Entenda por que a guerra entre Rússia e Ucrânia não tem fim

A Rússia e a Ucrânia vêm percorrendo uma guerra desde 24 de fevereiro de 2023. Nesta sexta-feira, o conflito chega a um ano. Entenda os motivos da guerra e o por quê ela ainda não chegou a um fim

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira, 24 de fevereiro. Desde o início dos ataques ofensivos do país russo, os dois se distanciam da possibilidade de uma saída diplomática ou de um cessar-fogo, o que torna o fim da guerra uma verdadeira incógnita.

A princípio, a Rússia e a Ucrânia seguiam em conflito pela anexação da Criméia, península situada ao sul da Ucrânia, desde 2014. Porém, o estopim para o início da guerra que conhecemos foi a crescente negociação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que foi considerada como uma ameaça à Rússia.

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O pesquisador do Núcleo de pesquisa de Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial (GIS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Iago Caubi, conversou com O POVO sobre a situação dos países.

Segundo o pesquisador, um tratado de paz está longe da realidade dos dois países, pois os objetivos da Rússia e da Ucrânia são inconciliáveis. “Nesse momento, o mais possível seria um congelamento do conflito. Infelizmente, acredito que essa guerra deve perdurar por esse ano até porque teremos eleições na Rússia em breve e com certeza Putin não vai querer apresentar uma derrota militar em sua campanha”, diz.

“A Rússia não apresenta interesse em devolver os territórios (em especial a Criméia) e a Ucrânia sinaliza que não irá abrir mão de suas fronteiras prévias a 2014”, afirma. “Além disso, o massivo e definitivo apoio americano e da OTAN à Ucrânia faz com que a mesma consiga se manter no campo de batalha contra a máquina de guerra russa que é bem maior”, adiciona.

Iago Caubi explica que o motivo da Rússia, mesmo sendo uma grande potência militar, estar tendo derrotas é porque os russos não estão enfrentando apenas a Ucrânia. O pesquisador afirma que a Otan é um fator decisivo na guerra, pois a organização compartilha armas fundamentais, inteligência militar essencial para prever ataques russos e bastante dinheiro para evitar uma queda da popularidade e enfraquecimento do governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Mesmo a Rússia tendo dificuldades em avançar na guerra, ela “ainda possui vasto arsenal militar, além do poder nuclear, enquanto a Ucrânia depende de outros países para responder ao escalonamento do conflito e conseguir impedir a vitória russa, o que coloca a Ucrânia num verdadeiro xadrez geopolítico com dezenas de interesses envolvidos do bloco europeu e dos Estados Unidos”, diz Iago.

Ainda existe a possibilidade de um cessar-fogo entre os países, mas isso não põe um fim no conflito. “Um cessar-fogo é bem mais possível do que um tratado definitivo de paz. A diminuição das tensões após 2014 aconteceu justamente por isso, porém apenas congela o conflito”, conta.

“Esse cenário, infelizmente, é mais comum do que parece pois diversos conflitos e países estão nessas situações como caso da Armênia e Azerbaijão, as Coréias e a própria Rússia com o Japão que apesar de terem se reaproximados, nunca houve um Tratado de Paz definitivo desde a 2º Guerra e vez ou outra as tensões aumentam por ilhas disputadas na fronteira dos dois países”, relembra Caubi.

Para que uma trégua seja uma opção mais viável para os dois países, seria principalmente necessário que a Rússia e a Ucrânia estejam abertas para flexibilizar suas propostas em negociação.

“O primeiro passo seria encontrar pontos comuns em que ambos conseguem flexibilizar suas propostas numa mesa de negociação. Para isso, é necessário que a OTAN e a China estejam de acordo", diz Caubi. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a preparar uma proposta de criação de um grupo de países, que não estão envolvidos na Guerra da Ucrânia, para tentar mediar uma saída pacífica para o conflito. O governo da Rússia está analisando, mas ainda não há indícios de reconciliação dessa forma.

Para uma trégua, é fundamental que a Otan e a China estejam de acordo, pois formam apoio dos dois lados. "A OTAN envia armas para o fronte e a China oficialmente não apoia Moscou nesse sentido bélico mas, caso isso venha acontecer, pode mudar fortemente o rumo do fronte de batalha”, ressalta.

De qualquer forma, não há uma previsão para o fim deste conflito, pois nenhum dos dois países pensa em recuar ou tentar um acordo. Nem a Ucrânia pretende abrir mão dos seus territórios tomados pela Rússia, nem o país russo considera suavizar as ofensivas.

Ao ser questionado sobre existir uma luz no fim do túnel para os ucranianos, o pesquisador ponderou se é realmente possível visualizar um fim próximo a guerra. “Se a Ucrânia se mantiver disposta a ir até às últimas consequências para reconquistar, não apenas o leste, mas a Crimeia, essa luz é improvável no curto prazo”, respondeu.

Em relação às razões da Guerra da Ucrânia, Caubi afirmou que os movimentos separatistas e pró-Rússia se intensificaram no leste ucraniano e aumentaram cada vez mais uma guerra que já estava acontecendo internamente na Ucrânia entre os governos pró-Ocidente e movimentos separatistas apoiados pela Rússia.

“O estopim foi a intensificação das negociações ucranianas com a Otan para participar da organização militar e até sediar bases militares em seu território, o que Moscou considerou uma ameaça direta e fatal às suas principais cidades que ficam relativamente próximas à Ucrânia. A Rússia, então, possui como principal motivação a não adesão da Ucrânia à Otan. Enquanto a Ucrânia busca se sustentar enquanto um Estado nacional soberano e retomar territórios perdidos para Moscou desde então”, relembrou.

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