'Bundas': conheça a revista criada por Ziraldo em 1999

Ziraldo deixou seu legado em diversas outras áreas além da literatura. Em 1999, ele criou uma revista chamada "Bundas" com críticas e sátiras

Ziraldo morreu aos 91 anos nesse sábado, 6, e deixou seu legado na cultura brasileira por meio da sua longa trajetória nas artes. O cartunista também foi popular em outras áreas além da literatura.

Em 1999, demonstrando seu humor, o mineiro criou uma revista chamada "Bundas" como uma forma de parodiar os famosos que apareciam na revista "Caras".

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Com algumas características marcantes, “Bundas” tinha uma linguagem coloquial, irreverência, muitas charges e caricaturas. Confira curiosidades sobre a revista.

“Bundas” durante o governo do FHC

Enquanto a grande imprensa se esforçava para ilustrar a presidência de forma positiva, “Bundas” fazia o contrário. A publicação não era uma porta-voz do governo do momento e alfinetava Fernando Henrique Cardoso.

A revista foi lançada durante o mandato do FHC por autores remanescentes do Pasquim, o que explica as críticas e sátiras empregadas. "Bundas" chegou às bancas em 15 de junho de 1999, pela editora Pererê.

As vozes que apareciam nas páginas eram de nomes da imprensa periódica brasileira como Millôr Fernandes, o próprio Ziraldo, Jaguar, Luís Fernando Veríssimo, Claudio Paiva, Adão Iturrusgarai, Angeli, Laerte, Glauco, José Simão, entre outros.

Eles constituíam a revista que apresentava, por meio do humor, uma perspectiva diferente daquela trabalhada pela mídia tradicional. A revista "Bundas" se inspirou na imprensa alternativa para promover um conteúdo crítico, livre e independente.

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"Bundas: uma revista que é a cara do Brasil"

O nome da revista é referência direta a revista Caras que era um sucesso na época. Trechos da primeira edição explicam o motivo:

“Nada contra ‘Caras’ portanto. Pelo contrário, nos vemos como um complemento de ‘Caras’ na tarefa de oferecer um retrato mais arredondado da multifacetada realidade brasileira. Vamos dar o outro lado”.

Entre os slogans, alguns se destacaram como: "Quem mostrou a bunda em ‘Caras’ não mostrará a cara em "Bundas'" e o principal: "Uma revista que é a cara do Brasil".

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Semanal, a revista contava com entrevistas. O primeiro entrevistado foi o então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, que tinha 102 anos de idade.

"Bundas": os slogans da revista

Em entrevista para a Folha de S. Paulo sobre o lançamento da publicação, Ziraldo desfiou os slogans da nova revista. "Quem mostrou a bunda em 'Caras' não mostrará a cara em 'Bundas'", disse. Ou: "'Bundas': não vá para o banheiro sem ela". E o principal: "Uma revista que é a cara do Brasil".

O lançamento da revista "Bundas" foi em 31 de maio de 1999, às 19h30min, na churrascaria Mariu's de Ipanema, no Rio de Janeiro.

"O título é evidentemente irônico. Mas, sem dúvida, uma das maiores atrações será a eleição do "Bundão da Semana", em votação democrática", afirmou o cartunista.

Ziraldo disse ainda que "a "Bundas" será uma revista contra a política sórdida que ele está exercendo e contra uma parte da sociedade que perdeu o pudor".

Por "sociedade", ele se referia aos personagens das páginas da revista "Caras", que mostram suas casas, cozinhas e banheiros ao País semanalmente. "O problema do Brasil não é de invasão, mas de evasão de privacidade. Todo mundo está se exibindo", criticou Ziraldo à Folha.

“Bundas”: falta de recursos marcou o fim do periódico

O material também tinha entrevistas realizadas por colaboradores variados. O conteúdo era formado também por artigos de temas como salão de humor, estrangeirismo na língua brasileira, identidade cultural, etc.

O dinheiro para colocar "Bundas" nas bancas veio, depois de muita procura, de um investidor do Paraná, Gilberto Camargo. Em entrevista para a Folha de São Paulo em 1999, Ziraldo contou que não havia intenção de retorno financeiro.

"Ele acha que não vai dar lucro, mas quer se divertir, como eu. Ninguém aqui quer ganhar dinheiro com "Bundas'", afirmou.

A revista despertou curiosidades dos leitores e começou vendendo bem, mas o nome estampado na capa afastou anunciantes e publicitários. Esse foi um dos motivos da revista chegar ao fim em menos de 2 anos, em 2001, segundo o Catálogo de Periódicos da Unesp. (Colaborou Marcela Tosi)

Com informações da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da USP – ECA/USP

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