Operação do MPCE identificou envolvimento de grupo de PMs em 8 situações criminosas

Além de casos de ameaça e extorsão, agentes de segurança também teriam envolvimento com homicídios

A partir de interceptações de comunicações telefônicas e telemáticas, o Ministério Público Estadual (MPCE) e a Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) identificaram oito situações criminosas que teriam sido praticadas por uma suposta organização criminosa composta por agentes de segurança.

Dez policiais militares e um guarda municipal foram denunciados por integrar o grupo. Quatro deles foram presos preventivamente no último dia 14 de novembro, dia em que os demais também foram alvo de busca e apreensão. O caso deixou de ser segredo de Justiça nesta terça-feira, 21. Os acusados ainda não apresentaram respostas à denúncia do MPCE.

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Conforme o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, a atuação criminosa dos agentes de segurança se estruturava, principalmente, a partir de um grupo no aplicativo WhatsApp denominado “Grupo dos amigos”.

Nesse espaço, os PMs e o Guarda Municipal relataram uma série de práticas criminosas, que incluem homicídios, ameaças, extorsões, agiotagem, venda irregular de arma de fogo, clonagem de veículos, etc.

Em áudios encontrados pela investigação, é possível concluir que o grupo já agia há bastante tempo. “Ei, macho, eu queria só, que tivesse só mais três caras de coragem que eu ia lá era de Polícia Civil, metia o pezão na porta e arrastava, pegava as armas, pegava tudo, ainda detonava um ou outro que tivesse lá dentro” (SIC), diz em uma das gravações um dos PMs presos, o cabo José Otaviano Silva Xavier.

“É porque, macho, a Polícia se acabou, tanto os de folga não tem mais, que quando era no tempo dos meninos...ah, se o MESQUITA e o IGOR tivesse aqui na área...que era só falar. Não tem mais não, macho, acabou”.

Confira abaixo as situações criminosas elencadas na denúncia:

Situação Criminosa 1 — Ameaça e lavagem de dinheiro

A investigação apontou que Xavier tinha amizade com Valdicélio de Oliveira Holanda, que era agiota. Parte do dinheiro emprestado a juros por "Celim", como era conhecido, era proveniente do PM e “possivelmente” também do cabo Jackson Araújo Mota.

Em agosto de 2021, Valdicélio foi assassinado e Xavier, visando reaver o dinheiro que havia emprestado a ele, passou a ameaçar os devedores de Celim. “Xavier e Jackson, inclusive, utilizavam arma de fogo para ameaçar os devedores que tinham que pagar juros abusivos de 20% a.m.”, diz o Gaeco.

Entre as ameaças feitas estava uma contra um morador do bairro Curió, que devia R$ 200 mil de empréstimos. Para que a dívida fosse quitada, os PMs tramaram tomar o imóvel onde a vítima morava.

O Gaeco ainda identificou que os PMs lavavam o dinheiro obtido com extorsões, cobranças e empréstimos de dinheiro a juros no investimento em uma loja de conserto e venda de celulares que estava no nome de um terceiro.

Situação Criminosa 2 — Extorsão qualificada

Jackson e Xavier teriam ameaçado moradores de uma vila de casas pertencente ao locador do espaço onde funcionava a loja de celulares dos dois. Caso não pagassem os valores atrasados, eles seriam expulsos dos imóveis.

Um fuzil chegou a ser usado na ação, apontou o MPCE. Para fazerem o serviço, os PMs teriam cobrado um valor em dinheiro do proprietário das casas.

Situação Criminosa 3 — Ameaça

Audio mostra Jackson ameaçando de morte um mecânico com quem havia deixado um carro para conserto, mas cujo serviço não havia sido feito no período combinado.

"Também, ao receber uma notificação da autoridade de trânsito para retirar seu automóvel da via pública, Jackson imaginou que a denúncia havia partido de uma vizinha próxima ao local onde o carro estava parado e também ameaçou a senhora de dar uns tiros na porta da casa da mesma", afirma o Gaeco

Situação Criminosa 4 — Tráfico de Drogas

Em setembro e outubro de 2021, Jackson e um outro homem aparecem em mensagens, supostamente, negociando drogas. “Tem essa aqui que é pra passar um ano internado, pra gente fazer a mistura, que a bicha é pura, macho”, diz Jackson em um áudio.

