ForCaos 2021 une a tradição do rock cearense à inovação dos debates sociais online

O 22º ForCaos, tradicional festival na cena do rock de Fortaleza, foi contemplado pela Lei Aldir Blanc e busca trazer debates ligados a gênero, negritude e diversidade

Um dos mais importantes festivais da cena do rock nacional chega em 2021 à sua 22ª edição. Entre os dias 16 e 21 de março, o ForCaos realiza sua programação em formato on-line devido à pandemia de covid-19. O festival foi contemplado pela lei de incentivo à cultura Aldir Blanc. Além de apresentações de bandas nacionalmente conhecidas, como Krisium, serão debatidos questões de diversidade e representatividade. Parte da programação ainda vem sofrendo alterações para se adaptar ao decreto estadual de combate à pandemia. As transmissões acontecem no canal ForCaos TV, no YouTube e tem acesso gratuito.

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Nesta edição, as bandas cearenses que irão se apresentar são Ankerkeria, Betrayal, Structure Violence, Encéfalo, Corja!, Diagnose, Darkside, Backdrope Falls, Steel Fox, Krenak. Os shows nacionais ficam a cargo das bandas Krisiun (RS), Rebaellium (RS), Cérebro de Galinha (PA), Baixo Calão (PA), Expose Your Hate (RN), Test (SP), Scum Noise (SP), Hatefulmurder (RJ), Invisible Control (AL) e Jacau (BA). Segundo o produtor executivo do ForCaos, Amaudson Ximenes, a escolha das apresentações se deu por meio de edital, buscando diversidade tanto em subgêneros do rock como em representatividade.

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E se o rock surgiu como uma subcultura da contestação — contra o capitalismo, as guerras e os padrões morais pré-estabelecidos — percebe-se um esforço para renovar o público, trazendo à tona esses temas que, muitas vezes, são ignorados pelos fãs mais conservadores.

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Esse esforço de atualização é perceptível na organização do ForCaos 2021. Em sua segunda edição online, devido à pandemia do novo coronavírus, questões como identidades de gênero, sexualidade e raça, e discussões sobre o cenário político brasileiro permearão diversos debates.

Formação e debates

Haru Cage, da Banda Corja
Haru Cage, da Banda Corja (Foto: Divulgação)

A palestra “Reversões Femininas” contará com Gisele Marie Rocha, da banda Mummya; Haru Cage, da Banda Corja; a vereadora de Fortaleza Larissa Gaspar; e a antropóloga Abda Medeiros. Em “Onde estão os Pretos no Underground?”, a discussão ficará por conta de Lohy Silveira, da banda Rabellium; Bruno Teixeira, da Agência 1a1; Francielle Mendes, das bandas Couple Metal e da Headbangueira; e Natália Matos, do Punho do Mahin. “Metal e Conservadorismo” contará com Marc Brito, da banda Heavy Hellway Train; o mestre em Letras Cristiano dos Passos; o músico, jornalista, escritor, ilustrador e ex-Dorsal Atlântica Carlos Lopes; e o dono do selo Vertigem Discos, Vinícius de Oliveira. Estevam Romera fará a oficina de fotografia "Rock.Doc: Luz, Câmera e Distorção".

Vale, inclusive, salientar que aqueles que têm andado em shows e festivais nos últimos anos têm percebido posicionamentos cada vez mais reacionários do público. A presença de skinheads e grupos de ódio a LGBTs nas ruas do bairro Benfica são constantes e apavoram os caminhantes solitários. Por isso, o posicionamento de festivais e produtoras é tão importante não só para garantir a segurança de seu público, como sua inclusão — as minorias precisam ser ouvidas além do espaço do público: precisam também estar no palco.

Claro que aqueles fãs de rock mais antigos, que participaram das primeiras edições do ForCaos, têm sempre as mesmas lembranças: tempos mais simples, marcados por toda a rebeldia que o rock pode proporcionar. Mas hoje, não só o público mudou, tornando-se mais politicamente consciente e necessitado de ações inclusivas, como também a logística por trás de um festival mudou. Em plena pandemia, foi preciso tempo e dedicação de produtores para se adequar à nova realidade de isolamento social. O próprio ForCaos só pôde acontecer graças à Lei Aldir Blanc, que incentiva atividades culturais durante o isolamento social. Em tempos em que a classe artística é prejudicada por medidas de contenção da pandemia — foram os primeiros a parar, e devem seros últimos a voltar — a lei garante um cachê mínimo a músicos, staffs, técnicos e produtores.

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Amaudson, que também é diretor presidente do sindicato dos músicos profissionais do estado do Ceará, expõe: “com dinheiro ou sem dinheiro, a gente faz”. Mas a facilidade do incentivo permite a sobrevivência de todo um setor. “A lei surgiu de um embate no Congresso. Não vai resolver o problema do segmento, mas ajuda”, reflete.

Shows online

A banda Krisium esteve presente em diversas edições do festival, desde 1996
A banda Krisium esteve presente em diversas edições do festival, desde 1996 (Foto: Divulgação)

Esta segunda edição online traz a experiência do ano anterior e a facilidade de apresentar bandas de outros Estados, sem toda aquela dificuldade logística. Krisium, por exemplo, é uma banda de reconhecimento nacional que já esteve presente em diversas edições do festival, desde 1996, mas que agora se apresenta diretamente de Porto Alegre. Nas palavras do baterista Max Kolesne: “acredito que essas lives tenham sido uma injeção de motivação e energia. Assim como para o público, que também pode se energizar com a força do metal nesse momento difícil de pandemia que estamos enfrentando”.

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Tempos difíceis como o que vivemos parecem ensinar ideais de coletividade. Servindo de exemplo, o ForCaos passou por gerações e se renova a cada nova edição. Aos roqueiros da velha guarda que ainda se prendem a uma neutralidade na música, que nunca existiu, de fato, pode-se dizer que espaços estão sendo conquistados. E enquanto alguns apenas torcem os narizes, o rock se renova e toma a dianteira da consciência social através da música.

Serviço:
Forcaos 2021
Quando: de 16 a 21 de março
Onde: www.youtube.com/user/ForcaosTV
Outras informações: accrock.com.br

Programação (sujeita a alteração):
Dia 16/03
- 19 horas – Oficina “Rock.Doc: Luz, Câmera e Distorção”

Dia 17/03
- 16h30min – Roda de conversa “Reversões Femininas”
- 20horas – Roda de conversa “Onde estão os Pretos no Underground?”

Dia 18/03
- 20 horas – Roda de conversa “Metal e Conservadorismo”

Dia 19/03
- A partir das 18 horas – shows com Test, Cérebro de Galinha, Baixo Calão, Jacau e Scum Noise

Dia 20/03
- A partir das 18 horas – shows com Hatefulmurder, Invisible Control, Expose Your Hate e Rebaelliun

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