Conta de água do cearense ficará 9,73% mais cara em novembro
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) anunciou revisão extraordinária que passará a vigorar em uma quarta-feira, 5 de novembro de 2025
10:40 | Out. 07, 2025
A conta de água e esgoto de mais de 5,67 milhões de cearenses vai ficar 9,73% mais cara a partir de 5 de novembro. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) anunciou revisão extraordinária para todas as categorias de consumo.
O valor médio dos serviços de água e esgoto dos 152 municípios atendidos pela empresa passa a ser de R$ 6,90 por metro cúbico (m³). Com esgotamento sanitário são 81.
Até então o valor médio estava em R$ 6,29 por m³, com o último reajuste anual aplicado em 5 de agosto de 2024.
Os aumentos são aprovados pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (Arce). Esta última elevação teve aval na quinta-feira, 2 de outubro, após reunião do Conselho Deliberativo.
Em quase três anos, Cagece já repassou ao consumidor 35,67% de altas
Desde janeiro de 2023, a Cagece já repassou ao consumidor cearense 35,67% de aumento tarifário.
Os encarecimentos sucessivos, conforme O POVO inclusive já mostrou em reportagem, ocorrem em meio à queda dos lucros e aumento do endividamento da empresa, que amplia os investimentos para atender ao marco legal do saneamento.
Para se ter ideia, em 2023, além dos 3,55% repassados em janeiro, a companhia implementou mais 14,39% em outubro.
Após a sanção do marco legal, em meados de 2020, a Cagece já aplicou ao consumidor seis reajustes, com aumentos médios de 9,10%.
Esse patamar de altas, no entanto, não é novidade. Entre 2013 e 2019, período anterior ao marco legal, os reajustes de água e esgoto chegaram a percentuais de 15,85%.
No período, a média de elevações era próxima a 10%. Vale lembrar que o período também foi marcado pelos anos de escassez hídrica.
Mas outros estados como Bahia e Pernambuco não tiveram altas como as apresentadas no Ceará.
Porém, o cenário se reverteu em 2024. Conforme balanço da Cagece, o lucro líquido no fechamento do ano foi de R$ 354 milhões, representando um aumento expressivo de 194,5% em relação ao exercício anterior.
Motivos alegados pela Cagece para o aumento da conta de água
Conforme a Cagece, a revisão extraordinária considera os custos operacionais e de manutenção incorridos em 2024, visando assegurar o equilíbrio econômico-financeiro da empresa e a sustentabilidade das operações.
“Dessa forma, a Cagece garantirá os investimentos necessários à manutenção, expansão e melhoria contínua dos sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário do Estado”, complementou em comunicado.
Acrescentou que revisão tarifária contempla o cumprimento das metas pactuadas de universalização, qualidade e continuidade dos serviços públicos, conforme estabelecido nos contratos de programa firmados pela companhia com os municípios.
O presidente da Cagece, Neuri Freitas, explicou que a revisão tarifária acontece a cada cinco anos e leva em conta custos, despesas, depreciação e custo de capital e por isso resultam em aumentos mais significativos que os reajustes, que, basicamente, têm a inflação como principal indexador.
Neuri Freitas informou que, embora a concessionária tenha solicitado, ano passado, uma revisão de 25% com base em sua própria fórmula de cálculo (custo + despesa + depreciação + custo de capital), a agência reguladora, que é quem define a tarifa, aprovou, este ano, um índice de 9,73%.
De acordo com ele, o elemento que mais pesa e causa o aumento significativo é a componente de custo de capital de ativo novo, que é o dinheiro que retorna por meio da tarifa para remunerar os financiamentos e as captações realizadas para a construção de novos ativos. “Esses ativos incluem redes de água, redes de esgoto, estações de tratamento de água e estações de tratamento de esgoto", aponta o presidente da Cagece.
