Casa é atingida por agrotóxicos em Quixeré e famílias precisam deixar imóvel
Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado na Delegacia de Quixeré após moradores do território denunciaram terem sido alvos de uma série de exposições a agrotóxicos
Um imóvel atingido por agrotóxicos precisou ser evacuado e isolado no distrito de Lagoa Seca, em Quixeré, localizado a 186,32 km de Fortaleza.
A medida foi adotada após reunião da Prefeitura com representantes da Defesa Civil do Ceará e do Município, dos Bombeiros Militares de Limoeiro do Norte, e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente e Infraestrutura, realizada nessa quarta-feira, 27.
Na semana passada, um Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado na Delegacia de Quixeré após moradores do território denunciaram terem sido alvos de uma série de exposições a agrotóxicos.
Polícia investiga "despejo de agrotóxicos" sobre famílias de Quixeré; ENTENDA
Conforme análise realizada pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), o material despejado na região, no dia 19 de agosto, foi identificado como sendo a substância química Terbufós, do grupo dos compostos organofosforados, um agrotóxico altamente tóxico usado para o controle de vermes, besouros e outras pragas agrícolas.
A área da residência foi isolada com fita zebrada e a família foi orientada a não entrar no local por pelo menos três dias, a fim de evitar contato com os materiais molhados durante a descontaminação. A orientação prevê impedir riscos de intoxicação.
A família também foi instruída a procurar o serviço de saúde em caso de sinais de intoxicação como náuseas, vômitos, tonturas ou irritação na pele.
De acordo com os Bombeiros, equipes foram acionadas via comando geral e, ao chegarem em Limoeiro, a guarnição seguiu para Quixeré.
Lá, juntamente com o prefeito, Antônio Joaquim, participaram de uma reunião remota com a Secretaria da Saúde (Sesa), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) e uma representante da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, onde foram traçadas estratégias para atendimento à ocorrência.
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Após examinar a ficha do produto, concluiu-se que uma das formas para as equipes realizarem o recolhimento do material seria despejando os grânulos retidos nas telhas diretamente em embalagens plásticas apropriadas.
Segundo os Bombeiros, a Adagri se comprometeu a articular com o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) o transporte e descarte adequado do produto.
Coleta do produto exigiu equipamentos de proteção, descontaminação e isolamento da área
Devido à toxicidade do produto, a equipe que trabalhou na coleta do material precisou utilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) completo, incluindo luvas nitrílicas, máscara com filtro para vapores orgânicos e óculos de proteção. O objetivo foi evitar qualquer contato direto com o produto.
A coleta do agrotóxico encontrado no telhado da residência foi realizada de forma cuidadosa e durou cerca de três horas de trabalho, tendo sido recolhido aproximadamente 1,5kg de produto.
A substância foi acondicionada em saco plástico reforçado, devidamente identificado como “Resíduo Perigoso – Agrotóxico”, e entregue ao Inpev, órgão habilitado para o correto descarte de resíduos perigosos.
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Após o recolhimento, foi utilizado jato de água com sabão neutro diluído para a limpeza dos locais afetados pelos resíduos tóxicos, garantindo a descontaminação da área atingida.
As telhas contaminadas com o produto foram quebradas, descartadas ao chão e descontaminadas. A Prefeitura se comprometeu a doar telhas novas para a família.
Ao fim da ocorrência, realizou-se a descontaminação dos militares que atuaram na resposta. Para esse procedimento, utilizou-se água e sabão neutro em toda a superfície corporal, seguido de enxágue com água.
Escada, capacetes e óculos utilizados pela equipe também foram descontaminados, seguindo o mesmo procedimento, e as luvas, colocadas em embalagens para descarte junto com o produto recolhido.
Famílias denunciam despejo de agrotóxicos e intoxicação
No dia 27 de julho, agrotóxicos foram espalhados entre duas lombadas de uma estrada local, deixando um forte cheiro na área e a intoxicação de crianças. Mesmo com reclamações, a limpeza da região ainda levou quase uma semana. Segundo o relato das famílias, as contaminações acontecem há vários meses, tendo inclusive levado uma criança a procurar ajuda médica.
Menos de um mês depois, um laudo da Pefoce identificou que o material despejado no dia 19 de agosto sobre áreas comuns e uma residência de uma comunidade de Quixeré, no Vale do Jaguaribe, tratava-se de um inseticida e nematicida organofosforado o material despejado em 19 de agosto, o Terbufós. A Polícia Civil abriu investigação para apurar detalhes.
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O composto químico Terbufós é utilizado para controle de vermes, besouros e outras pragas agrícolas. Apesar de ter comercialização permitida no Brasil, o produto tem uso proibido em países da União Europeia e possui classificação IA (extremamente perigoso) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).