"Deu 34 facadas, tomou banho e saiu": relata pai de Clarissa sobre feminicídio
A enfermeira Clarissa Gomes foi morta em outubro deste ano. De acordo com o pai dela, a mulher decidiu se afastar do acusado após perceber atitudes diferentes
17:34 | Nov. 04, 2025
Luciano Gomes, pai da enfermeira Clarissa Gomes, 31 anos, vítima de feminicídio em julho deste ano, falou sobre o crime após a primeira audiência do caso, ocorrida no dia 29 de outubro, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza.
Os autos apontam que Clarissa foi morta pelo ex-companheiro, Matheus Anthony Lima, que não aceitava o fim do relacionamento.
Segundo o pai, o namoro, a princípio, não aparentava violência, mas ele já percebia sinais preocupantes no comportamento do réu.
"Era um cara que, aparentemente, não era corajoso para trabalhar. E isso caracteriza uma pessoa que não queria futuro. Eles se conheceram na igreja, ele se apresentava como uma pessoa decente, que não bebia, não fumava. Em outras entrevistas que eu dei, comentei que preferia que ele bebesse, fumasse, mas se apresentasse verdadeiramente como era."
"Ele sentia inveja dela"
Luciano descreve a filha como uma mulher dedicada aos estudos e à carreira de enfermeira. "No dia em que aconteceu (o crime), ela havia passado em um concurso interno e isso ia melhorar a condição financeira dela", relata.
Para o pai, Matheus não só tinha inveja do sucesso da namorada, como também a explorava financeiramente.
"Ela procurava incentivá-lo até financeiramente e fazia até o papel de mãe: saía cansada do plantão para deixá-lo no trabalho, para que ele não se atrasasse. Minha filha começou a observar essas atitudes e a se afastar. E ele viu que ia perder a Clarissa. Ele chegou a dizer aos amigos que a Clarissa era uma bolsa de ouro para ele."
"Ele tirou a vida de todos nós"
O pai da vítima detalhou a frieza do crime e contestou a possível linha de defesa que alega problemas de saúde mental do acusado.
"Ele deu 34 facadas, tomou banho e saiu, trancou a porta. Como é que se diz que ele tem problemas de saúde mental, alegando que ele toma um remédio para epilepsia? Se a Justiça não for feita, ele fará isso com outras mulheres."
"Ele tirou a vida não só da Clarissa, mas de todos nós. A Clarissa era o equilíbrio da família. O dia de ontem (Dia de Finados) foi algo que nunca esperamos viver. A gente vê a violência o tempo todo, mas acha que nunca vai acontecer conosco. E (fomos vítimas) de uma pessoa que a gente achava ser de confiança. A Clarissa ia voar muito, mas infelizmente esse ser cortou as asas dela"
"Tentamos curar a ferida, mas ela foi reaberta", diz pai sobre audiência
O pai relatou que a audiência foi um "sofrimento em dobro", pois a família teve que ver imagens do caso, algumas inéditas. O depoimento da mãe, que durou três horas, intensificou o trauma. "A situação foi tão dramática que ela mal conseguiu se levantar da cadeira", contou. "Nós tentamos curar a ferida, mas ela foi reaberta."
Instauração de incidente de insanidade mental
A defesa de Matheus Anthony informou que solicitou o requerimento de instauração de Incidente de Insanidade Mental, uma medida técnica, que é prevista em lei, no intuito de garantir que a condição psíquica do acusado seja avaliada por perícia oficial e imparcial.
Conforme o advogado Euclides Augusto Maia, a providência não antecipa conclusões ou formula juízo de valor sobre a acusação. "Ele sofria de várias doenças de natureza mental: epilepsia, ansiedade e transtornos. Somente com uma avaliação por meio de um perito psiquiátrico forense pode ter uma avaliação adequada", descreve.
De acordo com a defesa, o homem estava depressivo e sem conseguir trabalhar. "Ela o ajudava e apoiava para que ele vencesse essa doença e estava cada dia pior. Não é o advogado ou promotor que vai determinar a condição de saúde, e sim um médico perito", afirma.