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Sindromes gripais: grávidas e puérperas precisam de atenção especial

Especialista aconselha sobre métodos práticos de prevenção e tratamento para assegurar a saúde na gestação e no período de aleitamento do bebê. Confira

Uma atenção especial precisa ser dada para os grupos de gestantes e puérperas diante do aumento de casos  de Influenza e Covid-19 no Ceará .

Em 2021, as grávidas infectadas, especialmente as que estavam no terceiro trimestre da gestação, adoeceram mais gravemente, tiveram mais frequentemente síndrome respiratória grave, precisaram mais do atendimento nas Unidades de Terapia Intensiva e de intubação, segundo a médica e obstetra Liduina Rocha, assessora técnica da Escola Pública de Saúde (ESP/CE), baseada nos dados do Observatório Covid-19.

Mulheres como Thaís Lima, 28 anos, sentiram na pele as tensões que essas infecções gripais podem ocasionar à gestantes. No ano passado, a jovem contraiu Covid-19 durante a gestação. “Eu me sentia muito cansada. Os sintomas da Covid apareceram durante os quatro primeiros dias de infecção, e só foram aumentando. Foi então que eu tive que procurar uma Unidade de Saúde”.

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Mulheres grávidas precisam ter uma atenção especial em cenários de pandemias e endemias, alerta médica e obstetra, Liduina Rocha
Mulheres grávidas precisam ter uma atenção especial em cenários de pandemias e endemias, alerta médica e obstetra, Liduina Rocha (Foto: Divulgação)

Após obter a confirmação da contaminação, Thaís foi encaminhada para o Hospital Dr. Geral César Cals, onde foi internada. “Eu fiquei em área de isolamento, durante sete dias. Depois disso, eu tive minha filha prematura. Ela nasceu com sete meses. Não é fácil ter Covid na gravidez, a sensação é que você está respirando por duas pessoas”, relata a mãe.

Em sua segunda gravidez, em meio a pandemia, a jovem precisou ser internada novamente, na primeira semana de 2022. “Um ano depois, eu engravidei novamente: eu peguei essa virose, mas achava que era Covid de novo, só que o exame deu negativo. Eu vomitava, sentia febre e muito mal-estar”.

Com seis meses de gestação, ela conta que precisou ser internada novamente, pois não havia tido a melhora esperada. “Voltei para o Hospital Geral César Cals. Fiquei internada e passei 10 dias internada. E com isso, a bolsa da minha bebê se rompeu. A qualquer hora ela pode nascer prematura novamente”.

Em relação à vacina contra Covid-19, Thaís conta que só conseguiu fazer o cadastro na plataforma do Governo do Estado depois que a fase de seu grupo de imunização havia passado, mas ainda não tomou nenhuma das doses do imunizante.

“Eu ainda não tomei, porque eu perdi a primeira fase. Depois não consegui ter acesso durante a repescagem, porque o sistema não me agendava. Mas os médicos daqui me disseram que eu poderia sair da unidade de saúde e ir direto a um posto de vacinação”, finaliza, esperançosa de que irá tomar sua dose.

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Obstetra aconselha métodos práticos de prevenção

Para que situações como as que ocorreram com a jovem sejam evitadas, a obstetra Liduina Rocha explica o porquê de gestantes e puérperas precisarem ter cuidados especiais diante de situações que envolvem pandemias e endemias. A médica também aconselha sobre métodos práticos de prevenção e tratamento para assegurar a saúde na gestação e no período de aleitamento do bebê.


O POVO: As síndromes gripais são perigosas para as gestantes? Se sim, por quê?

Liduina Rocha: As gestantes e puérperas — mulheres que tiveram bebê recentemente — são um grupo de risco para síndromes gripais, pois essas síndromes podem piorar os desfecho da gestação. Nos casos de contaminação por coronavírus, a gravidez complica os casos da Covid com maior possibilidade para o agravamento da doença, ocasionando casos como a síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

Da mesma forma, a Covid-19 complica a gravidez: as gestantes que estiverem com esse quadro grave de saúde possuem maior chance de terem partos prematuros, abortamentos, possibilidade de aumento da pressão na gravidez, hemorragia e processos de tromboembolismo.

OP: Por que as grávidas são consideradas grupo de risco?

