Em áudios vazados, Mauro Cid diz que falas foram distorcidas e critica Moraes: "Ele é a lei"

Na gravação que a revista Veja teve acesso, o tenente-coronel indica que informações são tiradas de contexto e outras omitidas pela Polícia Federal

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do governo de Jair Bolsonaro (PL), disse a pessoas próximas que suas declarações no acordo de delação premiada foram distorcidas. De acordo com áudios que a revista Veja teve acesso, o depoente tem comentado nos bastidores que algumas informações são tiradas de contexto e outras omitidas pela Polícia Federal.

Na gravação realizada semana passada, o ex-ajudante relata condutas erradas de agentes e sobre a própria investigação. O trecho ocorre após depoimento prestado por Cid à PF, na segunda-feira, 11.

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Confira os áudios ao final da matéria 

Conforme Cid, policiais o induziram a colaborar com afirmações de testemunhas. Além disso, ele indicou que um delegado teria o intimidado a reproduzir determinadas informações, sob pena de perder benefícios do acordo.

“Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu. Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, afirmou Cid.

 

Em conversa com um amigo, o ex-ajudante teria desabafado por uma hora. “Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’.”

Segundo Cid, os delegados registravam apenas as informações que se encaixavam com o que ele chama de “narrativa”. “Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, contou o tenente-coronel.

Alexandre de Moraes

Na mesma gravação, o ex-ajudante faz critica duramente Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelas investigações sobre a tentativa de golpe, a venda de joias e registros de vacina falsificados. Todos os casos com Bolsonaro como alvo.

“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, afirmou.

Indicando existir uma filtragem das informações oficializadas pela PF, Cid comenta sobre suposto encontro entre o ministro e o ex-mandatário, sem registro em seus depoimentos.

“Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’.”

E segue: “O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.”

Cid desmente aos amigos até informações que são assinadas nas investigações. Por exemplo, o tenente-coronel confirmou tem recebido ordem de Bolsonaro para produzir a falsificação dos registros de vacina contra Covid-19. Já com pessoas próximas, ele garante não ter recebido a determinação.

Além disso, afirma nunca ter falado em golpe de Estado ou sobre existe uma minuta de teor ilegal.

Nos áudios, outro ponto mencionado pelo ex-ajudante é sobre os prejuízos que teve ao longo do processo. “Quem mais se f. fui eu. Quem mais perdeu coisa fui eu. O único que teve pai, filha, esposa envolvido, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira fui eu”.

“Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né?", continua.

Cid também explica o que o motivou a colaborar com a PF. Na gravação, Cid explica por que decidiu colaborar com a polícia: “Se eu não colaborar, vou pegar trinta, quarenta anos. Porque eu estou em vacina, eu estou em joia…”.

“Vai entrar todo mundo em tudo. Vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo. Entendeu?”. O destinatário parece concordar com Cid. Ele conclui: “A cama está toda armada. E vou dizer: 'os bagrinhos estão pegando dezessete anos'. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?”.

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