Segundo Freitas, o modelo de estrutura tarifária aplicado (que geralmente tem revisões a cada cinco anos) leva a esse aumento acentuado. “Nos anos intermediários, quando há apenas reajuste (baseado principalmente na inflação), o custo de capital dos ativos que estão sendo executados não é pago pela tarifa. Quando a revisão chega (no quinto ano ou em uma revisão extraordinária), esses ativos acumulados (e seus custos de capital, como juros e amortização da dívida) entram na conta de forma acumulada", disse o presidente da Cagece.
A revisão é defendida por Freitas como “necessária para manter o equilíbrio financeiro da empresa, garantir uma operação adequada e permitir que a companhia continue realizando os investimentos necessários para buscar a universalização do saneamento”.
Na avaliação do presidente da companhia, a falta de resultado financeiro adequado impede a captação de recursos de investidores e bancos, essenciais para novos investimentos. Ele, no entanto, considera o modelo atual de revisão quinquenal problemático, “pois gera picos de aumento que, às vezes, a população não suporta, resultando em desequilíbrio para todo o sistema”.
O POVO procurou a Arce para detalhar as questões que justificam o reajuste extraordinário linear e aguarda retorno.
Confira os últimos reajustes tarifários da Cagece
- 16 de junho de 2013 para Interior e 24 de junho de 2013 para Fortaleza: 8,51%
- 6 de julho de 2014/Capital: 7,30%
- 6 de julho de 2014/Interior com exceção de Itapipoca/revisão extraordinária não linear: 7,51%
- 19 de dezembro de 2015 para Fortaleza e 20 de dezembro de 2015 para o Interior/revisão extraordinária não linear: 12,90%
- 23 de abril de 2016/complemento de revisão extraordinária linear: 11,96%
- 26 de junho de 2017/revisão ordinária linear: 12,90%
- 23 de setembro de 2017/revisão ordinária linear: 4,33%
- 22 de janeiro de 2018/complementação tarifária: 5,70%
- 24 de março de 2019/revisão ordinária linear: 15,86%
A partir do Marco Legal do Saneamento
- 29 de janeiro de 2021, à exceção de Itapipoca: 12,25%
- 30 de janeiro de 2022/revisão ordinária linear: 6,69%
- 28 de janeiro de 2023/reajuste linear: 3,55%
- 29 de outubro de 2023/reajuste extraordinário linear: 14,39%
- 5 de agosto de 2024/reajuste extraordinário linear: 8%
- 5 de novembro de 2025/reajuste extraordinário linear: 9,73%
Cagece em números no Ceará
Dados do último balanço da Companhia de Água e Esgoto mostram que a empresa atende:
- 152 municípios com abastecimento de água
- 150 Estações de Tratamento de Água (ETAs)
- Índice de cobertura de água: 99,21%
- Índice de cobertura de esgoto: 49,61%
- Investimentos: R$ 1,32 bilhão
- Extensão de rede de água: 18,5 mil km
- Extensão de rede de esgoto: 5,8 mil km
- 283 Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), mas 94 são operadas pela Cagece e 189 estão em operação por meio de Parceria Público-Privada (PPP)
Plano de investimentos da Cagece até 2029
A Cagece tem projetos voltados ao cumprimento das metas de universalização e melhoria da eficiência operacional, conforme estabelecido pela Lei Federal n.º 14.026/2020, o novo marco legal do saneamento.
O Plano de Investimentos da empresa prevê a aplicação de R$ 6 bilhões até 2029, distribuídos em iniciativas que abrangem a expansão da cobertura dos serviços de água e esgoto, a modernização de infraestruturas e a redução de perdas.
Desse total, cerca de R$ 3,89 bilhões estão alocados para projetos em andamento, com destaque para as PPPs:
- R$ 1,67 bilhão executado pela PPP de esgoto com a Ambiental Ceará
- R$ 780 mil pela PPP do Consórcio Águas de Fortaleza S/A, no projeto de Dessalinização de água marinha (Dessal) para a Região Metropolitana de Fortaleza.