Risco de apagão: País perde R$ 5 bi; NE é o mais afetado na produção de energia
Os números mostram que Região é responsável por mais de 70% das perdas registradas no País. Ceará registra 7,58% das paradas de produção para não sobrecarregar o sistema
13:19 | Out. 08, 2025
Sem infraestrutura para escoar todo o excesso de energia gerado, o País já perde R$ 5 bilhões ao ter de parar ou reduzir a produção energética para evitar apagões por sobrecarga no sistema.
Os cortes de energia (curtailments) afetam sobretudo o Nordeste, que concentra 70% dessas paradas obrigatórias. O Ceará registra 7,58%.
Os dados exclusivos são do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne) e evidenciam que Bahia, Rio Grande do Norte e Minas Gerais lideram o ranking de estados com mais cortes.
Darlan Santos, presidente da entidade, acredita que o leilão de transmissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), previsto para este mês, pode aliviar gargalos e destravar investimentos.
A expectativa do certame é o aporte de R$ 5,5 bilhões em investimentos, com o acréscimo da conclusão de obras voltadas para reforçar a malha elétrica, principalmente no Nordeste, que lidera a geração de energia limpa no País e os curtailments.
Isso porque essa falta de capacidade de escoamento na rede de transmissão tende a assustar empresas que queiram fazer aportes no País, sob o risco de terem prejuízos.
Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), consolidados pela consultoria CarpeVie, parceira do Cerne, destrincham que Bahia detém 35,14% dos cortes, seguida pelo Rio Grande do Norte (25,43%) e Minas Gerais (15,63%).
Outros mais afetados e também do Nordeste são: Piauí (9,42%), Ceará (7,58%), Pernambuco (3,03%), Paraíba (1,79%) e Maranhão (0,62%).
Darlan frisa que as perdas acumuladas ao longo dos últimos anos representam “grande obstáculo para a expansão das fontes renováveis.”
“No caso do Nordeste, onde estão os principais polos eólicos e solares do País, a falta de infraestrutura adequada limita a geração e afeta toda a cadeia produtiva, do fabricante ao investidor”, acrescentou.
Ele disse que, devido aos cortes, empregos e indústrias são afetados. Exemplo é que não se compram novos aerogeradores – afetando diretamente as fábricas desses equipamentos – nem se contratam financiamentos para novos projetos.
“No ano passado, uma das maiores fabricantes de aerogeradores do Ceará precisou demitir mais da metade do quadro de funcionários”, ressaltou Santos.
O POVO chegou a noticiar esse movimento, que foi visto na planta da Aeris Energy, atuante no mercado no setor de fabricação de pás eólicas e com três unidades fabris no município de Caucaia, Ceará, na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
Consequências dos cortes de energia no Brasil
Já o presidente do Conselho do Cerne, Jean Paul Prates, o País vive um paradoxo energético: amplia sua capacidade de geração limpa, mas enfrenta cortes por falta de infraestrutura.
“O Brasil já está desperdiçando, em determinados momentos, o equivalente à produção de uma grande usina termelétrica apenas por falta de modernização no seu sistema de transmissão. Isso representa um prejuízo econômico, ambiental e reputacional para o País.”
Outra contradição apontada por ele é que o crescimento renovável é limitado pelo escoamento e pode desestimular investidores.
“É um contrassenso celebrar a expansão das fontes renováveis e, ao mesmo tempo, obrigar parques eólicos e solares a desligarem suas turbinas por falta de transmissão. Essa contradição compromete a narrativa do Brasil como potência renovável”, complementou.