10 alunos que haviam abandonado escola em Fortaleza retornam às aulas após trabalho de monitores

No colégio Liceu Estadual Professor Domingos Brasileiro, em Fortaleza, dez alunos foram reintegrados em um intervalo de apenas três dias

Além da imunização em massa, pequenas atitudes podem fazer a diferença no processo de retomada. É o caso do Projeto Aluno Monitor da Busca Ativa Escolar, implementado pelo Governo do Ceará nas escolas estaduais.

"Eu estudo e sou monitora na escola Liceu Estadual Professor Domingos Brasileiro. Ajudo as pessoas a voltarem para esse meio escolar, estamos tentando aconselhar e encontrar maneiras para que esses alunos voltem para a escola", explica Laryssa Santos do Nascimento, 15.

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A estudante do 1º ano do ensino médio é uma das participantes do Projeto, que oferta três mil bolsas para que alunos do ensino médio atuem como monitores. O objetivo é fazer com que a relação entre os jovens facilite o contato da escola com aqueles alunos que se afastaram durante a pandemia.

O Projeto, que teve início nos primeiros dias do mês de setembro, já começa a render frutos. Em apenas três dias, os jovens monitores do Liceu já conseguiram "resgatar" dez alunos que haviam se afastado do ambiente escolar.

Questionada sobre as motivações que a levaram a participar do projeto, a jovem Laryssa demonstra preocupação em fazer parte de uma sociedade melhor no futuro.

"Se a gente não resgata essas pessoas, qual vai ser o nosso futuro? Eles são o futuro de amanhã. Então, nós que somos monitores nos sentimos muito lisonjeados em resgatar um único aluno que seja", destaca.

A estudante diz reconhecer todas as dificuldades dos colegas que se afastaram do ambiente escolar durante a pandemia. Apesar de avaliar a missão como árdua, ela acredita que todo o trabalho é recompensado quando se obtém sucesso.

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"É como resgatar alguém de uma guerra. A pandemia é uma guerra, estamos lutando todos os dias contra isso. Muitas pessoas estão sofrendo psicologicamente, quando a gente consegue trazer um aluno e ainda recebe o agradecimento dele, nos sentimos muito bem", ressalta.

Denise Pinheiro, diretora do Liceu Estadual Professor Domingos Brasileiro, classifica o trabalho dos monitores como "fora de série". Ela acredita que o rápido sucesso do Programa na escola se deve ao fato de o colégio já possuir um histórico de busca ativa, além do engajamento dos monitores selecionados.

"Já fazíamos esse trabalho, só fizemos sistematizar. Quando eu ou uma coordenadora ligávamos para um aluno que se afastou, não surtia tanto efeito. Já entre os alunos, não sei qual foi a mágica, talvez o mesmo linguajar, mas eles conseguiram dez alunos muito rápido", comenta Denise.

A diretora se diz surpresa com tamanho engajamento e disposição dos alunos que foram selecionados como monitores do projeto. Para ela, sem dúvida, a dedicação dos jovens tem sido uma parte fundamental.

"A nossa surpresa é o envolvimento dos alunos, a solidariedade, a empatia, isso aí foi muito forte por parte dos monitores. Eles falam: 'Não se preocupe, você pode contar comigo', 'Você vai voltar, e eu vou te ajudar'. Parte do sucesso vem dessa dedicação", afirma.

O contato entre os jovens é feito por meio de uma ligação para o próprio colega que se afastou ou para algum outro familiar. Os monitores buscam entender o problema e procuram achar uma solução em conjunto para que o jovem possa voltar ao ambiente escolar.

Projeto Aluno Monitor da Busca Ativa Escolar garante três mil bolsas para que alunos do ensino médio atuem como monitores
Projeto Aluno Monitor da Busca Ativa Escolar garante três mil bolsas para que alunos do ensino médio atuem como monitores (Foto: Reprodução/ Seduc)

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A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Johnson, localizada no bairro Luciano Cavalcante, é mais um colégio a pôr os planos do Programa em prática. O trabalho prático de busca ativa, por meio de contato telefônico ou pelas redes sociais, foi iniciado nesta semana na unidade. A expectativa é conseguir um resultado tão bom quanto o apresentado pelo Liceu.

"Nós já fizemos as reuniões, alguns estudantes já pegaram a lista de alunos para contatar. Esta semana já vamos estar em campo mesmo. Nosso nível de evasão foi muito baixo, graças a Deus, nós tivemos apenas de 10% a 12% de evasão entre os estudantes, temos um total de 560 alunos", explica a diretora Vanessa Grip.

A gestora da unidade escolar do bairro Luciano Cavalcante explica que, além de buscar atender os jovens que se afastaram do colégio, a instituição toma todos os cuidados com os monitores selecionados.

"As ações sempre serão realizadas em horário que os nossos estudantes não estejam em sala de aula, sem sobrecarregar o aluno para que isso não atrapalhe os estudos dele", explica.

Um dos selecionados na escola Johnson é o estudante Phelipe Ribeiro, 16. O jovem fala sobre a sua felicidade em participar do projeto. "Eu 'tô' com muita expectativa de conseguir trazer pessoas que se afastaram, queria ter essa realização. Existem pessoas que eram bons alunos no presencial, mas acabaram se afastando na pandemia", comenta.

Phelipe se coloca à disposição para ajudar os companheiros diante de qualquer dificuldade que venha a ser apresentada pelos seus colegas de escola.

"Vamos conversar e saber quais são as dificuldades. Ajudar da maneira mais fácil possível. Caso ela tenha dificuldade de usar a plataforma, enviamos um tutorial. Também podemos oferecer um reforço para quem tem dificuldade com o conteúdo", finaliza.

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Bolsa estimula sonhos

Os jovens selecionados para serem monitores do Projeto Aluno Monitor da Busca Ativa Escolar farão parte do programa durante quatro meses, período que corresponde ao restante do ano letivo em 2021.

Durante o período, mensalmente, os monitores receberão uma bolsa no valor de R$ 200. O valor pago é uma forma de incentivar o engajamento para a realização de reuniões, planejamento e articulação de estratégias para buscar aquele jovem que se afastou da escola.

Entre as três mil bolsistas selecionadas pelo Estado, está Laryssa Santos do Nascimento, 15. Ela conta que já possui planos de como irá gastar o valor recebido.

"Eu pretendo guardar esse dinheiro para montar o meu estúdio de maquiagem, 'tô' querendo comprar um curso de inglês e outro de espanhol", relata a estudante.

Phelipe Ribeiro, 16, não pensa diferente. O jovem também pretende investir o dinheiro em formas que o façam adquirir mais conhecimento.

"Vai me ajudar a alcançar alguns objetivos. Tenho uma coleção de livros, gosto bastante de ler, pode me ajudar a comprar mais livros para cada vez ganhar mais conhecimento e ajudar mais pessoas", complementa.

De acordo com a Secretaria da Educação do Governo do Estado do Ceará (Seduc), os monitores são incorporados ao trabalho já desenvolvido, que conta com a iniciativa dos quase 5.400 Professores Diretor de Turma (PPDT). Além de contar com psicólogos educacionais, educadores sociais do protagonismo e integrantes do Grupos Cooperativos de Apoio à Escola (GCAPE).

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