Número elevado de mortes tem relação com dissidentes de facções, diz pesquisador

De acordo com o pesquisador do LEV Ricardo Moura, o alto índice de homicídios ocorridos nesta sexta-feira, 29, ocorreram por conta de pessoas que não se identificam nem com o CV, a GDE ou com o PCC e tentam fundar outra organização criminosa

O alto número de homicídios registrado em Fortaleza e cidades da Região Metropolitana tem associação direta com pessoas que faziam parte dessas organizações criminosas e, agora, querem fundar uma facção independente do Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDR) ou do Primeiro Comando da Capital (PCC). Conhecido como “massa carcerária”, o novo fenômeno, como classifica o jornalista e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Moura, vem gerando uma série de confrontos ao longo do ano. “Esses ataques e esses homicídios podemos creditar a essa reorganização criminal”, avisa.

A nova organização criminosa é mais ampla e nela há uma inquietação e descontentamento, já que, segundo Moura, esses grupos se consideram neutros e, muitas vezes, não concordam com as ações adotadas pelas organizações criminosas com atuação no Ceará. Uma diversidade de ações e de tomada de decisões que, muitas vezes, não faz sentido para quem está na base na comunidade foi o que motivou a criação desse novo grupo criminoso.

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O pesquisador aponta, em relação à cobrança do chamado “pedágio”, a relação direta da prática com a pandemia. Dentro do que é estudado no mundo em relação a Covid-19, com a redução de circulação de pessoas e de dinheiro, os criminosos precisaram repensar novas formas de financiamento. “E práticas que, até então, não eram necessárias e nesse contexto de um dinheiro que circula menos, em que há uma maior restrição na circulação das drogas, foram necessárias implementar outros métodos”, diz. Seguindo a lógica do próprio pesquisador de se pensar as facções como empresas, em tempos de recessão, é necessário que elas se capitalizar e busquem novas formas de atingir um resultado, ou seja, de ter dinheiro.

A nova organização é formada por agrupamentos que não querem pertencer nem à GDE e nem ao Comando Vermelho. “Eles são chamados de ‘neutros’ ou de ‘massa carcerária’”, define o pesquisador. Eles têm uma pretensão de ficarem circunscritos aos seus territórios, sem entrar nessa dinâmica criminal mais ampla. Existe uma série de decisões que não fazem sentido para quem está na base, ou seja, para quem mora na comunidade. E, de acordo com Moura, eles optam por ações mais estreitas, fincadas em suas comunidades e de serem mais autônomos.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não se pronunciou sobre a disputa entre territórios. Por meio de notas, comentou sobre as apurações de cada um dos casos ocorridos nesta sexta. Em relação à morte do comerciante no bairro Planalto Ayrton Senna, informou que Polícia Militar realizaram buscas na região. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) também esteve na ocorrência, onde realizou os primeiros levantamentos sobre os fatos. Um inquérito policial foi instaurado e o caso é apurado pela 9a Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Em relação ao homicídio no bairro São Miguel, em Caucaia, informou que uma equipe da Pefoce esteve no local, onde coletou indícios que subsidiarão as investigações. Um inquérito policial foi instaurado e o caso está sendo investigado pela Delegacia Municipal de Caucaia, visando identificar e capturar os suspeitos de praticarem o crime.

Já sobre o duplo homicídio no Vila Manoel Sátiro, a SSPDS informou também que a Pefoce foi acionada. O DHPP da Polícia Civil realiza diligências na região com o objetivo de esclarecer o crime.

Sobre a morte em Pacatuba, a SSPDS informou que um inquérito policial foi instaurado pelo DHPP e será transferido para a Delegacia Metropolitana de Pacatuba, unidade que apurará as circunstâncias do crime.

Acerca da morte em Pacajus, no bairro Bangue II, informa que uma equipe da Pefoce esteve no local e que a Polícia Civil investiga o crime.

A morte no Planalto Ayrton Senna também passará por investigação do DHPP.

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