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Ensino remoto na pandemia: alunos podem ser reprovados? Entenda como fica questão

Conselho Nacional de Ensino (CNE) recomenda que estudantes não sejam reprovados, mas cabe a instituições decidirem
09:05 | Out. 07, 2020
Autor Gabriela Almeida
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Gabriela Almeida Repórter O POVO
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Tipo Notícia

Com a chegada da pandemia no Ceará e o consequente isolamento social, determinado em março deste ano, muitas instituições de ensino adotaram o modelo de atividades remotas para que o ano letivo não fosse prejudicado. A decisão, no entanto, carrega questões como a desigualdade no acesso à informação e o quanto esse fator pode ser prejudicial ao aluno- principalmente no que diz respeito à forma como ele será avaliado.

Em busca de evitar um cenário negativo, como o de aumento da evasão escolar, o Conselho Nacional de Ensino (CNE) recomendou que instituições educativas do Brasil inteiro evitem a reprovação dos estudantes durante esse período de crise sanitária. A orientação foi dada há cerca de seis meses, servindo para órgãos de ensino públicos e privados.

Deve partir de cada instituição, contudo, tomar a decisão de seguir o conselho do órgão- não sendo o ato obrigatório. Caso sigam, podem ainda optar pela aprovação automática dos estudantes, modelo que indica a conclusão positiva do ano letivo para todos.

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Usar esse modelo como alternativa, porém, pode trazer à tona outra problemática. De acordo com Erlaine Cristina, 33, mãe das estudantes Queteli Maria, 14, e Maria Sophia, 6, o ensino por meio de atividades remotas tem sido "fraco" quando comparado ao presencial.

As filhas da cearense estudam em escola pública e seguem tendo aulas apenas virtualmente. "Elas já estavam bem capacitadas nas aulas presenciais e com essa queda no ensino eu percebi um interesse mínimo", comenta Erlaine.

Neusa Silva, mãe de um aluno do 9° ano, afirma que o filho já tinha dificuldades em acompanhar o ano letivo de forma presencial e que agora, remotamente, ele tem mostrado cada vez menos empenho. A dona de casa ainda destaca que teme pela reprovação do adolescente, de 15 anos.

Professora da rede municipal de ensino de Fortaleza, Mariana Cunha, 25, explica que "cada aluno tem um jeito diferente de aprender" e que ensino por meio de atividades remotas deixou isso "mais visível". A docente ainda garante que não recebeu orientações quanto à reprovação de alunos, mas destaca que o gesto pode "marcar negativamente" a vida do estudante.

O baixo rendimento e as dificuldades apresentadas por alunos devido ao período de pandemia podem tornar coerente a recomendação de não reprová-los. Por outro lado, se todos passarem automaticamente de ano, podem subir um nível educacional sem aproveitamento de conteúdo.

Possíveis saídas

 

Segundo Ada Pimentel, presidente do Conselho Estadual de Educação do Ceará (CEE- CE), cada instituição de ensino deve reunir seus representantes para elaborar métodos avaliativos e pensar em propostas de auxílio aos estudantes. A docente informa ainda que o órgão também segue discutindo um protocolo pedagógico adequado ao momento.

Entre as propostas analisadas pelo Conselho, está a do currículo contínuo. O método consiste em fazer com que o aluno encerre o ano letivo mas recupere todo conteúdo que teve dificuldade em aprender no ano seguinte, o que Ada classifica como ação "mais aconselhável" a ser tomada.

"Uma das instituições que receberam o maior impacto foi a escola. Para não desvincular o aluno da escola se criou as atividades remotas. (...) A tarefa do professor é recuperar o aluno, como pode deixar ele no meio do caminho?", questiona Ada.

Para evitar o processo de reprovação dos alunos, muitas instituições têm adotado ainda diretrizes que orientam a realização de avaliações mas "flexíveis". Esse é o caso da Universidade Federal do Ceará (UFC), que elaborou um Plano Pedagógico de Emergência (PPE), aprovado em julho pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da entidade estudantil.

O documento recomenda aos docentes dos cursos de graduação, de pós-graduação e das Casas de Cultura Estrangeira, optarem por avaliações formativas que estejam de acordo com as "características
das turmas e dos estudantes". Além disso, o professor deve "oferecer diversos tipos de avaliação flexíveis, e com tempo razoável para os alunos devolverem".

De acordo com Ana Paula de Medeiros, pró-reitora de Graduação da instituição, o plano ainda indica modelos de avaliações a serem seguidos. Entre elas: "portfólios, fóruns, lista de exercícios e testes, simulados ou estudos de caso, debates entre os alunos, resenhas, auto avaliações, prova escrita e questionários, quiz on-line etc".

Anular ano letivo é uma opção?

 

Para Ana, a desigualdade no acesso ao ensino, que tem prejudicado alunos durante a crise sanitária- "existe mesmo de forma presencial e não apenas no modelo remoto". A docente informou que a UFC optou, nesse sentido, por adotar medidas de inclusão social dos estudantes e não pela anulação do ano letivo.

"Fizemos o maior pacote de inclusão social de todos os tempos, incluindo chips, doação de equipamentos (...) Nós conseguimos suprir essa lacuna da dificuldade do acesso a internet e possibilitamos a formação dos professores, ofertando cursos formativos", garantiu.

A docente da rede municipal, Mariana Cunha, também é a favor de que atividades remotas continuem. Segundo a professora, as lacunas que podem ser provocadas pelo modelo remoto podem ser preenchidas no futuro, por meio de planejamento estratégico.

Na última semana, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), informou que seriam liberados 242 mil chips com pacote de dados para alunos e professores da rede municipal, após garantir retorno presencial das aulas apenas para 2021. Entrega de material busca fortalecer aprendizagem remota e evitar déficit na educação.

A rede privada de ensino segue sendo a única com retorno presencial permitido no Estado. Dando continuidade ao modelo remoto, instituições públicas de educação buscam estratégias para minimizar o impacto que a pandemia provocou no aprendizado de estudantes.


  

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