Análise: A razão de Olavo

"Olavo tem razão". Resta saber do quê

A história é feita de cenários, fatos e personagens. A história política recente do Brasil é incompreensível sem a referência ao nome de Olavo de Carvalho, falecido nesta segunda-feira. Tendo feito carreira como astrólogo, notabilizou-se como colunistas, ainda nos anos 1990, em jornais, que constituem o “sistema” do qual, anos depois, seria um dos destinatários de seus ataques.

Com uma retórica de ataque a tudo que fosse estabelecido – o sistema político, a imprensa, a universidade, a Igreja etc -, ganhou expressão nacional no cenário político de radicalização que levou ao impedimento de Dilma Rousseff (PT), quando se via seu nome estampar cartazes nas manifestações de 2015: “Olavo tem razão”. Talvez tenha sido a primeira vez em que um (auto proclamado) intelectual comparece nomeadamente à política de rua.

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A partir dali, junto da família Bolsonaro, quase que hegemonizou a mentalidade de uma extrema-direita que, com golpes de maestria, capturaria para si aqueles que se opunham à esquerda e ao progressismo. Por isso mesmo, jogou um peso considerável na eleição e no início do governo de Jair Bolsonaro, de quem se dizia próximo (lembremos de seu encontro com Bannon, nos EUA, e a família do presidente), mas a quem não poupou ataques, tudo para manter seu ethos disruptivo. Ricardo Salles, Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Veléz são nomes de ministros “olavistas”.

Durante a pandemia, foi voz altissonante contra as medidas de restrição, e mesmo de desconfiança do vírus. A China comunista era uma de suas obsessões. Foi primeiro com ele, e depois com Bolsonaro, que a direita, inclusive a religiosa, acostumou-se com palavrões como sinal de sabedoria.

Olavo deixa uma vasta obra bibliográfica, fruto de seus inúmeros cursos, muitos deles ministrados pela internet, que guardam uma estreita relação com sua visão de mundo, em que ele se posta acima do “comum”. Seus críticos eram sempre “idiotas” e “imbecis”, daí o nome de seus dois mais importantes livros, dedicados à compreensão do que seria uma mentalidade brasileira: “O Imbecil coletivo” e “O que você precisa saber para não ser um idiota”.

Seu legado permanecerá por ainda muito tempo, sobretudo como modo disruptivo de linguagem política. A morte, lhe assaltando ainda com certa juventude, não freará os movimentos de seus discípulos, dentro e fora do bolsonarismo, para dizer: “Olavo tem razão”. Resta saber do quê.

Emanuel Freitas

Professor de Teoria Política

Uece

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Olavo de Carvalho

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