Fortaleza tem fevereiro mais chuvoso dos últimos 51 anos

Mês teve recordes como a segunda maior chuva da Capital em 50 anos

Após um janeiro com chuvas abaixo da média, Fortaleza registrou o mês de fevereiro mais chuvoso para a Cidade desde 1973. Segundo dados preliminares da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a Capital observou 484,1 milímetros (mm) de chuva, número 31% maior que o recorde anterior, de 366,8 mm, datado em 2011.

Durante o período, alguns fatores contribuíram para este valor, como a ocorrência de chuvas em 24 dos 29 dias de fevereiro. Dentre essas datas, a de maior destaque foi o sábado de Carnaval, 11, quando a Cidade teve a segunda maior chuva dos últimos 50 anos.

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Segundo a Fundação, o índice elevado se deve à forte atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal indutor de precipitações durante a quadra chuvosa cearense.

Para o meteorologista Agustinho Brito, o aumento na participação da ZCIT pode ser creditado às altas temperaturas do Oceano Atlântico. De acordo com ele, o cenário ficou ainda mais favorável às chuvas no litoral cearense durante a segunda quinzena de fevereiro, quando as águas ao sul da Linha do Equador esquentaram ainda mais.

“Diferentemente dos outros anos, a gente tem um aquecimento de todo o Atlântico, tanto no Norte, como no Sul. A gente vem percebendo nas últimas semanas um aquecimento abaixo da linha do Equador, e esse aquecimento favorece a Zona de Convergência Intertropical a atuar aqui, mas o que está favorecendo mesmo é que todo o Atlântico está aquecido e favoreceu a atuação nesses últimos 15 dias de fevereiro.”

Ceará tem 3º mês de fevereiro mais chuvoso desde os anos 2000

Fevereiro não foi de muitas chuvas apenas na Capital. Durante o mês, todas as macrorregiões do Ceará tiveram chuvas acima da média, também impulsionadas pela ação da ZCIT.

Passados 29 dias, o Estado apresenta 235 mm de média pluviométrica, terceiro maior valor desde o ano 2000, atrás apenas do fevereiro de 2004, com 243,3 mm, e 2007, que obteve o recorde de 245,1 mm observados.

Assim como em Fortaleza, todo o Ceará apresentou um maior volume de chuvas durante a segunda metade de fevereiro. Segundo dados da Funceme, o período teve oito dos dez dias mais chuvosos do ano até esta quinta-feira, 29, incluindo o maior acumulado de 2024, na última quarta-feira, 28.

Depois de um janeiro com poucas chuvas e um fevereiro de grandes volumes em todo o território, março deve começar com menos chuvas, pelo menos nos primeiros dois dias. Segundo a Fundação, poderá haver uma redução nas chuvas do Centro-Norte até sábado, 2, com previsão de maiores índices para a região Oeste, sul do Sertão Central e Inhamuns e Cariri.

Tudo isso será ocasionado por uma tendência de redução na atividade da ZCIT nos próximos dias, ocasionando menos chuvas, principalmente no Centro-Norte do Ceará. Neste cenário, os índices previstos para as demais regiões serão ocasionados por outros indutores em vez da Zona de Convergência.

“A parte sul do Estado recebe a influência da Zona de Convergência Intertropical, mas ela está ligada também a fenômenos que se aproximam do sul do Nordeste. A gente tem as frentes frias que chegam próximo do Nordeste, causam uma instabilidade na atmosfera e fazem com que haja uma instabilidade no Interior. A Zona de Convergência do Atlântico Sul, que traz umidade para o sudeste e o norte, colabora para a instabilidade atmosférica no Nordeste. São esses fatores que contribuem para as chuvas do sul do Ceará”, explica o meteorologista da Funceme, Bruno Rodrigues.

Prejuízos após as chuvas

Apesar de muito comemorada pelos cearenses, as chuvas também revelam diversos problemas na infraestrutura das cidades cearenses. Desde alagamentos até o desabamento de prédios, várias fragilidades são evidenciadas pelo fenômenos, como em Fortaleza, onde as ocorrências atendidas pela Defesa Civil aumentaram 462% em fevereiro.

Da Capital ao Interior, os problemas afetam diretamente a rotina dos cearenses. Em Juazeiro do Norte, por exemplo, um veículo caiu dentro de um buraco da avenida Padre Cícero, alagada pelas chuvas da madrugada desta quinta-feira, 29.

Em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, o prefeito da cidade, Glêdson Bezerra, disse que a solução dos problemas passa pela realização de uma macrodrenagem.

“São vários pontos do município que sofrem bastante em época de chuva. Não há alternativa senão uma macrodrenagem. Não adianta fazer só uma drenagenzinha no lugar. Para que isso aconteça, vai ser através do empréstimo do CAF”, pontua o prefeito.

El Niño e La Niña: fenômenos do Pacífico afetam chuvas no Ceará?

Como apontado anteriormente pelo prognóstico da Funceme em janeiro deste ano, a atuação do El Niño, aquecendo as águas do Oceano Pacífico, pode ocasionar uma quadra chuvosa abaixo da média no Ceará.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o El Niño deve continuar ativo até o fim de julho, ou seja, cobrindo todo o período chuvoso do Estado. Segundo o Instituto, o fenômeno tem quatro áreas ativas até este final de fevereiro, das quais três devem perder força até o meio do ano.

“A tendência é de que o El Niño 1 e 2 já venham enfraquecendo, o El Niño 3 e 4 ainda continua bastante aquecido. O El Niño ainda está ativo. As previsões mostram que o El Niño só venha a enfraquecer no meio do ano, principalmente os El Niño 1, 2 e 3”, afirma o meteorologista do Inmet, Flaviano Fernandes.

Além dele, outro fator é esperado para este ano, a La Niña, que ao contrário do “irmão” esfria as águas do Pacífico. Esta, por sua vez, não terá tanta influência no Ceará em 2024, pois é esperada para o início do segundo semestre.

“Essa evolução ocorre para o final do ano, onde a gente está em uma época seca ainda e para nós há uma interferência. Para nós, essa interferência só vai indicar alguma coisa se estiver dentro da nossa quadra chuvosa”, acrescenta Bruno.

 

Atualizada às 22h

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