Chacina do Curió: penúltimo julgamento começará nesta segunda com sete policiais como réus por omissão
Uma vigilância de apoio às mães das 11 vítimas foi montada em frente ao Fórum Clovis Bevilaqua
Mais uma vez, as mães das 11 vítimas da Chacina do Cúrio pedem justiça, no 4º e penúltimo julgamento dos policiais militares acusados de envolvimento no massacre. Serão julgados nesta segunda-feira, 25, sete policiais suspeitos de omissão. O julgamento acontece no Fórum Clovis Bevilaqua.
Uma vigilância de apoio às mães das 11 vítimas foi montada em frente ao Fórum e irá acompanhar o novo julgamento contra os réus. A iniciativa é do movimento “11 do Cúrio” e “Mães do Cúrio”.
Por volta das 9h30min, a sessão de julgamento foi instalada e começaria o sorteio dos jurados. Foram 50 convidados e sete serão sorteados.
O massacre aconteceu na Grande Messejana, em Fortaleza, entre os dias 11 e 12 de fevereiro de 2015 e completou uma década neste ano. As vítimas, maioria jovens, tinham entre 16 e 47 anos. Outras sete pessoas também ficaram feridas no crime.
Procurador-Geral de Justiça, Haley Carvalho, destacou que o quarto julgamento foca no núcleo de omissão, que inclui PMs que não cumpriram o dever de evitar crimes.
O procurador afirma que a omissão penal relevante é crucial, pois se suas ações tivessem sido tomadas, os crimes provavelmente não teriam ocorrido da mesma forma.
De acordo com o procurador, a acusação chegou à conclusão da omissão dos sete policiais a partir de provas colhidas, incluindo testemunhos de 240 pessoas, depoimentos dos próprios réus, perícias com georreferenciamento e análises de mensagens de WhatsApp e áudios de rádio.
Os policiais que estão sendo julgados são: Daniel Fernandes da Silva, Gildásio Alves da Silva, Luis Fernando de Freitas Barroso, Farlley Diogo de Oliveira, Renne Diego Marques, Francisco Flávio de Sousa e Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa.
Defesa de policiais acusados
O advogado Valmir Medeiros, da Associação dos Profissionais da Segurança (APS), representa quatro réus acusados: Daniel Fernandes da Silva, Gildásio Alves da Silva, Luis Fernando de Freitas Barroso e Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa.
A defesa argumenta que a acusação do Ministério Público não tem provas ou evidências concretas que liguem os réus aos crimes. Afirma que os policiais estavam sob monitoramento do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) e distantes dos locais das mortes aconteceram. A defesa afirma que os réus serão absolvidos.
“Não há provas porque eles não se omitiram. Todo o percurso que eles fizeram é rastreado pelo GPS. A cada 3 minutos o GPS da Ciops sabe onde eles estão e eles não estavam perto de onde aconteceu nada. Ou seja, o Ministério Público trabalha que com a ideia que eles se omitiram e não pode”.
O advogado disse ainda que, em 2018, houve uma delação. “Colaboração premiada, em que a pessoa que colaborou citou como teria ocorrido e o Ministério Público não foi atrás. O Ministério Público estava satisfeito em acusar esses policiais que estão sendo julgados hoje, como os outros que já foram julgados.”
“O problema todo é que a Justiça não pode condenar alguém. A Justiça tem que condenar culpados. E o Ministério Público está querendo é condenar alguém”, disse o advogado.
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Policiais são acusados por não fazerem nada para impedir a Chacina do Curió
A acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE) revela que, no dia do crime, os policiais estavam de serviço e em viaturas caracterizadas na região, e nada fizeram para impedir os assassinatos.
Ainda segundo o órgão, os 11 homicídios foram considerados duplamente qualificados, praticados por motivo torpe e mediante recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa das vítimas.
Já três dos sete feridos foram relacionados a homicídios tentados, também considerados duplamente qualificados e cometidos por motivo torpe com recurso que impossibilitou ou dificultou a defesa das vítimas. Outros três crimes foram considerados de tortura física e um de tortura psicológica.
As vítimas mortas durante o crime foram Alef Sousa Cavalcante, 17 anos; Antônio Alisson Inácio Cardoso, 17; Francisco Enildo Pereira Chagas, 41; Jandson Alexandre de Sousa, 19; Jardel Lima dos Santos, 17; José Gilvan Pinto Barbosa, 41; Marcelo da Silva Mendes, 17; Patrício João Pinho Leite, 16; Pedro Alcântara Barroso, 18; Renayson Girão da Silva, 17; e Valmir Ferreira da Conceição, 37.
Atualizada às 11h10
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