Liduina: A justificativa da inclusão das grávidas nos grupos de riscos acontece por causa da imunidade dessas mulheres, que pode ser afetada durante a gestação. E também por causa da pressão do desenvolvimento do feto sobre os órgãos abdominais e pulmão, por isso que quanto mais avançada a gravidez, maior a chance de complicações.

OP: Quais os mecanismos de proteção que as grávidas podem utilizar diante desse cenário de infecções virais?

Liduina: Diante de pandemias e epidemias com vetor viral transmissível por vias aéreas é importante que os grupos de risco se previnam com as barreiras possíveis. A principal barreira individual que nós podemos usar são as máscaras. Grávidas e puérperas devem usar máscara de qualidade – preferencialmente PFF2 ou N95.

Nesse contexto da variante Ômicron, podemos observar que o raio de transmissão do vírus, quando duas pessoas estão sem máscara, chega a três metros. Em uma aproximação entre duas pessoas, sem máscara, a chance de transmissão é extremamente alta.

Já no caso de aproximação com pessoas com máscara adequada, a chance cai para menos de 0,4% de contaminação. Do ponto de vista individual é muito importante que grávidas e puérperas evitem aglomerações e evitem entrar em contato com pessoas com síndrome gripal.

OP: Como esse grupo pode se cuidar em caso de contaminação por viroses?

Liduina: As gestantes e puérperas, diante de um quadro infeccioso gripal, nas primeiras 48 horas, podem fazer uso do Tamiflu (Oseltamivir). O intuito é que através do medicamento se diminuam as complicações dos sintomas de síndrome respiratórias, antes do diagnóstico.

Logo em seguida, as pessoas precisam fazer o teste para Covid-19. Com o teste negativo, se pressupõe que a infecção se trata de Influenza. Nesse caso, a gestante mantém a medicação por cinco dias. 

Uma observação é que se uma gestante teve contato com alguém que estava gripado, a mulher pode fazer a profilaxia. 

OP: Quais os riscos para mulheres grávidas com Covid? Quais os sintomas da infecção?

Liduina: Os sinais de alerta são persistência de febre por mais de três dias, desconforto respiratório, tontura (mantida por hipotensão postural), diminuição da diurese, desidratação, sonolência e letargia. O ideal é que seja observada a saturação de oxigênio das gestantes, com oxímetro. A medida da saturação abaixo de 94 é um sinal de alerta.

É muito importante fazer a prevenção. Nesse caso, a vacina se torna fundamental. É muito importante que as grávidas tomem as três doses da vacina, independente se o parto vai acontecer em breve ou não. As vacinas são seguras e podem ser usadas em qualquer trimestre da gestação.

Gestantes com Covid, especialmente, têm uma chance de desenvolver quadros de complicações durante a gestação, e ter mais chances de precisar de atendimentos em ambiente hospitalar, têm mais chances de ir para UTI, têm mais chance de precisar de intubação e, infelizmente, têm mais chance de óbito.

A morte por Covid, em 2021, foi a principal causa de morte materna (morte que acontece na gravidez). No Ceará, 40% dos casos de morte durante a gestação foram por causa da doença.

Liduina Rocha é médica e obstetra
Liduina Rocha é médica e obstetra (Foto: Arquivo pessoal)

OP: A contraindicação em relação às vacinas para grávidas e puérperas é zero, certo?

Liduina: Não há qualquer contraindicação. O único imunizante, no Brasil, contraindicado é produzido pela AstraZeneca, em função de uma reação adversa grave, ocorrida em 2021. Os outros podem ser usados. Aqui no Ceará, preferencialmente tem se usado a vacina da Pfizer, contra Covid-19.

OP: A mãe pode transmitir o vírus da síndrome gripal para o feto na barriga?

Liduina: Não existe documentação científica bem balizada de transmissão vertical, aquela transmitida durante a gravidez, para Covid. Para Influenza já existe documentação nesse sentido. Mais um cuidado para que se faça prevenção primária e secundária, evitando contrair a doença e evitando as complicações da infecção.

OP: Em relação a amamentação e a mãe está com Covid. O que fazer para não transmitir para o filho?

Liduina: Em relação à amamentação, as mães com síndrome gripal, em período de amamentação, precisam tomar todos os cuidados. Se existe uma síndrome gripal, ela vai precisar ter uma boa higienização das mãos, uma boa higienização das mamas e máscara adequada o tempo inteiro. Após o espirro, tosse ou detecção de umidade da máscara, alguém deve auxiliá-la na troca da máscara.

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