Investimentos em data center no Nordeste podem ser confirmados já em 2025, diz Prates

Publicação do Redata estimula o setor e coloca os estados de Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte como os principais competidores, segundo o presidente do Cerne

18:18 | Set. 18, 2025

Por: Armando de Oliveira Lima
Presidente do Cerne estuda a competitividade do Nordeste no mercado de data centers (foto: FÁBIO LIMA)

A publicação da política pública de data centers pelo governo federal, o Redata, deve acelerar os investimentos de empreendimentos do tipo no Nordeste já em 2025, segundo avalia Jean Paul Prates, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne).

“Nós vivemos uma situação de superávit energético, principalmente renovável. Então, podemos andar muito rápido com isso”, disse em entrevista ao O POVO. Hoje, ele desenvolve no Cerne um estudo sobre a competitividade dos estados nordestinos no mercado de data centers.

Para isso, no entanto, ele aponta a necessidade de o Ministério de Minas e Energia participar ativamente deste processo. A sugestão do presidente do Cerne é de que, nos PPAs (Power Purchase Agreement) dos leilões, seja permitido que os data centers comprem energia, no caso de sobra.

A medida também faria com que os parques parados pela falta de transmissão de energia voltassem à atividade, segundo ele.

“Tem um saldo positivo de energia renovável que a gente tem que dissolver em em eletrointensivos, ou seja, em atividades que requerem muita energia. Esse é o primeiro passo para a gente ir rumo à indústria verde. Então, o data center é um passo intermediário”, explicou.

Área do Nordeste mais adequada para data centers

O cenário formado pela legislação deve ajudar a chegada de investidores ao chamado Nordeste Setentrional - formado por Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte -, que Prates classifica como a área mais propícia à instalação dos centros de dados.

Os componentes que explicam a avaliação são três, principalmente. A baixa latência (tempo de ida e volta da informação entre o usuário e o centro de dados) proporcionada pelos cabos submarinos de fibra óptica é uma delas.

Fortaleza é o segundo maior ponto de infraestrutura do tipo no mundo e Piauí e Rio Grande do Norte se colocam na mesma rota pela qual os cabos passam entre o Brasil, as américas Central e do Norte, além de Europa e África.

“Além disso, a região se conecta com o resto do país, tornando-a atrativa tanto para dados externos quanto internos e é um dos melhores lugares do mundo para você colocar a data center hoje”, reforça.

Prates cita ainda o acesso a energias renováveis e ainda uma das áreas de maior segurança do planeta, onde guerras não devem acontecer e afetar o funcionamento da internet como acontece com frequência no Mar Mediterrâneo.

No futuro, ele indica que o Brasil deve começar a discutir zona de processamento de exportação de dados, com legislação específica focada na proteção dos dados das empresas e países.

Política nacional é divisor de águas

Sobre o Redata, o presidente do Cerne classifica a legislação como “um divisor de águas” e abre margem para um bom debate no Congresso. A política nacional segue quatro eixos:

  • Desoneração do investimento (TIC) — zera impostos federais sobre servidores, armazenamento, rede, refrigeração e outros equipamentos de datacenter. Resultado: reduz o custo inicial, viabilizar mais projetos e antecipa efeitos da reforma tributária.
  • Fortalecimento das cadeias de TICs - Estimula uso de componentes fabricados no Brasil ao isentar de imposto de importação apenas aqueles que não têm similar nacional.
  • Sustentabilidade como regra — Exige energia 100% renovável ou limpa, baixo consumo de água e carbono zero desde o início, com metas e comprovação. Resultado: datacenters mais limpos, eficientes e alinhados a padrões globais.
  • Fomento à inovação — Empresas beneficiadas terão de aplicar 2% de seus investimentos em projetos de pesquisa e desenvolvimento no país (universidades, centros de pesquisa, startups). Resultado: novas soluções em eficiência, IA, segurança e gestão de dados geradas no Brasil.
  • Foco no mercado nacional (reserva de 10%) — Garante que pelo menos 10% da nova capacidade fique disponível para uso no Brasil. Resultado: serviços mais próximos do usuário, com menos latência, maior confiabilidade e custos mais baixos para empresas, governo e cidadãos.
  • Desconcentração regional - A medida estimula a desconcentração regional, reduzindo as contrapartidas para investimentos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Estratégias para o Desenvolvimento da Tecnologia no Ceará | O POVO Tecnologia

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