Desmame das drogas Z estão entre as novas diretrizes do Brasil

Desmame das drogas Z estão entre as novas diretrizes do Brasil

Novo consenso da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) orienta manejo do abuso, dependência e retirada de principais medicamentos para insônia
Atualizado às Autor Rafael Santana Tipo Notícia

Em 2025, o Brasil passa a contar com o primeiro consenso nacional que reúne evidências sobre o uso, riscos e estratégias de descontinuação das chamadas “drogas Z”, classe de medicamentos prescritos principalmente para o tratamento da insônia.

Segundo dados da Anvisa, a venda dessas drogas subiu 66,8% entre 2018 e 2022. Sem orientação médica para o uso, os efeitos colaterais são diversos. Em 2024, foi publicado um decreto que implementa um controle mais rígido sobre a prescrição desses remédios, dado o uso irregular e abusivo, principalmente do Zolpidem.

Elaborado por especialistas da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), com base em revisão sistemática da literatura e método Delphi, o documento tem apoio exclusivo da indústria farmacêutica 100% nacional, Apsen.

Andrea Bacelar, neurologista, médica do sono e uma das coordenadoras do novo consenso, explica que a ABN busca oferecer um norte científico para profissionais de diferentes especialidades, padronizar práticas, reduzir riscos e qualificar o cuidado em torno do uso dessas medicações no país.

“O consenso se estabelece como referência nacional para um tema que vem, cada vez mais, exigindo atenção técnica, protocolos claros e acompanhamento estruturado por parte da comunidade médica, visando preservar a saúde e o bem-estar dos pacientes”, afirma.

É pontuado que esses remédios apresentam risco de dependência, podendo induzir comportamentos complexos durante o sono e causar sintomas graves na retirada, como agitação, delírio e, em casos mais graves, convulsões. Por isso, não deve haver interrupção abrupta, e sim o manejo adequado, que exige uma avaliação clínica completa, individualizada e com acompanhamento contínuo.

O documento também reconhece que, mesmo com um plano estruturado de descontinuação, parte dos pacientes pode apresentar sintomas que dificultam o processo. Para esses casos, o uso de trazodona é uma possibilidade, se aplicado criteriosamente em situações específicas.

A alternativa pode ser considerada quando o desmame desencadeia insônia rebote, ansiedade, irritabilidade ou outros desconfortos que comprometem a continuidade do tratamento. O consenso indica que, para casos mais complexos, é preciso que a descontinuação seja conduzida com supervisão especializada.

“Trata-se de uma medicação mais segura, que não causa dependência e não altera a memória a médio e longo prazo, diferentemente do que ocorre com o Zolpidem, cujo maior risco é a dependência”, pontua.

O cenário da insônia no Brasil

A rotina acelerada e o estresse transformaram o sono em um dos grandes termômetros da saúde. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 70% da população apresenta algum tipo de alteração no sono. Já em 2020, início da pandemia, os casos de depressão e ansiedade aumentaram 25%, evidenciando o vínculo entre o sono e o emocional. Hoje, as consequências permanecem.

Sobre outras abordagens não medicamentosas que auxiliam no desmame das drogas Z, a neurologista Andrea Bacelar destaca: a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I) e a Terapia de Aceitação e Compromisso.

“Utilizamos também estratégias com diversos fármacos. Isso varia desde o desmame gradual e lento — combinado com a família e com o próprio paciente para garantir a adesão ao cronograma — até o uso de antidepressivos, antipsicóticos, a troca por hipnóticos de longa duração ou benzodiazepínicos”, diz.

A especialista pontua que existem tratamentos que ainda não estão disponíveis no Brasil. Ela lembra que, hoje, existe um rigor muito grande para indicar e prescrever esses remédios, sendo exigido um diagnóstico adequado para entender o tipo de insônia, se tem alguma doença psiquiátrica, histórico de adição a substâncias ou consumo de bebidas alcoólicas.

“O tratamento deve ter começo, meio e fim. Ao prescrever, entendemos que o uso deve ser feito por, no máximo, quatro semanas, tratando simultaneamente as comorbidades e iniciando a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia. Isso visa melhorar o sono para a retirada da medicação, servindo como uma estratégia para que o paciente não se torne dependente das drogas Z”, finaliza.

 

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