Venda de remédios em supermercados não deve reduzir preços, diz CFO da Pague Menos
Projeto de lei discute a venda de medicamentos fora das farmácias; associação de supermercados vê corte de 35% nos preços
Em meio ao debate sobre a venda de remédios em supermercados, o diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores (CFO, em inglês) da Pague Menos, Luiz Renato Novais, acredita que a medida não deve ajudar a reduzir os preços para os consumidores.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, o executivo falou sobre o Projeto de Lei (PL 2158/2023) que propõe a venda de medicamentos sem prescrição médica fora das farmácias, bem como sobre os resultados e as estratégias de negócio da farmacêutica cearense negociada na bolsa de valores (B3).
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Luiz explica que o setor farmacêutico não vê a necessidade de expandir os pontos de venda de medicamentos, uma vez que o Brasil já possui mais de 90 mil farmácias, oferecendo, na sua visão, ampla disponibilidade de opções para a população e alta concorrência dos negócios.
“Não acreditamos que haverá redução de preço ampliando a lista de estabelecimentos”. Ele demonstrou, ainda, preocupação com a possibilidade da automedicação agravar os problemas de saúde pública. Hoje, as farmácias precisam de mais de 11 licenças para conseguir operar.
“Defendemos que, se houver essa disponibilização de produtos em outros estabelecimentos, que também haja um profissional de saúde”, destacou Luiz, citando que as farmácias precisam de, em média, três farmacêuticos no quadro de funcionários, mas o número pode ser maior.
“Se outros estabelecimentos também forem vender esses produtos que sejam exigidos os mesmos requisitos que uma farmácia precisa cumprir hoje. Caso contrário, seria, na nossa visão, uma situação injusta”, acrescentou o CFO da Pague Menos.
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A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), por outro lado, vê diminuição de 35% no preço dos medicamentos devido ao aumento da concorrência, além de eventual corte nos custos para o sistema de saúde e a otimização de recursos governamentais.
A Abras pontuou que os medicamentos isentos de prescrição puderam ser comercializados nos supermercados, armazéns e lojas de conveniência entre 1994 e 1995 sem gerar aumento de intoxicações, e defendeu a contratação de farmacêuticos nos supermercados também.
A medida de alteração na lei está, atualmente, em discussão na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, aguardando audiência pública em data oportuna.
Resultados da Pague Menos
A Pague Menos deve divulgar os seus resultados do quarto trimestre de 2024 no dia 10 de março de 2025. Apesar de não adiantar detalhes devido às regras do mercado, Luiz disse que a empresa vai “fechar o ano com chave de ouro”, com coisas boas para compartilhar.
A companhia registrou um lucro líquido ajustado de R$ 53,9 milhões na última divulgação de resultados, referente ao terceiro trimestre do ano passado. Houve aceleração de 13,9% na receita bruta – para R$ 3,5 bilhões – e de 13,6% nas vendas nas mesmas lojas.
Estratégias adotadas
O CFO atribuiu os resultados a sinergias da Extrafarma e ao foco em três pilares: pessoas, eficiência operacional e geração de caixa. “Estamos em uma sequência positiva. Desde o quarto trimestre de 2023, estamos melhorando os números trimestre após trimestre.”
A companhia, assim como outras empresas do varejo, tem um grande investimento em estoques, com mais de R$ 2 milhões. E a estratégia foi deixar nas lojas aqueles produtos com circulação rápida para balancear melhor esses estoques com as necessidades.
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A empresa voltou-se, ainda, à melhoria da infraestrutura da rede, incluindo manutenção, tecnologia, ar-condicionado, fachada, limpeza, entre outros aspectos relacionados ao ambiente. Treinamentos para engajamento dos funcionários foram realizados também.
A grande prioridade, no entanto, tem sido a geração de caixa, visando reduzir o nível de endividamento. A Genial Investimentos comentou, no último balanço, que a redução das despesas da Pague Menos foi mais forte que o esperado, o que considerou positivo.
Futuro dos negócios
Para 2025, a Pague Menos planeja manter o foco nos pilares que impulsionaram seu crescimento em 2024. Além disso, a empresa pretende:
- Diminuir o nível de endividamento, com medidas para alcançar a continuidade da redução da alavancagem financeira
- Expandir atuação, com abertura de mais de 50 novas lojas, priorizando as regiões Norte e Nordeste, mas também explorando oportunidades no Centro-Oeste e Sudeste
- Investir em canais digitais, buscando aumentar a participação desses canais nas vendas totais, que hoje já representam mais de 15%
- Aprimorar a notoriedade de preços e oferecer ofertas mais agressivas, fortalecendo a marca própria de produtos
- Expandir os serviços de saúde oferecidos na rede de lojas, como testes de glicemia, consultas e vacinas
- Continuar a investir em tecnologia, incluindo inteligência artificial para melhorar o atendimento, processos internos e recrutamento
Novas aquisições
A Pague Menos não planeja realizar fusões e aquisições (M&A, em inglês) em 2025, mas considera que pode ser interessante realizar novas aquisições a partir de 2026, desde que a estrutura de capital da empresa esteja mais adequada em relação ao endividamento.
Juros e inflação
A alta da Taxa Selic – que pode chegar a 15% ao ano – também influenciou um olhar mais cauteloso ante investimentos. A empresa, inclusive, gostaria de abrir mais do que 50 lojas se o cenário macroeconômico fosse favorável, mas os juros impedem, segundo Luiz.
Apesar do desafio, como os medicamentos são considerados itens de alta prioridade para as famílias, comparáveis à alimentação, mesmo em momentos de pressão de preços na economia – inflação –, a demanda por produtos de saúde se mantém estável.
Sobre as perspectivas macroeconômicas, o CFO vê que, se o Brasil conseguisse alcançar um menor patamar de juros, isso poderia fomentar a renda variável, inclusive as ações da Pague Menos na B3, que acumulam queda de 68,11% nos últimos cinco anos.
Investidores
Ao aumentar o apetite dos investidores por ações, o fluxo de free float – em circulação no mercado – dos papéis da Pague Menos poderia ser beneficiado. Hoje, 70% das ações estão com a família fundadora, 17% com um fundo internacional e 13% com outros investidores.
Cerca de 22 mil investidores da Pague Menos são pessoas físicas, o que corresponde a, em média, 4% do total de 13%. O restante deste percentual são institucionais (aproximadamente 8%).
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