Em outra gravação, o MPCE diz que é possível ouvir, ao fundo, Xavier dizendo “diz a ele que tem cinco gramas, viu”. Além disso, dentre as imagens trocadas por Jackson, há a foto de “uma mão segurando uma trouxinha de plástico com um pó branco em seu interior, levando a crer que se tratava de cocaína”.

Situação Criminosa 5 — Falsificação de Documento Particular

O MPCE identificou que Jackson e Xavier falsificaram assinaturas (da mãe de Jackson e da esposa de Celim) para a compra de uma moto.

Situação Criminosa 6 — Comércio ilegal de arma de fogo

A negociação de uma arma de fogo entre dois homens, em agosto de 2022, teria tido a intermediação de Xavier. A venda, porém, foi desfeita em seguida. Conforme o Gaeco, não era a primeira vez que os dois negociavam armas.

Situação Criminosa 7 — Empréstimo de dinheiro a juros e ameaça

As interceptações mostraram que o cabo Marcus Vinícius Linhares Mesquita era agiota, emprestando dinheiro mediante taxa de juros de 10 e 12,5% a.m. "Aos devedores em atraso, Marcus Vinícius Linhares Mesquita agia com truculência, ameaçando invadir o local onde o inadimplente encontrava-se", afirma o MPCE.

Situação Criminosa 8 — Comércio ilegal de arma de fogo

Os policiais Leandro de Moura Lemos, Messias da Silva Andrade, Dalberson Barbosa da Silva Vargas e Ariel Ruan Dieb do Nascimento Fernandes foram identificados pelo MPCE “como praticantes habituais do comércio irregular de armas de fogo”. Haveria, inclusive, um grupo no aplicativo WhatsApp, intitulado “O Senhor das Armas”, que era destinado à prática.

Grupo também praticaria homicídios

Como O POVO já mostrou, a suposta organização criminosa da qual os PMs fariam parte foi relacionada a três homicídios. “Foram descobertas pela medida cautelar que esses milicianos combinavam execuções e conversam sobre delitos já praticados por eles, e que as vítimas eram escolhidas por terem antecedentes criminais, através de consultas no sistema de dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará”, afirma o MPCE.

Exemplo de um desses planejamentos é um áudio em que Xavier aparece afirmando que levanta informações sobre um homem que teria atirado contra ele.

“Eu quero é que ele esqueça que...eu peço é que os meninos do RAIO nem passar lá embaixo, eu digo que não tem é nada pra evitar passar justamente pra quê, pra ele achar o quê: ‘é, foi resolvido e tal, o cara tá de boa, não tá nem pensando em mim mais, vou voltar pra favela’, aí fica de borete (sic), de bobeira”.

Em outra gravação, Xavier fala, em tom de lamento, de um “vacilo” que ele deu e que o “tirou vários dias de sono”. "É, macho, então, assim, eu nunca reclamei de Deus não, né, porque aconteceu isso comigo, até porque eu sei que eu errei muito, [...] Dos outros não, dos vagabundos eu não tenho remorso não, mas de uma pessoa tu sabe né, que eu não gosto nem de falar.

O MPCE acredita que o áudio possa fazer referência ao assassinato do motorista por aplicativo Walter Gomes de Azevedo, de 38 anos, morto após uma briga de trânsito. Xavier e uma mulher são investigados pelo crime, que até hoje não teve denúncia do MPCE.

Os 11 agentes de segurança denunciados

Apontado pelo MPCE como líder da organização criminosa

Cabo José Otaviano Silva Xavier, conhecido como Blade ou SD Guerreiro

Apontado como braço direito de Xavier
Cabo Jackson Araújo Mota

Apontados como “integrantes da alta cúpula do grupo de milicianos”

Cabo Marcus Vinícius Linhares Mesquita, cabo Domingos Bezerra Macedo, soldado PM Francisco Ivanildo Brígido de Sousa e o guarda municipal Filipe Martins Vale Viana

Demais integrantes do grupo

Sargento Messias da Silva Andrade, cabo Igo Jefferson Silva de Souza, soldados Leandro de Moura Lemos, Dalberson Barbosa da Silva Vargas e Ariel Ruan Dieb do Nascimento Fernandes.

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