Panetone feito por presidiários é considerado um dos melhores da Itália
Este ano, uma loja destinada para a venda dos produtos feitos pelos detentos foi inaugurada. A expectativa é que 80 mil panetones sejam produzidos
O panetone é uma das maiores iguarias italianas e, na época das festas de fim de ano, cerca de 9,5 milhões são consumidos. Esse ano, no entanto, a inclusão da fabricante Pasticceria Giotto no ranking dos 10 melhores panetones italianos surpreendeu diversos apreciadores da iguaria. Isso porque os bolos de Natal da Giotto são feitos por presidiários dentro de uma prisão.
Segundo o jornal The New York Times, a produção acontece na penitenciária de Due Palazzi, nas imediações de Pádua, nordeste da Itália. A produção, supervisionada por quatro chefs patissier, é realizada durante seis dias por semana, começando às quatro horas da manhã. Os produtos são fornecidos a confeitarias e hotéis da região. Além dos famosos panetones, Giotto também produz biscoitos, tortas, torrones, chocolates e sorvetes.
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O programa foi adotado em 2005 e é promovido pela Work Crossing Cooperativa Sociale per Azione, uma ONG que atua em programas profissionalizantes de penitenciárias. No início de dezembro, a cooperativa inaugurou uma loja da Pasticceria Giotto em Pádua. Este ano, a equipe Giotto espera produzir mais de 80 mil panetones.
Ressocialização
Além de um sistema prisional superlotado, a Itália detém um índice de reincidência criminal de 70%. Segundo o Ministério da Justiça, contudo, esse índice diminui para 5% quando os detentos trabalham na prisão. Matteo Marchetto, presidente da Pasticceria Giotto, lembra que Constituição italiana menciona educação como parte fundamental da pena na prisão. “A sentença tem de ser cumprida completamente, mas, ao mesmo tempo, deve oferecer um caminho para a reabilitação. De outra maneira, esses anos significam um desperdício de recursos públicos", afirmou.
O jornal americano explica que, antes de serem aceitos no programa, os detentos devem ser acompanhados por um psicólogo durante seis meses. Após isso, passam por estágio, também de seis meses, para se tornarem funcionários efetivos.
A princípio, os funcionários ganham 650 euros, cerca de R$ 4,2 mil por mês. Posteriormente, podem ser promovidos, passando a ganhar 800 euros, ou R$ 5,2 mil. Os presos podem chegar a ganhar até 1 mil euros, o equivalente a R$ 6,5 mil. O acompanhamento psicológico continua durante todo o processo.
“Uma coisa que nos dá grande satisfação é ver um sujeito que nunca trabalhou na vida e passou anos na prisão apaixonar-se gradualmente pela confeitaria, adquirir um senso de responsabilidade pelo que está fazendo e começar novamente a confiar em si mesmo e nos outros”, afirmou Matteo Concolato, um dos chefs patissier que supervisionam o trabalho dos detentos.
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