Estudo brasileiro analisa casos de AVC ligados à doença de Chagas

Realizada entre 2009 e 2016, pesquisa descobriu que fatores como idade e hipertensão aumentam risco de derrame em pacientes com doença de Chagas

Uma pesquisa realizada por cientistas de diversos estados brasileiros descobriu uma série de fatores que aumentam as chances de um acidente vascular cerebral (AVC) em pacientes com doença de Chagas. O estudo foi publicado na revista científica Cerebrovascular Diseases no último dia 16.

O artigo foi escrito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade de Pernambuco (UPE). Nele, foram relatados casos de 499 pacientes diagnosticados com doença de Chagas que, durante o período de acompanhamento — entre 2009 e 2016 —, tiveram pelo menos um AVC.

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Os cientistas coletaram dados demográficos, como idade e gênero; médicos, como existência de diagnóstico de hipertensão, diabetes ou colesterol alto; e de hábitos, como tabagismo e consumo de álcool. Também foram analisados casos de recorrência — quando uma pessoa sofre derrame mais de uma vez ao longo da vida.

Fatores de risco para AVC em pacientes com doença de Chagas

O principal elemento de ligação entre a doença de Chagas e o AVC, segundo o estudo, é a hipertensão. Das pessoas analisadas, 81% foram diagnosticadas com a enfermidade. Também são fatores de alto risco o colesterol alto, presente em 56% dos pacientes; o tabagismo, com prevalência de 38%; e o alcoolismo, existente em 35% dos casos.

Embora em menor grau, o diabetes também pode influenciar na ocorrência de derrames em pessoas com doença de Chagas: 25% dos pacientes tinha esta comorbidade. Um fator que aparentemente tem pouca influência é a obesidade, presente em apenas 6% dos registros.

Doença de Chagas leva a maior recorrência de derrames

Os cientistas também descobriram que a doença de Chagas aumenta as chances de que o paciente tenha mais que um derrame. Na população em geral, o índice de recorrência é de aproximadamente 20% em dez anos após o primeiro episódio. No grupo analisado, porém, em sete anos, 29,6% das pessoas sofreu pelo menos um AVC além do inicial.

Segundo a pesquisa, o sexo pode ser um fator de risco para a recorrência do AVC em pacientes com doença de Chagas. No grupo estudado, a chance de ter mais de um derrame foi 83,7% maior em mulheres.

A chance, porém, pode ser reduzida com o uso de medicamentos, de acordo com a pesquisa. Remédios anticoagulantes e antiplaquetários levaram a uma redução de, respectivamente, 77,9% e 82,3% na recorrência de derrames. No entanto, os cientistas pontuaram que este efeito pode ser limitado apenas a determinados grupos.

Atualmente, a orientação é que seja receitado o uso de anticoagulantes a qualquer paciente com doença de Chagas que tenha sofrido um derrame. O estudo sugere que, considerando os efeitos colaterais do uso deste tipo de remédio de forma vitalícia, pode haver a necessidade de recomendar o uso destes remédios apenas a quem tenha sofrido o chamado AVC isquêmico cardioembólico.

Na população geral, este tipo de derrame corresponde a cerca de 12% do total de casos. Entre os participantes do estudo, porém, ele foi quase cinco vezes mais comum: 57% dos pacientes sofreu — ou há evidências de que tenha sofrido, mas sem confirmação — um AVC isquêmico cardioembólico. Ainda assim, 43% dos pacientes não seria beneficiado pelo uso de anticoagulantes.

Na conclusão do estudo, os cientistas indicaram a necessidade de mais pesquisas relacionando os dois temas. Para eles, é preciso ampliar a compreensão sobre como a doença de Chagas se relaciona a um risco elevado de derrames, destacando a alta recorrência de AVCs neste grupo.

Eles também destacam o grande número de derrames cujas causas não são totalmente conhecidas. Chamado AVC embólico de origem indeterminada, este tipo atinge 56% dos pacientes. Em alguns casos, a fonte chega a ser considerada cardíaca, mas também indeterminada, pela falta de dados suficientes. Para os cientistas, é necessário elaborar estratégias para tornar o diagnóstico deste grupo mais preciso.

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