Motorista denuncia ter sofrido agressão durante blitz em Fortaleza

Motorista denuncia ter sofrido agressão durante blitz em Fortaleza

Caso aconteceu na avenida Lineu Machado, na noite do último sábado, 11; conduta de profissionais envolvidos está sendo analisada
Atualizado às Autor Gabriela Almeida Tipo Notícia

Um motorista relata que teria sido agredido por agentes do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran) e da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) durante abordagem realizada em Fortaleza, na noite do sábado passado, 11. Conduta de profissionais envolvidos está sendo analisada.

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Conforme Samuel Miquéias, 29, ele e a esposa levavam no carro os três filhos, com idades de 5, 7 e 11 anos, para passear quando o mais novo começou a ter um ataque epilético e eles precisaram ir até um hospital. No caminho, passaram pela avenida Lineu Machado, onde acontecia uma blitz do Detran. 

"Quando eu cheguei na rua eu desci o vidro, (o agente) pediu a documentação do carro e eu falei 'moço, tô indo pro hospital, meu filho está passando mal'. E ele disse 'encoste o carro ali e vá a pé'', relatou Miquéias, que conduzia o veículo, dizendo ter continuado insistindo para seguir até a unidade médica.

"(Eu disse) 'Você tem que me deixar passar, meu filho tá passando mal, e ele 'bora, encosta o carro agora', gritando comigo. E eu pedindo calma, foi na hora que ele me deu uma mãozada nos meus peitos", conta.

Samuel diz que chegou a ficar "desnorteado" com o gesto e que pegou o celular para gravar a continuidade da abordagem. Ele conta que nessa hora chegaram dois policiais da PRE e que um deles teria torcido o seu braço, ainda dentro do veículo, e colocado uma arma de fogo próximo a sua barriga.

Na gravação que realizou, enviada ao O POVO, é possível ver o militar gritando para que o motorista saísse do veículo e ouvir Samuel dizendo frases como "Eu tenho um filho doente cara" e " Vai atirar em mim?".

Em seguida ele deixa o automóvel e chega a questionar a atitude dos agentes. "Eu sou cidadão, ele me agrediu, ele bateu nos meus peito", diz para um segundo policial, explicando novamente o motivo de não ter descido.

Dentro do carro, sua esposa chora segurando nos braços o filho do casal, que estaria passando mal. "Meu filho! Meu filho!", grita, enquanto as outras duas crianças saem do veículo chorando, assustadas. 

"Quais os filhos que querem ver o pai em uma situação dessas? Sou um cara que nunca tive problema na Justiça, sou trabalhador (...) E ai o cara vem e me humilha na frente dos meus filhos", diz. 

Samuel conta que os agentes não prestaram apoio ao seu filho mais novo. De acordo com ele, a criança costuma ter dois tipos de crises: uma mais séria, que só passa com medicação na veia, e outra onde ele trava o pescoço e congela, voltando geralmente ao normal após um tempo, sem precisar de remédios. 

No sábado, o pequeno, que também tem microcefalia, teve esse segundo tipo de crise, mas os pais resolveram levar logo ao hospital para amenizar o quadro e evitar que piorasse, como medida de precaução.

Conforme denunciante, como os agentes teriam "impedido" a ida a unidade de saúde, e após os momentos de tensão que teriam vivido, ele voltou para casa com sua família de carona. Samuel disse que o filho teve o quadro revertido normalmente, sob os cuidados dos pais. 

Carro é multado por infrações

De acordo com Samuel, ele foi multado, teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) bloqueada e o carro levado por agentes. Na multa, apresentada ao O POVO, há a informação de que a infração foi aplicada em razão do motorista "transpor bloqueio viário policial". "Eles dizem que eu fugi, mas eu não fugi", defende.

Ele conta que estava atuando como motorista de aplicativo e que agora está sem condições de ter renda, por não ter mais o carro, e diz ter ficado "traumatizado, com medo de sair" após o episódio acontecer.

Samuel conta que a situação também teria traumatizado suas duas filhas mais velhas, e que o veículo era utilizado para levar o filho mais novo, que tem epilepsia, ao médico. 

O motorista esteve no Detran para apresentar uma defesa diante a acusação de ter fugido da multa e também foi a uma delegacia abrir um Boletim de Ocorrência (BO).

Caso está sendo analisado e conduta dos agentes é avaliada

Procurado pelo O POVO, o Detran disse estar analisando a ocorrência com base nos "fatos verificados no vídeo, onde será avaliada a conduta de seus agentes".

"O órgão estadual de trânsito reforça que nenhum agente do órgão trabalha armado e que repudia qualquer tipo de atitude que seja incompatível com os seus princípios legais", destaca ainda. 

Já a Policia Militar do Ceará (PMCE) diz ter atuado "em apoio a agentes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) durante uma ocorrência em que o condutor de um veículo desobedeceu à ordem de parada e foi flagrado transportando uma criança de forma irregular, no banco dianteiro".

Entidade frisou ainda que, quando agentes consultaram a placa do automóvel, constataram que o mesmo apresentava débitos de licenciamento e multas. 

"O motorista foi autuado por outras infrações do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), entre elas transpor bloqueio viário policial, conduzir veículo não licenciado e transportar criança sem as normas de segurança. Só em 2025 o mesmo condutor foi autuado por dirigir ameaçando os demais veículos ou pedestres, avançar sinal vermelho do semáforo ou de parada obrigatória e transpor bloqueio viário policial", frisou.

Instituição informou ainda que denúncias de desvio de conduta envolvendo policiais militares devem ser formalizadas junto à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). 

"A PMCE reforça que não compactua com desvios de conduta por parte de seus integrantes e repudia veementemente qualquer ato que contrarie os valores institucionais e o compromisso com a sociedade", destaca.


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