"Você não vai fazer lockdown no NE para me foder e eu perder a eleição, né?", diz Bolsonaro

Segundo apuração do portal Poder360, a declaração foi feita à médica cotada para o Ministério da Saúde. Ela teria sido questionada sobre sua posição em relação a assuntos como lockdown, uso da cloroquina, aborto e armas

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu nesse domingo, 14, e nesta segunda, no Palácio da Alvorada, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, cotada para assumir o Ministério da Saúde. O portal Poder360 apurou os bastidores do encontro e deu detalhes do que foi conversado entre a médica e o presidente. Favorita ao cargo, a indicação de Ludhmila recebeu o apoio de ministros do STF, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do procurador-geral da República, Augusto Aras; e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

Surpreendida já no encontro de domingo pela presença não anunciada do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Ludhmila foi questionada sobre sua posição em relação a assuntos como lockdown, uso da cloroquina para tratamento contra a Covid-19, aborto e armas.

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Segundo a reportagem apurou, durante o encontro, Bolsonaro não escondeu sua preocupação com o apoio popular, deixando claro, ainda que indiretamente, que o prioriza em detrimento de medidas emergenciais para conter a disseminação do vírus. Em um dado momento ele teria questionado: “Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?”.

Declaradamente favorável ao isolamento mais rígido e contra o uso da cloroquina no tratamento da Covid, Ludhmila defende uma agenda oposta a de Bolsonaro, que poderia perder apoio de suas bases com a nomeação da médica.

Na reunião, ao defender medidas de isolamento mais rígidas em situação de aumento de casos e de óbitos, a médica foi prontamente rebatida por Pazuello, que disse ter dados diferentes e que os governadores estariam mentindo sobre a taxa de lotação de UTIs e outras estatísticas da doença.

Em outro momento, ao ser indagada sobre o remédio defendido pelo presidente, Ludmila, em tom conciliatório, disse que não iria rebater o presidente eventualmente no Ministério da Saúde, mas que essa fase já havia passado.

O presidente, por sua vez, teria insistido, na justificativa de que não há um tratamento exato para a Covid e que os médicos têm liberdade de prescrever o que quiserem. O argumento exposto para a médica já foi dado publicamente pelo presidente, que defendeu a prescrição de remédios “off label”, ou seja, para tratamentos de doenças não previstas na bula.

Já Eduardo Bolsonaro limitou-se a perguntas de cunho mais ideológico e quis saber a opinião de Ludhmila acerca de dois temas: aborto e armas. Segundo apurou o Poder360, ela respondeu que considerava o tema das armas relacionado a polícias e às Forças Armadas, e que não nutria simpatia por armar a população. Não foi possível apurar sua resposta a respeito de aborto.

Pouco depois do encontro desta segunda-feira, a médica foi à CNN Brasil e à TV Globo dizer que foi convidada para assumir a Saúde, mas que recusou por “motivos técnicos”. A nomeação da médica, que era de gosto de figuras importantes da política nacional, chegou a ser sinalizada pelo próprio presidente, mas não vingou. O presidente da Câmara, Arthur Lira, chegou a se manifestar em suas redes sobre a possível substituição de Pazuello por Ludhmila.

“Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do País e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, escreveu em seu perfil no Twitter.

Após a recusa de Ludhmila, Bolsonaro escolheu o médico Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde. Será o quarto nome a assumir a pasta desde o início da pandemia, comandada desde maio do ano passado pelo general Eduardo Pazuello. Ele se reuniu com Bolsonaro na tarde desta segunda-feira, 15.

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