Entenda o que é a esporotricose e como proteger e tratar gatos infectados

Saiba mais sobre a doença, os sintomas e os tratamentos

O Ceará registrou o primeiro caso de esporotricose autóctone em gatos. O anúncio foi feito pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Ceará (CRMV-CE), na última terça-feira, 17. Até então, o Estado tinha registrado apenas casos de diagnósticos da doença em animais oriundos de outras unidades federativas. Apesar de poder evoluir para o falecimento do animal infectado, a doença já dispõe de tratamento.

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O termo autóctone diz respeito a infecções que se originam do local onde o agente patológico foi encontrado. Daniel Viana é médico-veterinário e proprietário do laboratório PATHOVET, onde foi realizado o diagnóstico do primeiro caso de esporotricose felina originária do Ceará. De acordo com ele, até então, os casos registrados no Ceará eram de animais vindos de outros estados. "Esse animal (que foi diagnosticado pela doença) está aqui no Ceará, habita em um domicílio no Ceará. Ele teve, portanto, a doença aqui. O grande problema dessa situação é que, agora, o Ceará não recebe focos externos, que são contidos e tratados. Agora ele tem um foco próprio, que vai ter que ser contido", explica o especialista.

A doença

 

A esporotricose é uma doença causada pelo fungo sporothrix schenckii. Esse agente se encontra na natureza: no solo, palhas, vegetais, espinhos e em madeira, por exemplo. A contaminação com o fungo acontece quando o agente entra em contato com a pele que está lesionada ou por ingestão. Uma vez que esse fungo entra em contato com a pele machucada, ele pode gerar uma micose, sendo essas superficiais, intermediárias e/ou profundas.

A esporotricose é uma doença que pode se desenvolver em diversas espécies, como bovinos, cães, felinos e, inclusive, em humanos. Segundo Francisco Atualpa Soares Jr., presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Ceará (CRMV-CE), o crescimento desordenado das cidades foi a principal motivação para o aumento da doença em animais domésticos. "No Brasil, antigamente, a gente não tinha essa quantidade de animais de rua e essa criação tão extensiva de animais domesticados. (A doença) era comumente associada a humanos. Com o crescimento desordenado, principalmente, de felinos, teve-se o encontro do micro-organismo do solo com esses animais", comenta o representante do CRMV.

Muitas vezes, os sintomas da doença surgem nos animais de forma semelhante a uma picadinha de inseto. Essa lesão pode provocar certa sensibilidade, podendo coçar. Se não tratada, a tendência é que a lesão progrida e aumente de tamanho. "Ela forma uma ferida, que pode conter pus, porque existem contaminações secundárias de bactérias. Muitas vezes forma nodulações, que podem, inclusive, se confundir com tumores. Essa ferida não cura. Então, muitas vezes, o animal passa por tratamentos diversos e essa ferida não cura. Isso faz com que a suspeita (de esporotricose) apareça", expõe Daniel Viana.

Doença acontece, principalmente, por contato com solo contaminado
Doença acontece, principalmente, por contato com solo contaminado (Foto: Istockphoto/Reprodução)

Por ser uma micose profunda, a infecção pode se disseminar para outros órgãos. No caso dos felinos, caso o animal esteja com baixa imunidade, o fungo pode se alastrar para os pulmões, linfonodos e fígado. "É mais comum que vá para o pulmão e para os linfonodos. Isso provoca no animal o quadro de respiração irregular, cansaços e até desmaios. De fato, se não houver um diagnóstico precoce e um tratamento adequado, o animal pode vir a falecer", alerta o veterinário.

A principal forma de prevenção da esporotricose é evitar o contato do animal com o fungo, presente na natureza. Apesar de ser comum que os pets, principalmente os gatos, saiam de casa, o especialista frisa que manter os animais dentro de casa diminui absurdamente a chance de contato com a doença.

Diagnóstico e tratamento

 

O especialista alerta que, ao aparecer lesões profundas e/ou que aparentam não se curar sozinhas, é fundamental que o tutor leve prontamente o animal ao veterinário. Dessa forma, é possível evitar uma progressão das lesões e, assim, realizar o diagnóstico precoce, bem como tratamento adequado.

O diagnóstico é feito através do exame de citologia ou de biópsia. Além disso, também podem ser usados exames mais rebuscados, como o PCR. Apesar de um alto índice de contágio, a esporotricose não é considerada uma doença grave. Isso porque já existem tratamentos disponíveis, tanto para animais, quanto para humanos

"Depois da avaliação clínica, deve ser realizado um tratamento com antifúngico, já que a gente está tratando de uma micose. A sua duração varia de 3 a 6 meses. Às vezes, até mais tempo. É importante ressaltar que o tratamento não pode ser abandonado", esclarece Daniel Viana. Ele alerta, no entanto, que o tratamento do animal deve ser realizado conforme recomendação e acompanhamento do médico veterinário. Isso porque, caso sejam aplicados de forma incorreta e/ou por muito tempo, os antifúngicos podem provocar efeitos colaterais.

Esporotricose em humanos

 

De forma semelhante ao contágio dos animais, os humanos se contaminam com o fungo através de um ferimento na pele. Sendo através do contato com lesões em animais ou o contato com o fungo na natureza. Dessa forma, não necessariamente a contaminação humana ocorre com o animal como vetor.

Os sintomas mais comuns da infecção em humanos é o aparecimento de ferimentos na pele, sendo eles superficiais ou mais profundos. Essas lesões podem progredir para a formação de nódulos que, da mesma forma, podem vir a crescer e se espalhar pelo corpo. Em casos graves, a doença pode passar para outros órgãos e, assim, se torna fatal.

Humanos podem contrair a infecção em contato com lesões de animais ou com solo contaminado
Humanos podem contrair a infecção em contato com lesões de animais ou com solo contaminado (Foto: Rede Globo/Reprodução )

Francisco Atualpa tranquiliza, no entanto, ao indicar que grande parte das manifestações em humanos se mantém em forma de lesões leves. Segundo ele, a evolução da doença "vai depender de diversos fatores que são estados imunológico do indivíduo, além de aspectos como idade e a exposição a quantidade de qual ele foi exposto

Políticas públicas

O presidente do CRMV-CE frisa que, apesar dos animais serem possíveis transmissores da doença, eles são apenas vítimas. "A superpopulação animal hoje é culpa da população, onde falta responsabilidade, conscientização e educação; e do poder público, que não faz nada de forma efetiva para combater isso", aponta Francisco Atualpa.

Segundo o gestor, é necessário que o poder público estadual desenvolva políticas que foquem em diagnosticar precocemente a doença. Além disso, implementar um sistema de notificação e, assim, barrar a disseminação da doença para outros animais e para os humanos. "Isso não é gasto, é investimento. Se você colocar um sistema de fiscalização, de vigilância, de controle, de monitoramento, você vai evitar sobrecarregar o sistema de saúde para fazer o tratamento da doença", conclui.

 

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