Corrupção policial na Grande Messejana: câmeras em viaturas incriminaram PMs

Com autorização judicial, MPCE e Coin identificaram episódios em que 16 policiais, supostamente, aparecem recebendo propinas ou extorquindo traficantes

18:13 | Ago. 01, 2025

Por: Lucas Barbosa
Câmeras instaladas com autorização judicial em viaturas policiais flagraram agentes de segurança em supostos casos de extorsão e corrupção passiva (foto: Reprodução)

Câmeras em viaturas registraram episódios em que policiais militares que trabalhavam na região da Grande Messejana, em Fortaleza, entre 2022 e 2024 apareciam cobrando R$ 400 para não prender um homem que tinha mandado de prisão em aberto ou, então, exigindo R$ 3.600 de uma mulher.

Nesta quinta-feira, 31, a Auditoria Militar do Estado do Ceará retirou o segredo de Justiça existente nos autos do processo referente à operação Kleptonomos, deflagrada na última terça-feira, 29, contra 16 policiais militares.

Como O POVO mostrou na terça, as investigações tiveram início após uma denúncia anônima, feita por uma pessoa que afirmou ter sido, acidentalmente, incluída em um grupo de WhatsApp em que traficantes abordavam os pagamentos aos policiais.

Para confirmar as práticas criminosos, a Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e a Assessoria de Inteligência (Asint) da PMCE utilizaram, em dezembro de 2022, um drone, que registrou o que seria uma entrega de propina feita por um traficante a PMs.

Diante desses indícios, o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPCE), solicitou à Justiça uma medida cautelar de captação ambiental nas viaturas, visando monitorar os PMs suspeitos.

Em 2023, foram captados áudios e vídeos que identificaram três ações criminosas cometidas por PMs que ocupavam a viatura RP 16253. Em uma das situações descritas, um homem com mandado de prisão em aberto teria sido liberado, no dia 21 de abril de 2023, após entregar R$ 300 aos policiais e prometer o pagamento de mais R$ 100.

Um dia depois, três PMs são flagrados indo até a comunidade do Por do Sol, no bairro Coaçu, onde, conforme dizem, receberiam um “QS” — dinheiro no jargão policial.

“Exatamente às 20:17:09 é possível ver um rapaz, vestindo uma bermuda escura, se aproximando da VTR (viatura) ao lado do passageiro, momento que o passageiro se desloca para próximo do vidro e é audível a seguinte frase: ‘Bora meu fi, agilidade’” (Sic), descreve o MPCE na denúncia.

“Nesse momento, é bastante provável que o indivíduo tenha jogado o pagamento da 'COTA' (propina) para dentro da viatura”. Já em 25 de novembro de 2023, um PM foi flagrado, em uma telefonema que estava no viva-voz, exigindo R$ 3.600 de uma mulher supostamente ameaçada de morte.

O policial estava dentro da viatura com outros dois agentes de segurança. Ele conversava com uma segunda mulher, que aparentava estar atuando como intermediadora da negociação. “Aí, faça o seguinte (...) você fale com ela, manda ela arrumar, mah, ela disse que ia arrumar um cartão” (Sic), afirma o policial, conforme foi registrado.

“O negócio é que ela pensa que tá imune onde ela tá. Quando o pessoal bater na porta dela, ela não vai tá imune não, aí pode ser tarde pra ela também. Não é brincadeira não, mah".

Saiba quem são os PMs denunciados

As investigações do Gaeco identificaram o cabo Alisson Pinto Silva como o líder dessa organização criminosa formada por policiais militares. “Referido policial era responsável por repassar as determinações aos colegas de farda aqui denunciados, utilizando-se para tanto do aplicativo de celular WhatsApp para combinar os delitos”, é citado na decisão judicial de recebimento da denúncia do MPCE.

Além de Alisson, foram denunciados: o subtenente José Narcellyo do Nascimento Santana, o primeiro sargento Márcio Xavier Moreno, o segundo sargento Flauber Pereira Assunção, os terceiros sargentos Raimundo Gleison Ferreira Barbosa e Marcondes de Oliveira Braga, os cabos José Dantes Barbosa Braga e Roberto Montenegro da Cunha Neto, e os soldados Dalite Paulo Maia Pinheiro, Alexsandro Barbosa Matias, Danyvan Robert Souza da Silva, Airton Uchoa de Sousa Pereira, Tiago Daniel Martins Costa, Israel Rodrigues Costa, Thiago Monteiro da Costa e Luan Alberto da Silva Lopes.