Mutirão reforça combate à APLV no Ceará e atende 200 crianças no Hias

Mutirão reforça combate à APLV no Ceará e atende 200 crianças no Hias

Mutirão no Hospital Infantil Albert Sabin atende 200 crianças com APLV e amplia acesso a diagnóstico, fórmulas especiais e exames no Ceará

O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), em Fortaleza, foi palco neste sábado,5, de um importante avanço no enfrentamento à Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) no Ceará.

O mutirão, realizado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), atendeu 200 crianças previamente agendadas, cem da capital e cem do interior, em mais uma edição do Programa APLV, criado para garantir diagnóstico, acompanhamento especializado e fornecimento gratuito da fórmula alimentar às crianças com a condição.

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Entenda o que é a APLV

A APLV é uma reação imunológica à proteína do leite de vaca, comum nos primeiros anos de vida, que pode provocar sintomas como diarreia com sangue, vômitos, cólicas intensas, problemas de pele e até dificuldade no ganho de peso.

Em casos mais sensíveis, até mesmo o leite materno pode causar reações, quando a mãe consome derivados do leite na dieta.

Durante o mutirão, as crianças passaram por triagem de enfermagem, consultas médicas, avaliação nutricional e receberam as fórmulas especiais. O evento mobilizou 22 profissionais de saúde, entre médicos, nutricionistas, gastroenterologistas, alergologistas e enfermeiros.

A secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, que acompanhou a ação, reforçou a importância da iniciativa: 

“Hoje temos cerca de 3 mil crianças em acompanhamento pelo programa. Os mutirões são estratégicos para reduzir o tempo de espera. Estamos cuidando não só da criança, mas de toda a família que lida com essa condição delicada”.

Ela também anunciou avanços significativos: “Estamos retomando o teste de provocação oral, essencial para confirmar o diagnóstico com segurança. Também voltamos a ofertar exames como o prick test e as dosagens de IgE, para facilitar a identificação precisa dos casos. Isso mostra o fortalecimento do programa”.

Ação no Cariri

Outro destaque foi o início da descentralização da entrega das fórmulas alimentares, com início na região do Cariri, por meio de uma parceria com os Correios.

“Queremos evitar que famílias do interior precisem se deslocar todos os meses até Fortaleza para buscar a fórmula. No Cariri, ela será entregue em casa. Essa logística será ampliada para outras regiões do Estado”, afirmou a secretária.

Além disso, a Sesa prevê a criação de novos centros regionais especializados: “Nosso objetivo é montar serviços completos, com equipe multiprofissional, começando pelo Cariri. Queremos que as famílias tenham acesso ao atendimento próximo de casa, sem depender exclusivamente da capital”, completou.

O Governo do Ceará destinou R$ 231 mil para esta edição do mutirão e prevê um investimento de mais de R$ 23,9 milhões no programa em 2025. Atualmente, são distribuídas, em média, mais de 22 mil latas de fórmula por mês — um custo aproximado de R$ 2,5 milhões mensais.

Programa estruturado e em expansão:

A coordenadora estadual do Programa APLV, Aline Lacerda, destacou que o crescimento da demanda exige respostas rápidas e eficientes.

“Hoje atendemos crianças de todos os 184 municípios do estado e 136 postos de Fortaleza. Só neste mutirão conseguimos ofertar 200 vagas, mas ainda temos cerca de 500 crianças na fila”.

Segundo Aline, o principal desafio é a abrangência: “Não é uma criança por município, são muitas. Nosso esforço é garantir atendimento especializado, inclusive onde não há alergistas ou gastroenterologistas”.

Ela também comemorou os avanços recentes na estrutura do programa: “Voltamos a fazer o teste de provocação oral, que é o padrão-ouro para saber se a criança ainda precisa da fórmula. É realizado com segurança em ambiente hospitalar, porque algumas reações podem ser graves. Também ampliamos a equipe, com psicólogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais”.

“O mutirão é uma oportunidade de acolhimento completo: avaliação clínica, nutricional e entrega da fórmula. Esse é um alimento essencial para crianças de até três anos. Para os bebês com menos de seis meses, é a única fonte nutricional. Por isso, essa ação tem impacto direto no desenvolvimento saudável da criança”, concluiu.

Relatos de mães mostram o impacto do programa

Angélica de Sá Barbosa, de Ubajara, descobriu a APLV do filho Lucas Rafael aos 40 dias de vida: “Foi muito difícil no início. Era tudo incerto, eu sentia medo o tempo inteiro. Só conseguimos a fórmula com ajuda de quem já estava no programa. Cada lata custava mais de R$ 300 e durava só quatro dias”.

