Postos de Saúde de Fortaleza continuam com falta de medicamentos básicos

Postos de Saúde de Fortaleza continuam com falta de medicamentos básicos

Postos de Fortaleza enfrentam escassez de medicamentos essenciais, incluindo remédios para diabetes, hipertensão e analgésicos

Diversos postos de saúde de Fortaleza continuam enfrentando a falta de medicamentos básicos . De acordo com os pacientes, a escassez de medicamentos abrange desde remédios simples, como Dipirona, até aqueles utilizados no tratamento de doenças crônicas, como os medicamentos para diabetes e hipertensão, de uso contínuo. A situação de escassez de medicamentos se agravou desde o final do ano passado.

Na última semana de fevereiro de 2025, durante evento de entrega de ambulâncias para o Samu Fortaleza, a secretária municipal de Saúde, Socorro Martins, afirmou que  o fornecimento de medicamentos na atenção básica deveria ser regularizado na semana seguinte , após o Carnaval.

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Na manhã desta quarta-feira, 12, O POVO visitou alguns postos de saúde para verificar se o fornecimento dos medicamentos foi normalizado. No entanto, conforme relatos de pacientes, a situação parece ter se agravado ainda mais.

Nos postos, segundo os pacientes, os fármacos que apresentam maior déficit são os para tratamento de diabetes e hipertensão, como Diamicron, Captopril e Losartana. Contudo, analgésicos e antitérmicos também estão em falta.

No posto Oliveira Pombo, bairro Couto Fernandes, Leonardo Melo da Damasceno, 35, não conseguiu receber o medicamento Diamicron, direcionado ao tratamento de diabetes. Sendo também soropositivo, ele relata a frustração de não conseguir completar o tratamento necessário.

“Eles [funcionário] dizem assim: ‘Vem outro dia’. A gente vem e não tem. Um bocado de gente volta para casa com essa dúvida, volta outro dia e dizem que não tem de novo. Não tem nada, a farmácia está vazia”, lamenta.

Danilo Sousa de Menezes, 42, há oito anos vende lanches na frente do posto Oliveira Pombo. Ele também enfrenta o problema ao buscar remédios para a esposa, que tem pressão alta.“Ela toma captopril, mas dizem que não tem. Só falam para procurar em farmácias próximas para comprar. A gente tira do nosso bolso”, relata Danilo.

Segundo ele, os funcionários não informaram se o remédio está disponível na Farmácia Popular, programa do governo federal que distribui medicamentos gratuitamente ou a preços reduzidos.

Além da falta de remédios, Danilo afirma que a dificuldade em conseguir atendimento médico também preocupa. “Tem gente que tem consulta marcada e não consegue atendimento. A minha esposa já teve que remarcar duas vezes porque não tinha médico”, conta.

A situação se repete em outras unidades da cidade. Moradora do bairro Henrique Jorge, Gleiciane Bernardo, 34, tem percorrido diversos postos em busca de medicamentos para a mãe, que faz uso contínuo de Losartana, Omeprazol e Carbonato de Cálcio.

“Já fui ao Posto de Saúde Senador Fernandes Távora e ao Posto de Saúde Maciel de Brito, no Conjunto Ceará. Agora cheguei aqui no Waldemar Alcântara(Jóquei Clube). Dizem que está faltando e não há previsão de chegada. Minha mãe recebe pela Farmácia Popular, mas a receita venceu, e a próxima consulta pelo SUS só será daqui a dois meses”, explica.

Além da preocupação com a mãe, Gleiciane também precisou levar a filha pequena, que está doente, durante a busca pelos remédios. “Ela ontem teve problema na barriga, levei ela no posto. Cuidar de uma criança doente e ainda ter que me deslocar para procurar remédio é muito cansativo”.

 

Falta de abastecimento estaria relacionado a dívidas com fornecedores da gestão anterior

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Ceará (Sindsaúde-CE), Quintino Neto, destacou a preocupação com o desabastecimento de medicamentos nos postos de saúde do município. Segundo ele, a situação foi reconhecida pela própria gestão municipal durante reunião do Conselho Municipal de Saúde, realizada na última sexta-feira, 7.

Na ocasião, a coordenadora da Assistência Farmacêutica do município admitiu que houve um déficit significativo no fornecimento de medicamentos, com apenas 30% de abastecimento no mês passado. O problema, segundo a administração, estaria relacionado a dívidas com fornecedores herdadas da gestão passada.

De acordo com Quintino, a prefeitura informou que já conseguiu elevar o abastecimento para 50% e está trabalhando para atingir 70% nas próximas semanas, com previsão de normalização completa até o próximo mês, quando deve chegar aos 100%.

Quintino ressalta que o Sindsaúde-CE continuará monitorando a situação por meio do controle social e cobrando soluções da Secretaria Municipal de Saúde para garantir o fornecimento adequado de medicamentos à população.

Consultas e exames com longos tempos de espera

A falta de medicamentos é um dos principais problemas do Hospital Dr. Eduardo Regis Jucá, no bairro Mondubim. Julyana Ferreira, paciente com histórico de transplante renal, foi até a unidade para tratar uma infecção urinária, mas saiu sem os medicamentos prescritos.

“O médico me deu um antibiótico (Hidroclorotiazida) e dipirona, mas ele não tem nenhum dos dois. "Eles me disseram para comprar", lamenta.

A moradora Mirele Araújo da Rocha enfrenta outras dificuldades. Mãe de primeira viagem, ela esperava poder cuidar do filho de 17 dias, mas a primeira consulta do bebê só foi marcada para dali a dois meses e meio.

“O correto é que o bebê seja acompanhado desde o primeiro mês. Como ele vai ter sua primeira consulta com apenas dois meses e meio de idade? "Ele já deveria estar tomando as vacinas dos dois meses!", ele critica.

Tendo passado recentemente por uma cesárea de alto risco, a mãe também foi informada que sua primeira consulta pós-operatória só ocorreria em maio. Ao ser questionada sobre o atraso, Mirele foi informada que outras mães estão passando pela mesma situação. “Só existe um clínico geral para cuidar de tudo: pré-natal, crianças…”,

A idosa Maria de Lurdes Araújo Oliveira, 71 anos, relata que não recebeu os medicamentos Losartana, Hidroclorotiazida e Carbonato de Cálcio. Para ela, porém, a demora na realização dos testes tem sido angustiante.

“Eu continuo pensando que vou morrer e não vou conseguir fazer o exame que preciso. Recebemos uma pequena pensão e já temos outras despesas. Como é que se faz uma colonoscopia que custa entre R$ 1.500 e R$ 2.500?”, diz.

Questionada, a Prefeitura de Fortaleza informou que já foram pagos, neste ano, R$ 17 milhões para regularizar o abastecimento de medicamentos nas unidades de saúde. "A aquisição dos itens em falta já está em andamento. A gestão segue empenhada em normalizar, o mais breve possível, o déficit deixado pela administração anterior", disse. 

Atualizada em 13/04 com declaração da Prefeitura de Fortaleza.

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