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Cientistas produzem anticorpo contra o câncer em leite de cabras transgênicas em Fortaleza

Pesquisadores da Unifor criam clones de cabras geneticamente modificadas com código genético do anticorpo humano; custo de produção é mais barato que importar o medicamento atual, que custa R$ 7 mil por frasco
16:00 | Nov. 26, 2020
Autor Catalina Leite
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Catalina Leite Repórter do OP+
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Tipo Notícia

Quando a cabra Gluca nasceu, em 2014, ela virou um marco para a América Latina. Foi a primeira cabrinha transgênica latina clonada por meio de células geneticamente modificadas. Ela foi produzida pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e, um ano depois, foi acompanhada de Beta, clone de Gluca. Em maio de 2020, nasceram os primeiros caprinos geneticamente modificados para a produção de um anticorpo que combate diversos tipos de câncer (pulmão, ovários e cólon).

Trabalhando com caprinos transgênicos desde 2010 para produção de biofármacos - aqueles feitos com microorganismos ou células modificadas -, a Unifor está há quatro anos focada na pesquisa para o anticorpo contra o câncer, o anti-VGEF. Mas por quê cabras? O doutor em biotecnologia Kaio Tavares, pesquisador do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) na Unifor, explica:

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“Os caprinos são bons produtores de leite, algumas raças produzem alguns litros de leite por dia. O tempo de gestação deles é de cinco meses, menor que em bovinos, o que facilita para a gente saber se os resultados são positivos ou não”, descreve o professor. A partir daí, tudo começa a fazer sentido: por dia, essas cabrinhas produzem anti-VEFG suficiente para tratar até 60 pacientes. Ou seja, é uma ótima alternativa de produção.

A pesquisa é uma maneira de reduzir os gastos do Brasil na importação do medicamento. No momento, o anti-VEGF é totalmente importado - e o biofármaco é caríssimo, com cada frasco de 400 mg custando até R$ 7 mil. Mas com os caprinos, o País pode vir a produzir nacionalmente 9,5 frascos a cada litro de leite diário.

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Resultados promissores

Ainda há muita pesquisa pela frente, mas os resultados atuais são promissores. O anticorpo das cabras cearenses já foi analisado no laboratório e em experimentos preliminares em camundongos com câncer de pulmão. Na ocasião, os roedores foram tratados com o anti-VEGF produzido no leite dos caprinos transgênicos e apresentaram redução significativa no tamanho dos tumores.

Isso se dá pela habilidade do anti-VEGF em inibir a vascularização de diferentes tipos de tumores, o que impede que eles tenham acesso a nutrientes para continuarem crescendo. Quem explica é o pesquisador Leonardo Tondello, também doutor em biotecnologia da Nubex.

Os estudos também resultaram na elaboração de um protocolo de purificação do leite, para obter o anticorpo na condição ideal para injeção. Se o processo for adequadamente realizado, a eficiência do tratamento fica acima de 70%, considerado alto. 

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No entanto, ainda é necessário fazer testes clínicos, em animais e em humanos, para avaliar com certeza a eficácia do biofármaco. Esses testes, assim como a produção em geral, demandam alto financiamento, algo difícil de conseguir, comenta o professor Kaio. De qualquer forma, o investimento é promissor, já que o custo de produção do anticorpo pelas cabras é mais baixo do que em outras plataformas.

O projeto é desenvolvido em parceria com a Fortgen Technologies, statup da Unifor, junto com a Universidad de Concepción, no Chile, e com o Centro de Biotecnologia y Biomedicina (CBB), empresa chilena.

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