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PT e PDT falam em impeachment, enquanto Bolsonaro negocia cargos federais por apoio do Centrão

Submerso em turbulência política e crise do coronavírus, presidente da República mantém diálogo com partidos do Centrão para trocar apoio no Congresso por cargos federais
19:55 | Abr. 22, 2020
Autor Carlos Holanda
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Carlos Holanda Repórter
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Tipo Notícia

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), afirmou ao O POVO que a legenda vai apostar objetivamente numa atuação em Brasília que aponte para a deposição do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o parlamentar, ainda não havia clima para uma tomada de posição mais enfática por parte do partido. Porém, conforme ele relatou, diante do apoio ao ato do último domingo, 19, contra o isolamento social, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF), e pela reedição do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que cassou liberdades na Ditadura Militar (1964-1985), o sentimento no petismo é de que não há outra alternativa.

O Partido dos Trabalhadores chegou à decisão após videoconferência entre as bancadas da Câmara e do Senado com o ex-presidente Lula, liderança máxima da legenda. Candidato derrotado na corrida presidencial, Fernando Haddad (PT) também participou da conversa. "No Congresso Nacional", diz Costa, "diferentemente de algum tempo atrás, já se fala abertamente, sem qualquer tipo de comedimento, da eventual possibilidade de impeachment."

Para ele, se o presidente continuar a "cometer crimes de responsabilidade como tem cumprido, crimes contra as instituições como cometeu no fim de semana, sinto que já há ambiente para se pensar em alternativas sem ele." Nesta tarde desta quarta-feira, 22, o PDT de Carlos Lupi e dos cearenses Ciro Gomes e André Figueiredo, líder da oposição entre os deputados federais, anunciou que irá protocolar na Câmara dos Deputados o pedido de impedimento do capitão da reserva do Exército. O POVO fez contato com Figueiredo e aguarda resposta.

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O líder da Minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), adianta que a legenda tentará fazer ecoar movimento "em defesa do emprego, da democracia, da vida", pedindo sobretudo "Fora, Bolsonaro." "Foi isso que nós aprovamos com as duas bancadas do PT e com presidente Lula." Guimarães ainda fala na intenção de organização de uma frente ampla, ou seja, de um grupo suprapartidário do campo progressista que atue conjuntamente pela queda de Bolsonaro.

Bolsonaro flerta com o Centrão

Em meio à turbulência da pandemia do novo coronavírus, o presidente da República trabalha na tentativa de solidificar uma base de apoio no Parlamento. Embora tenha dito ao manifestantes em Brasília que "não queremos negociar nada", a agenda política é intensa. Ele esteve nesta quarta-feira, 22, mesmo reunido com o presidente do MDB, Baleia Rossi (MDB-SP), e com Eduardo Braga, líder da Maioria no Senado. A informação é da agenda oficial da Presidência.

A estratégia do presidente é de minar a influência de seu adversário declarado, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entre os deputados. O sentimento do chefe do Executivo, por vezes expressado publicamente, é de que Maia trabalha pela sua queda. Para esvaziar o presidente da Câmara e adquirir força política nas casas legislativas, cargos federais estão na mesa à disposição de líderes partidários do Centrão.

Há a possibilidade, inclusive, de o Partido Liberal (PL) de Waldemar Costa Neto, preso no escândalo do mensalão petista, ficar com a presidência do Banco do Nordeste (BNB), sediado em Fortaleza. Atualmente, o cargo máximo da instituição é ocupado por Romildo Rolim, apadrinhado pelo ex-presidente do Congresso Eunício Oliveira (MDB).

A tarefa do Planalto é tentar fazer com que estas negociações não assumam ar contraditório, uma vez que o presidente se elegeu em 2018 ancorado em discurso de críticas sistemáticas ao "toma-lá-da-cá" inerente ao que se entende por "velha política". O Centrão foi alvo de protestos, já que se estabeleceu dentro da lógica de troca de cargos, tanto em governos petistas, quanto em mandatos tucanos.

Análise do movimento de Bolsonaro

O cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entende que o presidente age corretamente ao se curvar às demandas dos partidos por espaços de poder na máquina federal. "Primeiro, ele precisa de governabilidade para fazer com que o País saia dessa crise econômica que virá após o coronavírus. Em segundo lugar, você evita uma crise política que poderia resultar no impeachment ou até num grande conflito e numa intervenção das Forças Armadas."

O professor pondera, contudo, que o presidente pode ter feito isso por pressão dos próprios militares que participam do Governo ou mesmo pela pressão natural da conjuntura, repleta de tensionamentos. Os dois fatores trouxeram "realismo ao presidente", conforme prossegue Oliveira, mas o horizonte ainda é incerto. O primeiro ponto é saber se Bolsonaro cumprirá a promessa com os partidos, ele diz. O segundo, se os partidos vão confiar no capitão reformado.

"Em terceiro lugar, como irá reagir a base do presidente? Tenho duas hipóteses, ela irá apoiar a decisão do presidente, justificando que só assim ele pode governar, e, consequentemente, ignorar (o toma-lá-da-cá). Ou, numa segunda hipótese, parcela dessa base, não o todo dessa base, reclamar do presidente e o presidente desfazer o trato com os parlamentares."

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