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Teatro para plateia em situação de rua leva comédia à Praça do Ferreira

Wagner Gonçalves, que está em processo de superação da rua, atuou no espetáculo, que é parte do programa Bienal fora da Bienal
23:33 | Ago. 22, 2019
Autor Lucas Braga
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Lucas Braga Repórter do O POVO Online
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Tipo Notícia

O ator Wagner Gonçalves comemorou aniversário nesta quinta-feira, 22, apresentando encenação adaptada de "O Conto da Ilha Desconhecida" na Praça do Ferreira, Centro de Fortaleza. O público principal foram as pessoas em situação de rua, a quem Wagner chama de “irmãozinhos”, afinal ele já esteve na mesma situação, na mesma praça. A antiga casa virou palco.

A adaptação da obra de José Saramago, apresentada pelo coletivo Arruaça, é parte do programa Bienal fora da Bienal, que acontece durante a XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará.

O sarau urbano teve poesia, música e teatro. Mais que entretenimento, é instrumento de transformação. Foi o que aconteceu com Wagner. “Fiz teatro a vida toda. Mas, três anos atrás, eu saí de casa e fui para a rua. Foi nessa época que conheci o André (Foca, arte-educador). Contei minha história e voltei a fazer teatro. Me firmei e, desde então, como educador social, estou com meu apartamento no José Walter”, celebra.

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A história de superação tem muitas mãos, pessoas que, como ele mesmo diz, “querem fazer mudança e não apenas bater cartão”. São assistentes sociais, educadores e voluntários de projetos sociais, por exemplo, que, de fato, têm como meta serem agentes de esperança. Paralelo a isso, além de comida, roupa, moradia, se faz o direito à educação, arte e cultura.

Para André Foca, arte-educador, militante e integrante do coletivo Arruaça, a programação descentralizada e voltada à população em situação de rua é imperativa. “É uma peleja nossa. A gente acredita na força da arte e traz construções mais próximas deles. O Wagner estava em situação de rua e está superando, hoje é educador, faz parte do nosso coletivo e troca experiências conosco”, pontua.

Confira vídeo:

Plateia

O teatro de rua mostrou, em narrativa leve e linguagem acessível, uma reflexão sobre a vida e o que é necessário para enxergar “A Ilha Desconhecida”. Na noite desta quinta, quase uma centena de pessoas assistiu ao espetáculo.

Alguns dos amigos de Wagner estavam ali, assistindo. Ao contrário dele, ainda permanecem nas ruas pelos mais diferentes motivos.

A encenação divertida da busca pelo novo colocou sorrisos nos rostos do público. A interação, principalmente com as crianças, foi outro atrativo. Elas só se dispersaram com a chegada de comida na praça, o “estouro”. A fome chamou, no meio da peça, mas, minutos depois, voltaram com o pratinho nas mãos.

Além de quem dorme na praça, gente que trabalha no Centro fez questão de parar antes de ir para casa. Foi o que fez a aposentada Fátima da Costa, que vende água na praça José de Alencar. “Eu gostei demais. Ô putaria! A última vez que vi teatro, eu era menina”, riu-se.

Outras pessoas do público se negaram a dar entrevista, mas disseram rapidamente ter gostado. Era perceptível que eles se divertiam com o romance cômico de um sonhador. O texto sugere o fortalecer dos desejos. Talvez, tenham se identificado com a narrativa de busca de outros territórios, de novidade. As gargalhadas ajudavam a findar mais um dia.

A proposta é contribuir para a inclusão social a partir de práticas culturais, trazendo a cidadania à discussão. “Sentimos que eles tinham essa necessidade muito grande de acessar a cultura, de ambas as formas. Uma delas era a questão da leitura”, explica André.

O Coletivo ainda é responsável pelo Projeto Pedal Literário, que está no Centro de Eventos, recebendo doações de livros que são utilizados no Projeto SaraUrbano que acontece nas praças de Fortaleza.

Assistência

Durante e após o espetáculo, profissionais da Prefeitura orientavam sobre como conseguir documentos, assistência médica e bolsa família, por exemplo. Mas reconhecem que a oferta de vagas no acolhimento e aluguel social são escassas.

De acordo os educadores sociais do Centro Pop, além das praças do Ferreira, Murilo Borges e José de Alencar, as proximidades da igreja de São Benedito, nas avenidas do Imperador e Tristão Gonçalves são outros pontos de concentração de pessoas em situação de rua.

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