Frei Hermínio Bezerra de Oliveira morre aos 78 anos em Fortaleza

Frei fazia parte da comunidade formativa do Seminário Seráfico, em Messejana, e tinha 59 anos de vida religiosa

Morreu na manhã desta quarta-feira, 22, o frei Hermínio Bezerra de Oliveira, aos 78 anos de idade. A informação foi confirmada pela Arquidiocese de Fortaleza. O religioso fazia parte da comunidade formativa do Seminário Seráfico, no bairro Messejana. Ele tinha 59 anos de vida religiosa. 

Frei Hermínio teve paradas cardíacas no dia 21 de abril, quando foi internado em estado grave no Hospital Regional Unimed, na capital cearense.

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Nascido no dia 13 de maio de 1945, no município de Independência, frei Hermínio era o terceiro filho do casal Miguel Fernandes de Oliveira e Luíza Bezerra de Oliveira.

Segundo a Arquidiocese, o religioso fez os primeiros votos na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em dezembro de 1964 e professou os votos solenes em dezembro de 1967. Foi ordenado presbítero em Fortaleza no dia 13 de janeiro de 1973.

O velório do frei Hermínio será realizado na capela Senhora do Brasil do Seminário Seráfico de Messejana, a partir das horas desta quinta-feira, 23.

Já o sepultamento está marcado para acontecer no cemitério São João Batista, a previsão é que o corpo seja levado ao local às 15 horas.

Quem foi frei Hermínio

"Um homem culto e solícito”, esses são alguns dos adjetivos utilizados pelo frei Janderson, da Fraternidade do Seminário Seráfico, para definir Hermínio, que, segundo ele, era considerado pelos frades uma pessoa prestativa, apesar da idade e limitações.

“Ele sempre foi um homem solícito quando procurado para atender confissões”, seguiu. “Eu sempre o via fazendo um ritual no dia a dia, como é a nossa vida. Todos os dias ele estava junto à fraternidade, nas refeições, muito antenado ao que acontecia, pois ele, todos os dias estava lendo o jornal”.

Apesar de ter nascido em Quiterianópolis, Hermínio, cujo nome de batismo é Afonso Bezerra de Oliveira, possuía raízes em Crateús, onde descobriu a paixão pelas letras. O frei é o terceiro filho de Miguel Fernandes de Oliveira e Luíza Bezerra de Oliveira. O casal teve 16 filhos, dos quais 10 nasceram no Estado do Ceará.

Em junho de 1958 a família migrou para Goiânia, contudo, Hermínio ficou no Ceará. O motivo da viagem foi a seca, que fez com que um terço da população do Nordeste saísse da região para o restante do Brasil.

Conforme relata o irmão de Hermínio, Zacharias Bezerra, a ida da família para Goiânia se deu após o pai comprar um pau de arara, uma carroceria adaptada em um caminhão, comumente utilizada no interior do Nordeste.

“Meu pai comprou o caminhão após vender a bodega que possuía no mercado de Crateús. Em Goiânia nasceram duas filhas e, depois que fomos à Brasília, nasceram três meninos”, explica.

Enquanto a família estava tentando melhores condições de vida em outro estado, Hermínio permaneceu no Ceará e foi para o seminário Seráfico. Lá, conheceu outro jovem vindo o interior, conhecido à época como frei Sobral, Antonio Carlos Gomes Belchior, que despontaria, anos mais tarde, como um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira.

Trajetória Acadêmica e religiosa

Em 1975, frei Hermínio cursou psicologia na Universidade Federal da Bahia para iniciar uma caminhada missionária. Atuou como professor de Psicologia na Fafifor entre os anos de 1977 a 1980. Posteriormente, entre 1981 e 1983, fez um Mestrado em Psicologia pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica.

Ao voltar para o Brasil, exerceu magistério no Seminário Maior de Teresina e no Seminário da Prainha, em Fortaleza.

Também obteve um certificado Especial em Patrística Grega pela Universidade de Friburgo, Suíça.

Hermínio foi membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e da Academia Cearense da Língua Portuguesa. Além disso, representou o Brasil em dois Encontros de Estudiosos da Ordem Capuchinha , em Roma, nos anos de 1985 e 1990. Atuou como ministro provincial dos Frades Capuchinhos do Ceará e Piauí, de 2001 a 2003.

Morou em Roma entre os anos de 2007 e 2013 com o intuito de exercer a função de tradutor e secretário da língua portuguesa, na Cúria Geral dos Frades Capuchinhos.

Ao retornar ao Brasil, em 2013, passou a residir na Fraternidade do Seminário Seráfico, em Messejana, onde atuou como diretor do Colégio Seráfico e, nos últimos anos, como confessor e colaborador na formação do pós-noviciado.

Em 2019, Hermínio concedeu uma entrevista ao portal de notícias da Universidade Federal de Piauí (UFPI), que a palestra que o frei iria ministrar naquele período. Na ocasião, ele mencionou a importância de saber a origem das palavras e afirmou que, “se você souber a origem das palavras, a história, quando elas mudaram, palavras que apareceram recentemente, por exemplo, você pode empregar melhor".

Contribuições e Produções

Na década de 1990, Hermínio passou a assinar a coluna ‘O sentido das Palavras’ no O POVO. A publicação, cuja periodicidade era a cada 15 dias, trazia o significado das palavras e o contexto histórico do uso de diferentes palavras.

A paixão pelas palavras resultou na produção de um livro intitulado “Acordo Ortográfico: Vocabulário das Palavras Modificadas”, produzido por Hermínio e seu irmão, Zacharias Bezerra. O manuscrito mostra as dificuldades e pontos obscuros do Acordo que entrou em vigor no Brasil em 2013, bem como as palavras e expressões que não foram contempladas no Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa.

Ao longo de sua trajetória, aprendeu 14 idiomas os quais dominava com fluidez e facilidade.

A vida e morte de frei Hermínio

Frei Janderson chegou à Fraternidade do Seminário Seráfico em janeiro de 2023 e, nessa época, frei Hermínio já residia no local e já estava enfrentando uma fase difícil em relação à sua saúde.
Ele acrescenta que o frei estava levando um estilo de vida mais recluso em decorrência de um problema crônico que afetava a região das pernas.

“Ele estava num estilo de vida mais pastoral, menos ativo, devido à idade avançada, aos 77 anos, quando cheguei aqui e à enfermidade nas pernas”, disse.

Apesar disso, Janderson relembra os bons momentos ao lado de Hermínio que, segundo ele, foi um homem dedicado a servir os outros.

“Eu tenho essa lembrança do frei Hermínio como um irmão que se dedicou tanto ao estilo de vida intelectual, estilo culto, mas ao mesmo tempo, um irmão simples, apesar de ser um homem extremamente inteligente, culto, nunca vi o frei esbanjando soberba em virtude da inteligência que tinha”, relembrou.

Em abril deste ano, aos 78 anos de idade e 59 de vida religiosa, Hermínio teve paradas cardíacas e foi internado em estado grave, permanecendo inconsciente sob os cuidados médicos no Hospital Regional Unimed, em Fortaleza. Nesta quarta-feira, 22, o frei não resistiu e faleceu na unidade hospitalar.

Atualizada às 18 horas

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