Paracetamol na gravidez causa autismo? Entenda anúncio de Donald Trump

Associação entre uso de Tylenol na gravidez e autismo foi sugerida pelo Governo Trump que deve fazer um anúncio oficial nesta segunda-feira, 22

10:52 | Set. 22, 2025

Por: Arthur Albano
Donald Trump promete anúncio histórico acerca da causa e do tratamento de autismo nos Estados Unidos (foto: Christopher Furlong / POOL / AFP)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar nesta segunda-feira, 22, suposta associação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o risco de autismo em crianças.

O governo norte-americano também planeja divulgar estudos para uso de um novo medicamento no tratamento do transtorno do espectro autista, categorizado como uma “epidemia” pelo atual secretário de saúde, Robert F. Kennedy Jr.

Paracetamol causa autismo? Entenda o anúncio do Governo Trump

Segundo informações do Washington Post, o Governo Trump deve fazer um grande anúncio nesta segunda-feira, 22, sobre o risco de autismo estar vinculado ao uso de paracetamol na gravidez.

O remédio, também conhecido como acetaminofeno, é um fármaco com propriedades analgésicas e antipiréticas, utilizado para tratar febre e dores nos níveis leves e moderados.

Internacionalmente é comercializado sob marcas como Tylenol, nos Estados Unidos, e Panadol, no Reino Unido, sendo o analgésico de primeira escolha para mulheres grávidas.

Seu uso, porém, vem sendo desaconselhado por pesquisadores. É isso que a última pesquisa feita em agosto pela Universidade de Harvard concluiu, recomendando que gestantes façam uso da medicação apenas com orientação médica.

Essa pesquisa é uma das que vêm sendo revisadas pelas autoridades de saúde norte-americanas, que buscam encontrar uma resposta para o aumento das taxas de autismo no país.

Apesar da associação encontrada, ainda não há uma prova científica que o remédio cause a condição.

O anúncio desta segunda-feira também planeja promover um novo medicamento no tratamento de autismo: a leucovorina. Também conhecida como ácido folínico, é prescrita para neutralizar os efeitos colaterais de alguns medicamentos e para tratar a deficiência de vitamina B9.

Conforme os resultados de ensaios clínicos, controlados por placebo, a administração de leucovorina em crianças com autismo levou a “melhorias notáveis na capacidade de falar e compreender os outros”.

Tanto a associação com o uso de paracetamol na gravidez quanto o uso de leucovorina no tratamento têm suscitado debates na comunidade científica sobre a questão do autismo, uma condição que alguns especialistas consideram predominante genética, e assim, em grande parte intratável.

Governo norte-americano quer descobrir causa e cura do autismo

“O presidente Trump prometeu abordar a crescente taxa de autismo nos Estados Unidos, e fazê-lo com a Ciência Padrão Ouro”, disse o porta-voz Kush Desai em um comunicado. “O anúncio de amanhã representará um progresso histórico em ambos os compromissos”.

O comunicado da Casa Branca veio após a fala de Trump no memorial de Charlie Kirk no domingo, 21, na qual comentou sobre a medida que deve ser revelada em entrevista coletiva.

Trump classificou o anúncio como um “dos maiores da história do país na área médica” e completou: “Acho que encontramos uma resposta para o autismo”.

A fala vai de encontro com o movimento do governo norte-americano que estava investigando o papel do paracetamol e da leucovorina no transtorno há algum tempo.

Executivos da marca Tylenol, que comercializa paracetamol nos EUA, se reuniram com o governo nas últimas semanas para expressar suas dúvidas sobre o esforço federal e discutir os próximos passos.

Quem lidera a iniciativa é o secretário de saúde Robert F. Kennedy Jr, cujo slogan tem sido “Make America Healthy Again” (em tradução direta, “Torne a América Saudável Novamente”), e que tem pautado o autismo como foco principal da sua gestão.

“Lançamos um esforço massivo de testes e pesquisas que envolvem centenas de cientistas do mundo todo”, disse Kennedy em uma reunião de gabinete televisionada em abril. “Até setembro, saberemos o que causou a epidemia de autismo e seremos capazes de eliminar essas exposições”.

Pesquisadores em alerta

O comentário alarmou muitos pesquisadores que entendem que conduzir uma pesquisa desse porte e precisão requer um longo processo.

Além disso, Kennedy é visto com desconfiança desde que se tornou a principal autoridade de saúde do país, por mencionar regularmente que as vacinas estão vinculadas ao autismo, mesmo com décadas de estudos científicos desmascarando a teoria.

O Departamento de Saúde norte-americano, sob liderança de Kennedy, contratou David Geier, um defensor da ligação entre vacinas e autismo, cuja pesquisa tem sido intensamente analisada para conduzir um estudo governamental sobre a conexão entre ambos.

Pesquisas recentes apontam que uma em cada 31 crianças norte-americanas tinha autismo, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em comparação com cerca de 1 em cada 150 crianças no começo dos anos 2000.

Esse aumento levou a um maior investimento acerca do transtorno do espectro autista, condição caracterizada por dificuldades nas habilidades sociais e de comunicação, além de comportamentos repetitivos.

As razões por trás do aumento desta condição permanecem sendo debatidas, mas muitos pesquisadores apontam haver fatores adicionais, além dos mais de 100 genes que já foram associados ao autismo.

OMS desmente Donald Trump: "Evidências inconsistentes"

Em entrevista coletiva feita em Genebra nesta terça-feira, 23, o porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tarik Jasarevic desmentiu o presidente Donald Trump sobre a conexão entre paracetamol e o risco de autismo em crianças.

"As evidências permanecem inconsistentes", disse Tarik confirmando a existência de estudos que mostravam uma possível ligação, mas destacando que esta não foi confirmada em pesquisas posteriores. "Essa falta de replicabilidade realmente exige cautela ao tirar conclusões precipitadas".

Jasarevic também acresceu que as vacinas não causam autismo e reafirmou sua importância de salvar vidas. "Isso é algo que a ciência provou, e essas coisas não devem ser realmente questionadas", pontuou o porta-voz.

Vale destacar que em 20 de janeiro deste ano, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos não fariam mais parte da OMS.

Quem também se posicionou contra as declarações do presidente norte-americano foi a Agência Europeia de Medicamentes que disse nesta terça-feira, 23, por meio de comunicado que não há evidências que exijam mudanças nas recomendações do use de paracetamol durante a gravidez.

Atualizada às 10:55 de 23/09/2025