Futuro da estrutura do edifício São Pedro, na Praia de Iracema, ainda é incerto

Em agosto de 2021, a Prefeitura indeferiu o tombamento provisório do imóvel. No mesmo mês, iniciou-se o processo de tombamento federal, que pouco avançou nos últimos meses

A imponente estrutura do Edifício São Pedro segue sucumbindo à força do tempo. As marcas do abandono são visíveis e palpáveis. O glamour do local, que um dia já abrigou o Iracema Plaza Hotel, carinhosamente apelidado de "Copacabana Palace do Ceará", parece ter se esvaído por completo.

Durante os últimos anos, o futuro da estrutura erguida na década de 50 tem gerado diversos debates na sociedade. Há quem defenda a hipótese de que já não há nada mais que possa ser feito para se preservar a estrutura com segurança. Este, inclusive, é o posicionamento da Prefeitura de Fortaleza.

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Em 19 de agosto de 2021, o Poder Executivo municipal indeferiu o tombamento provisório do imóvel. Para a administração de José Sarto (PDT), a reestruturação do prédio é inviável economicamente, além de apresentar risco de desabamento.

O posicionamento da Prefeitura é embasado em laudos técnicos. De acordo com o poder público, o estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa em Materiais de Construção e Estruturas (GPMATE), que atua conjuntamente com o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Estrutural e Construção Civil (PEC) da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizado em 2018, aponta para a falta de segurança estrutural do prédio.

Cinco dias após a Prefeitura indeferir o tombamento provisório do edifício, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) iniciou uma avaliação própria, visando à possibilidade da realização de um tombamento federal.

Inicialmente, ainda em agosto de 2021, o Instituto divulgou que um parecer inicial com as atuais condições do prédio seria apresentado em 90 dias, mas, até o dia 10 de fevereiro de 2022, as análises não foram concluídas.

"Esse é um prazo interno e de praxe, tentamos fazer o que é necessário, mas, às vezes, infelizmente, não é possível. Nesse caso, é uma edificação mais complexa e merece uma atenção maior, acaba estendendo um pouco", explica o superintendente do Iphan Ceará, Cândido Bezerra.

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A reportagem também procurou a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), em busca de mais informações sobre a atual situação do prédio. Por meio da assessoria de imprensa, a pasta informou que a estrutura já não é de competência do município, por não ter sido tombada.

No momento, de acordo com o superintendente do Iphan, o prédio encontra-se sem nenhuma proteção, ou seja, pode ser demolido, caso esse seja o interesse dos proprietários.

Sobre o andamento do processo de tombamento em âmbito federal, Cândido explica que os trâmites necessários ocorrem de maneira lenta. "Entendemos que o processo de tombamento exige muitos recursos, é preciso a realização de um grande estudo. Às vezes, se levam cinco anos para a finalização, é um serviço público, todo mundo paga por isso", relata.

Atualmente, uma equipe técnica do Iphan dá andamento à fase de avaliação da admissibilidade, que consiste em uma avaliação de arquitetos do Instituto. Durante esta etapa, são avaliados pontos de conservação física, as instalações e também a busca por informações jurídicas.

Com a conclusão da fase inicial do processo ainda sem data fixa, não há como saber quando os dados serão encaminhados para análise em Brasília. Entretanto, Cândido explica que, para receber a chancela de tombamento federal, o São Pedro ainda precisará se encaixar em outros requisitos.

"É preciso avaliar se o bem possui características históricas e se possui relevância nacional. Muitas vezes o bem atende a todos os requisitos, porém ele não tem relevância em um contexto nacional, aí é onde muitas vezes é barrado o processo", pontua.

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Em entrevista ao O POVO, Alexandre Gentil Philomeno Gomes, diretor administrativo da Philomeno Imóveis e Participações S.A, sócia majoritária do Edifício, não manifestou o desejo de ver o edifício tombado. Por outro lado, concorda com a decisão da Prefeitura de que a estrutura já não apresenta segurança.

"A decisão nos deu uma certa tranquilidade. Há anos queríamos autorização para fazermos algo. É uma coisa ruim para o nosso nome. Em respeito aos nossos antecedentes, que foram pioneiros na hotelaira", destaca.

Alexandre faz parte da quarta geração familiar que administra o prédio. Para ele, a estrutura existente deve ser substituída por um novo empreendimento, mas concorda que a memória do local tem que ser preservada de alguma forma.

"A decisão da Prefeitura é importante. Queremos fazer um empreendimento novo. Mas, com certeza, temos o interesse de ter algum local com a história do que foi o prédio. Isso não será esquecido". Sem definir prazos para que mudanças sejam realizadas no local, ele diz que, em sua concepção, até duas torres poderiam ser construídas no terreno que abriga o que restou do São Pedro.

Como um dos responsáveis pelo hotel, Alexandre também aponta que é preciso realizar intervenções o quanto antes, para que acidentes sejam evitados. Sobre o passado, ele garante que não será apagado, mas deixa claro o seu olhar em relação ao futuro.

"Quem sabe nasça até um livro sobre o Iracema Plaza Hotel. Eu não vejo nenhum outro caminho que não seja a demolição do prédio e o nascimento de um novo empreendimento ícone para a cidade de Fortaleza", finaliza.

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