"Empresas de cabo e internet querem ser donas da Praia do Futuro", diz Elmano

Governador do Ceará critica postura de empresas donas de cabos submarinos, que querem impedir construção de usina de dessalinização na Praia do Futuro, onde os cabos submarinos estão localizados

Após críticas de empresas de telecomunicações sobre o projeto de construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), reagiu. Na sua avaliação as empresas estão indo além de suas atribuições.

"As empresas de cabos e internet querem ser donas da Praia do Futuro", criticou o gestor. A afirmação foi dada ao repórter da rádio O POVO CBN, Luciano Cesário.

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O POVO acompanha o imbróglio desde o início. Na última semana, o tema ganhou, inclusive, repercussão nacional.

Representante do setor de telecom chegou até a dizer ao O POVO que a construção de uma usina de dessalinização gera risco de apagão da internet no País, por ficar próxima aos cabos submarinos da região que ligam o Brasil à Europa e aos Estados Unidos.

Além disso, na última semana, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) emitiu uma recomendação contrária ao projeto de instalação da usina de dessalinização.

Elmano critica posição das empresas de cabos e internet(Foto: Aurélio Alves/O POVO)
Foto: Aurélio Alves/O POVO Elmano critica posição das empresas de cabos e internet

Sobre esse discurso das companhias, o governador frisou que o projeto de dessalinização da água do mar não poderá romper os cabos de fibra ótica instalados na Praia do Futuro, em Fortaleza, e que não teria impacto na internet de todo Brasil.

Em sua fala, Elmano lembrou que no local foi construída uma avenida de concreto, e que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) realiza por anos obras de saneamento e mudança de esgoto na região, sem nenhum incidente no fornecimento de internet.

"A questão é que todos os estudos técnicos que fizemos por mais de dois anos são claros que não há nenhum risco aos cabos. O que não é possível é que as empresas donas dos cabos de internet queiram ser donas da praia do futuro. Isso não é razoável. A Praia do Futuro é do povo do Ceará, do povo de Fortaleza," disse.

Ele também afirmou que, após um questionamento inicial por parte das operadoras de internet, o projeto foi alterado, mudando em mais de 500 metros o local onde os canos irão passar.

Elmano também citou as previsões climáticas, que apontam elevação das temperaturas, devido ao fenômeno El Niño e, por isso, da necessidade de garantir segurança hídrica com a instalação de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro para retirar o sal da água do mar, tornando-a potável.

"Nesse momento temos uma previsão da Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos) de uma seca que nós não sabemos que duração terá. Poderá ser seca de um ano, poderá ser de dois anos, pode ser três anos, pode ser quatro anos. Isso sim eu não sei, quanto tempo será a seca", destaca Elmano.

O gestor complementa que, efetivamente, não pode, "de maneira nenhuma", atrasar uma usina de dessalinização que pode garantir água numa situação de seca.

"O povo de Fortaleza não passará necessidade de faltar água em suas casas", prometeu.

A projeção de Elmano é que a usina de dessalinização comece a ser construída no primeiro semestre de 2024.

Liderada pela Cagece, o projeto da criação da usina de dessalinização da água do mar tem investimento previsto na ordem de R$ 3,2 bilhões. O projeto será realizado pelo consórcio Águas de Fortaleza, que venceu o edital licitatório.

A previsão é que, após a conclusão, a usina poderá aumentar em 12% o volume de água potável fornecida na Grande Fortaleza. (Com Carlos Viana)

Pode haver apagão de internet no Brasil? Entenda a situação

O vice-presidente de Relações Institucionais da Claro, Fábio Andrade, disse ao O POVO, na segunda-feira, 25 de setembro, em Fortaleza, que o projeto de construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro pode ‘parar a internet’ no Brasil.

A declaração polêmica foi dada em evento promovido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pela Telcomp, entidade representante das empresas, para debater a importância dos cabos submarinos de fibra óptica.

O imbróglio entre empresas de telecom e o consórcio responsável pelo projeto de dessalinização de água do mar se arrasta, pelo menos, desde o ano passado, justamente porque a Praia do Futuro é ponto de chegada de 17 desses cabos submarinos, fazendo da capital cearense o principal hub de conexão digital do Brasil e um dos três maiores do mundo.

A SPE Águas de Fortaleza e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) são parceiras na construção da usina.

“Isso aí vai acabar com a internet e se isso ocorrer o Brasil vai parar, o sistema financeiro, o sistema de saúde, etc. Porque em três locais que têm a sobreposição dos cabos com a usina pode haver uma queda na internet e como foi dito (por palestrante que citou o tempo necessário para fazer manutenção em um cabo danificado no Rio de Janeiro), vai ser no mínimo 50 dias para arrumar”, disparou Andrade, ao criticar a terceira versão do projeto da usina de dessalinização.

Na primeira versão do projeto, foi constatada, após análise da carta náutica da região, uma sobreposição de cabos com pontos de captação e dispersão de água marítima.

A segunda deslocou esses dois pontos em cerca de 40 metros, mas foi contestada pela Anatel. A versão atual do projeto prevê um afastamento maior, de 500 metros, já no limite entre a Praia do Futuro e o bairro Vicente Pinzon.

Contudo, nas três plantas foi mantida a posição da usina propriamente dita, em terra, o que está sendo contestado agora pelas empresas do setor de telecomunicações.

Para o presidente da Cagece, Neuri Freitas, o temor de apagão digital é “totalmente descabido” e sem embasamento técnico.

“Não tem nem estudos para justificar isso, principalmente, porque nós já estamos no continente há décadas antes deles, com rede de água e esgoto cruzando ali a praia do Futuro. Nós temos rede de drenagem. Para se ter uma ideia, a Marquise (uma das empresas que compõem o consórcio) fez toda pavimentação e drenagem da (Avenida) Dioguinho e os cabos de fibra ótica já estavam lá e não teve nenhum problema”, argumentou.

Já o diretor presidente da SPE Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, destacou que a escolha do local de instalação da usina obedeceu a estudos aprofundados.

“Além disso, esse assunto foi fruto de audiências públicas e teve ampla divulgação da imprensa. A SPE venceu a licitação para construir a usina ali. Nós temos no programa, entre os parceiros, uma dessalinizadora de Israel, e ela sabe o que está sendo discutido sobre segurança das instalações”, ressaltou.

No dia 5 de outubro, está prevista uma reunião com o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) visando a emissão da Licenças Ambiental e da Licença Prévia para o empreendimento.

Ao correspondente de O POVO em Brasília, João Paulo Biage, o governador Elmano destacou, também na segunda-feira, 25, que "há um regramento internacional sobre o tema, estabelecendo que você deve ficar a 500 metros do primeiro cabo mais próximo. Onde a usina está sendo proposta a distância é maior". 

Também presente ao evento, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, disse que a Pasta vai dialogar com as partes envolvidas e com o governador. 

“Nós vamos conversar com as entidades que operam os cabos, com a Anatel, com a Superintendência do Patrimônio da União, com a Marinha, com a Cagece, discutindo para que a gente possa avançar com segurança na implantação da usina, preservando os cabos submarinos”. (Com Adriano Queiroz)

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