Agora, com o acompanhamento, ela se sente aliviada: “Ser atendida aqui me deu esperança. É um programa essencial, principalmente para famílias carentes. Mudou nossa vida”.

Maria José Santana, de Mauriti, a 477 km de Fortaleza, é mãe da pequena Mariana, de 9 meses. Ela enfrentou angústia até o diagnóstico.

“Era muita diarreia com sangue. Tive que retirar tudo com leite da minha dieta. A fórmula era caríssima, R$ 300 por lata. Comprávamos com muito sacrifício”.

“Desde que veio o diagnóstico, retirei totalmente o leite da minha dieta. Até hoje sigo firme, porque tudo o que eu como passa para ela pelo leite materno. Foi um choque no início, mas fui atrás de informação e me adaptei”, conta Maria José, que chegou ao local de atendimento às cinco da manhã.

“Quando saio com minha filha, levo tudo pronto. Pergunto os ingredientes de tudo que vou comer, porque qualquer contaminação pode fazer mal pra ela. É uma rotina cheia de cuidados”, explica.

Custo emocional e financeiro

Luiz Eduardo e Jaqueline, pais de Benjamin, de Aquiraz, relataram os impactos financeiros e emocionais da doença:

“O Benjamin foi diagnosticado com APLV não mediada aos cinco meses. No início, os exames davam negativos, e só conseguimos confirmar depois de muitos sintomas e descartes. Ele tinha diarreia com sangue, gases e não ganhava peso”, conta Luiz Eduardo.

“Depois da vacina de quatro meses, tudo piorou. Ele começou a ter vômitos e diarreia intensa. Chegamos a ir para a emergência e, quando apareceu sangue nas fezes, buscamos um diagnóstico mais preciso”, lembra Jaqueline Passos.

“Antes do diagnóstico, eu consumia leite normalmente e amamentava. A gente nem imaginava que isso podia estar prejudicando ele. Foi um susto, algo que parecia distante da nossa realidade”.

“A fórmula especial custava mais de R$ 2 mil por mês. Cortamos gastos básicos da casa e, mesmo assim, mal dava. Era só eu e ela, sem ajuda de ninguém”, relata Luiz Eduardo.

“Agora, com o apoio do programa, nossa expectativa é que tudo melhore. Vai impactar muito nossa vida, principalmente na alimentação do Benjamin, que estava sendo comprometida”, diz Jaqueline, aliviada.

“Foi nossa primeira vez aqui. Viemos de Aquiraz. O atendimento foi ótimo, muito bem organizado. Fomos acolhidos com respeito e saímos esperançosos”, afirma Luiz Eduardo.

Cuidado constante e esperança

A jovem mãe Brenna Viana, de Maracanaú, compartilhou as dificuldades para manter a dieta e evitar contaminações:

“Descobrimos a APLV há cerca de dois meses, depois de muita diarreia severa, desconforto abdominal e crises de cólica. O diagnóstico definitivo só veio há cerca de um mês”, relata Brenna, mãe de Gael, de 9 meses.

“A alimentação dele tem um custo muito alto. São cerca de R$ 200 por semana só com alimentos permitidos. A fórmula especial ainda não conseguimos, mas estamos aguardando. Quando chegar, vai ajudar bastante”.

“Com a fórmula, vou poder me ausentar mais. Hoje ele depende muito de mim, porque precisa do leite materno e de cuidados especiais. Qualquer traço de leite pode causar reação”.

“Às vezes, em lugares públicos, as pessoas oferecem alimentos achando que ‘é só um pouquinho’, mas isso faz mal. Sempre digo: não ofereça comida a um bebê que não é seu, mesmo que pareça inofensivo”.

“A gente pensa muito no futuro. Meu maior medo é quando ele começar a comer sozinho, por prazer, sem entender os riscos. Nosso foco é garantir que ele tenha qualidade de vida”.

“O atendimento aqui hoje foi muito bom. Fomos bem acolhidos, está tudo bem organizado. Isso nos dá mais segurança, principalmente quando lidamos com algo tão sensível”.

“Esse projeto do leite é essencial. A fórmula custa R$ 300 a lata, com apenas 400g. É um custo altíssimo para qualquer família, e esse apoio faz toda a diferença”, finaliza Brenna.

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