de cena, nas entrelinhas e na direção artística de Joyce Barbosa, tia de Débora que nasceu na casa onde “Carta para Violeta” foi gravado.

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Filmado ou encenado, o espetáculo começou a nascer em dezembro de 2020 e foi sofrendo mudanças e adaptações de acordo com os decretos publicados para conter o avanço do coronavírus. Por esse motivo também, a obra mistura elementos do cinema e do teatro, do imaginário e nem tanto.

“É difícil trazer o teatro pro virtual, sem o olho no olho, mas pensei em misturar esses recursos, brincar com a visualidade. Na intepretação, o teatro é mais dilatado e o cinema trabalha mais com o real. Na peça, ora está mais teatral, ora mais real. A ideia foi brincar com as duas linguagens. Câmera na mão, deixar a câmera mais viva pra dar a sensação de que o espectador está ali na cena, pra tentar dar um pouco mais de vida pra câmera. O espectador vai poder me acompanhar nessa história”, explica.

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Premiada como melhor atriz em 2014, no Festival Paulínea de Cinema, pela atuação no filme “A história da Eternidade” (de Camilo Cavalcante), Débora Ingrid, aos 28 anos, já soma quase 20 de uma carreira que se divide entre o teatro e o cinema. Ela está presente nos filmes “Pacarrete” (Alan Deberton) e “O retirante” (dela e de Henrique Oliveira). Ainda aguarda a estreia de “Mares do desterro” (Sandra Alves), no qual é protagonista. Em “Carta para Violeta”, ela atua, produz e estreia na direção.

Estreia de “Carta para Violeta”

Quando: sábado, 27, às 19 horas
Onde: no canal do Youtube da TV Russas

Temporada online

Quando: sábados e domingos de abril, às 19 horas
Ingressos: no Sympla
Quanto: R$15
Mais informações: no perfil do Instagram @debingrid

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